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Guilherme Harzmann

      Eu odiava acordar cedo e odiava ainda mais o motivo pelo qual eu era obrigado a acordar às 6 da manhã todos os dias. Bom, pelo menos todos os dias dos últimos dias.
     Eu estava indo à escola a 4 dias seguidos, sem faltar ou matar aula. Estava surpreso comigo mesmo, era meu recorde. Mas isso não significa que eu esteja estudando, eu simplesmente estou presente nas aulas.
    Minha mãe parece satisfeita com isso. Ela não me falou, mas foi o que pareceu enquanto conversava com Vinícius. A mesma estava achando que eu finalmente estava entrando na linha, para que ela não cumprisse as tais providências que havia dito tomar, caso eu não mudasse. Na verdade, não era por isso, porém ela podia pensar o que quisesse, desde que não ficasse me enchendo o saco.

   Nesses poucos dias saindo cedo, pude ver aquela garota outras vezes. Imagino que ela saia antes de mim, porque sempre a via um pouco a frente, indo a caminho do ponto de ônibus. Não sabia aonde ela morava exatamente, mas tinha quase certeza que era bem próximo a mim.

    Após mais uma manhã entediante de aula, fui para casa a pé, já que não era tão longe.
    Quando já estava perto da rua que morava, vi a garota desastrada de novo. Ela passou por mim e nem me notou, já que estava entretida com um papel em suas mãos.

   Mas também, por que ela me notaria? Eu só havia trocado poucas palavras com ela, isso não era lá grande motivo para que ela falasse comigo toda vez que me visse.

    Entramos na rua e eu estava praticamente a seguindo, talvez tenha sido por esse motivo que ela olhou para trás algumas vezes.
    Tirei as chaves do bolso e a vi fazer o mesmo, parando na casa ao lado da minha.

    Então, ela era minha vizinha de muro. Devia ter se mudado a poucas semanas, isso explica o porquê de eu não conhecê-la.

   Entrei em casa, deixei minha mochila jogada no sofá e fui procurar algo para comer.
   Por sorte, Helena havia vindo e preparado algo. Ela era diarista, mas as vezes fazia o almoço ou janta, obviamente, ganhando à mais por isso. Sem dúvida, era o dinheiro mais bem gasto da minha mãe. Lena, já trabalhava para minha familia a anos, havia me visto crescer e, muitas vezes, estava mais presente do que minha própria mãe.

   Me sentei no sofá, com meu prato em mãos e passei o resto da tarde assistindo tv.
    Quando já havia escurecido, ouvi o barulho da porta sendo aberta. Senti algo ser jogado em mim e logo soube que se tratava de Vinicius. Peguei a almofada do sofá e joguei, acertando no rosto dele.

- É sempre muito bom ser recebido com tanto carinho. - ironizou. - A mãe já chegou?

- Você acha que se ela tivesse chegado, eu estaria com os pés em cima da mesa de centro dela? - questionei, sem desviar o olhar do jogo que passava na tv.

- É, você não seria tão audacioso. - concordei e ele se sentou do meu lado. - Quem ta jogando?

- Psg e Barça.

    Vinicius se focou na tv e assistimos o jogo entre torcidas e xingamentos. Era bom passar um tempo assim com ele. Me lembrava de quando nosso pai era vivo e assistiamos juntos todos os jogos do nosso time, enquanto minha mãe ria e se estressava das nossas reações, muitas vezes, exageradas.
Essa época foi muito boa, éramos mais felizes. Uma pena não ser possivel voltar para um desses dias e reviver pelo menos uma vez.

    Quando o jogo acabou, me lembrei da garota e resolvi perguntar para Vini. Minha mãe sempre conversava com ele sobre várias coisas, quem sabe ela soubesse de algo a respeito e tivesse comentado com ele.

- Você sabe quem são os vizinhos novos?

- Vizinhos novos? - assenti e ele pareceu pensar. - Não to sabendo de ninguém novo, não.

Entre Nós (Em Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora