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Guilherme Harzmann


    O som alto do local me impossibilitava de ouvir o que a garota ao meu lado tagarelava, e isso, em parte, era bom. Sua voz era um tanto fina, o que não era agradável aos meus ouvidos.
    Dei uma tragada no meu baseado e soltei, sem preocupação se pegaria em seu rosto.

- Não quer ir pra outro lugar? - a ruiva falsa, perguntou em meu ouvido.

   Eu até poderia ir, mas só de imaginar a voz dela fora daquele ambiente, me desanimava.

- Estou bem aqui.

- Mas podemos ter mais privacidade fora daqui. - insistiu, mordendo o lábio.

- Eu tô legal. - Eu não queria ser grosso, mas ela já estava me enchendo.

- Você tem certeza? - passou a mão em meu braço.

- Você tem algum problema de audição? - ela rapidamente retirou sua mão do meu braço e me olhou brava.

- Grosso! - bravejou e finalmente saiu de perto de mim.

     Ótimo.

   Olhei as horas em meu celular e vi que já havia passado muito tempo desde que eu tinha chegado, então resolvi ir embora.

   Sai do local e vi que o dia já havia amanhecido. Era pra mim estar acordando exatamente agora, para ir a escola, mas claro que eu não iria.
   Chamei um uber e em poucos minutos, ele chegou. O motorista tentou puxar papo, mas vendo que eu não estava afim, acabou desistindo. Assim, fui todo o caminho pensando no quanto eu era um vagabundo e inútil. Se meu pai ainda estivesse aqui, com certeza, não se orgulharia.
  
   Quando estava chegando perto de casa, pedi para que o motorista parasse uma rua antes da minha, para evitar que minha mãe ou meu irmão notassem o movimento ao lado de fora, caso estivessem acordados. Meu irmão, com certeza já havia notado minha ausência, já que dormíamos no mesmo quarto. Mas ele me conhecia bem, então já deveria saber aonde eu estava.

   Fui caminhando calmamente pela rua, enquanto via os vizinhos saírem para trabalhar ou estudar.

   Reafirmando, que eu realmente era um vagabundo.

   Quando chegava a esquina de casa, vi uma garota andar toda atrapalhada e derrubar os livros que estavam dentro de sua bolsa aberta. Ri internamente de sua atrapalhação e vi ela recolher seus livros, parecendo um pouco apressada. Como eu estava perto, resolvi ajudar. Me abaixei até onde um de seus livros havia caído e peguei, lhe entregando.

- Obrigado. - agradeceu sem me olhar e guardou tudo na bolsa, finalmente se levantando e me encarando. Ela me avaliou por alguns segundos e depois desviou o olhar.

- Preciso ir, obrigado novamente. - e passou por mim apressadamente.

   Eu não me lembro de ter visto essa garota alguma vez, mas eu também não era de sair muito por esse horário, então. Convenhamos que eu também era um pouco desligado no quesito vizinhança.

    Voltei a seguir meu caminho e quando cheguei no portão da minha casa, entrei sem fazer muito barulho. Segui para as portas do fundo e suspirei aliviado, quando vi que tudo estava silencioso e as luzes apagadas. Provavelmente, já haviam saído. Confirmei minha suspeita, quando cheguei ao corredor e vi a porta do quarto da minha mãe aberta. Passei por ele e entrei no meu, também vazio.
   Tirei meu tênis e me joguei sobre minha cama, apagando logo em seguida.

• • •

- Guilherme, eu não acredito. Já é a terceira vez essa semana que você falta a aula! - Ouvi minha mãe gritando, enquanto eu despertava. Com certeza era um ótimo jeito de se acordar. - Eu não sei mais o que fazer. - ela deu uma pausa. - Você está me ouvindo?

- Eu estava dormindo a segundos atrás, antes de você começar a gritar. - murmurei.

- Eu não me importo! Você não faz nada de útil, só dorme e vai a festas. Você acha que seu pai se orgulharia de você? - me encarou.

   Ela sempre jogava essa, pois sabia que era meu ponto fraco.

- Você jura que quer falar sobre o meu pai? - perguntei, pronto para lhe jogar tudo na cara. Ela me olhou séria e suspirou.

- Essa é a ultima chance que eu te dou para melhorar, Guilherme. Caso não adiante, tomarei providências! - falou e por fim saiu do quarto.

   Eu sabia que ela já estava farta das minhas irresponsabilidades e imprudências, eu não era fácil. Mas eu não fazia com a intenção de atingi-lá, apesar das circunstâncias.

    Eu não era um bom filho e tinha total noção disso, esse "cargo" na minha família, era de Vinícius. Ele sim, é uma pessoa na qual você pode se orgulhar. Nunca repetiu de ano, sempre teve boas notas, nunca trouxe problemas e está fazendo faculdade, ao contrário de mim. Sem dúvida alguma, eu era a ovelha negra da família.

- Você faltou a aula de novo? - Vini perguntou, ao entrar no quarto alguns minutos depois.

- Cheguei atrasado. - menti descaradamente.

- Eu sei quando você mente e acabou de fazer isso. - jogou sua camisa em mim. - Por isso que a mãe tá lá brava.

- É, só isso que eu sei fazer com ela.

- Eu não entendo por que você pelo menos não tenta ser melhor. - sentou na sua cama.

- Ah não, Vini. Você me dando lição de moral, não.

- Ok, odeio fazer essas coisas. Mas pensa nisso. - Pediu. - Você falou que queria esvaziar o cômodo do seu futuro quarto. Já que está desocupado e descansou bastante, podemos fazer isso. - sugeriu, mudando de assunto.

- Está tão desesperado para se ver livre de mim?

- Estou.

- Assim você me magoa, querido irmão.

- Levanta logo. - jogou outra peça de roupa em mim e saiu do quarto.

- Quer parar de jogar as coisas em mim! - exclamei e me levantei indo atrás dele.

- Não. Eu sou mais velho.

- E o que isso tem a ver? - perguntei, ao entrar no meu futuro quarto.

- Nada. Mas eu gosto de falar isso. - revirei os olhos. - Vamos começar logo. Tira o móvel de trás da janela, para entrar mais luz.

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   Ei! Olá, para você que está lendo. Espero que tenha gostado dessa "apresentação" do Guilherme.
Já tenho o segundo capítulo meio pronto, mas não vou garantir postar com frequência :l
Obrigado por ler!
Desculpe por qualquer erro.

Entre Nós (Em Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora