Sempre imaginei o que me mataria, era como um vício, quanto mais eu imaginava, mais atrativo parecia, melhor ficava, era como se fosse um combustível para a minha loucura.
Afogamento, asfixia, queimaduras, há inúmeras possibilidades, mas de longe, a última que eu pensei seria medo. No máximo um desmaio, mas nunca morte.
Mas lá estava eu, provando o contrário para mim mesma.
Medo. Era tudo que eu conseguia sentir, passando pela minha corrente sanguínea, como pequenos choques elétricos que me alertavam que eu não estava morta, ainda.
Lembre-se Evalyn, é tudo ciência. Uma troca de gases, o oxigênio entra, passa pelos alvéolos pulmonares e segue para todo meu corpo, da ponta dos pés até o cérebro, então sai como gás carbônico. É tudo química. Não tem ninguém aqui, ninguém vai te machucar.
" você sabe que tem "
A voz sussurrou, a parasita que, carinhosamente, apelidei de diabo. Ela vivia dentro de mim, me tentando, sendo a pior parte de mim mesma. Ela sussurrava palavras malditas.
" Que mal tem em ceder? "
" Vai ser rápido, você não vai nem sentir "
Ela dizia, sussurrava no meu ouvido, eu já estava chorando, não aguentava mais resistir. Eu vou ceder.
A mulher de preto apareceu e sorriu para mim, suas bochechas pingavam sangue, estavam cortadas mas ela ainda ria. Uma risada diabólica e fina.
- Me pergunto, quanto tempo mais você irá aguentar - ela disse, andando ao meu redor, passando suas unhas geladas nos meus braços descobertos - Nós duas sabemos que uma hora ou outra você vai ceder para mim, não há uma rota de fuga.
- NÃO - eu gritei com o resto de ar que ainda tinha.
E então, tudo voltou ao normal, o pesadelo acabou, ela não estava mais na minha frente, eu estava encolhida na sala de treinamento, o mais longe possível dos quartos, pra ninguém escutar meus gritos. Para esconder a vergonha que eu realmente era.
A sala de treinamento me parecia a única opção onde ninguém apareceria, o lugar para onde ir quando a realidade parecia assustadora demais, o lugar vazio onde ninguém me encontraria. E mesmo assim, o barulho da porta se abrindo alcançou minha audição.
Um ruído baixo soou pelo cômodo, sem perceber, um soluço escapou de minha garganta, eu estava chorando, e iria acabar machucando alguém. Como sempre. Mais uma morte para adicionar a lista.
- Tem alguém aí? - alguém disse, sua voz firme cortando o silêncio, me fazendo arrepiar.
Minha voz não saía, eu estava sentada em posição fetal, chorando que nem uma garotinha assustada. E tudo que eu conseguia fazer era apertar as unhas nas pernas para ver se a tensão se aliviava.
Ouvi os passos do desconhecido se aproximando e prendi a respiração, eu sentia sua energia, seu corpo movimentava se com sutileza.
Abaixei o rosto e tentei parar as vozes, mas todas falavam juntas, gritavam, imploravam para eu ceder, para terem o gostinho da vitória.
"MATE-O"
"Você só machuca as pessoas, sempre foi assim e sempre vai ser"
" Se você fosse boa, seus pais ainda estariam aqui"
Com todos os gritos esganiçados soando pela minha cabeça, eu voltei a chorar, o desconhecido estava na minha frente, eu sentia apesar de não ter tirado a cara dos joelhos.
As vozes ficaram mais altas, e o choro pareceu se intensificar. Senti que ele se abaixou na minha frente.
Seu toque hesitante em meus cabelos me fez estremecer, ele deslizou sua mão para a lateral do meu rosto, me fazendo olhar para ele.
E todas as vozes se calaram.
Seus olhos, eram azuis como o Mar, profundos, intensos, ele me olhava com dúvida e medo. Todos sempre faziam isso.
- Está tudo bem ? - o desconhecido perguntou, sua voz deslizava como uma deliciosa sinfonia. Mas dentre tudo, a única coisa que passava pela minha cabeça, mais do que a beleza exuberante do desconhecido, era as vozes que se calaram.
- Eu... Você.... Como? - perguntei, embasbacada demais para formular uma pergunta.
- O que...? - ele perguntou sem saber o que estava acontecendo, em um movimento rápido demais, eu me levantei e sai andando, de costas para ele, era impossível isso ter acontecido.
- Não... Chegue perto, eu vou acabar te machucando - ainda agindo como uma idiota, apenas desapareci da sala em um piscar de olhos e voltei para meu quarto, sem saber o que tinha acabado de acontecer.
Ao mesmo tempo que eu queria descobrir quem era ele e o que havia acontecido, a possibilidade de acontecer algo ruim me assustava mais do que eu gostaria.
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Touched By Darkness *Bucky Barnes*
Fanfiction- Temos que entender nossos monstros, e inevitavelmente matá-los, antes que eles nos matem. - Esse é o problema, agora eu sou o monstro.