QUATORZE À DEZESSEIS

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            DEPOIS DISSO NÃO NOS FALAMOS mais. Em compensação meu plano de estudos para o vestibular estava indo por agua a baixo. Passava as tardes o observando trabalhar. Algumas vezes ele também parava para me olhar e fazer alguma piadinha.

“Foi difícil hoje. Vasculhei seu lixo a procura de comida mas parece que você anda de dieta.” – Dizia. 

            Ele entrava às 7 e saia às 12. Buscava sua irmã pequena na escola e ficava com ela até às 17. Sua irmã tinha no máximo 7 anos, era ruiva, assim como ele. Tinha um pouco de sardas abaixo dos olhos claros. O cabelo laranja desbotado brilhava quando tocava o sol. A garota passava o dia inteiro sentada na sombra rabiscando um caderno de desenhos, enquanto o irmão trabalhava dentro da oficina, soldando peças e criando maquinas. 

“Então é ele?” – Tiago pergunta apontando para Matheus. Seu rosto esta sujo de óleo, ele percebe e passa a borda da camisa no rosto. – “OLHA SÓ, ELE É BONITO” – Tiago grita para mim desesperado quando vê aquela cena.

“Iiiih, sossega ai viu. O Natan mora logo ali.” – Falo. Ele ri. Deita na rede que acabo de armar na varanda e se balança.

“Por acaso eu ia deitar ai.” – Falo quando ele se espreguiça na minha rede.

“Mas é ele ou não é?” – Pergunta. Sinto que ele não vai levantar então sento em uma cadeira de balanço.

“É ele!” – Respondo.

“E qual o plano?” – Reviro os olhos quando o ouço fazer essa pergunta ridícula.

“Que plano?” – Falo desinteressada, Matheus está na calçada da oficina. Ele e outro garoto, um pouco mais velho consertam uma maquina. Nem tento descobrir que maquina é aquela. Apenas observo.

“Cara você está tão na dele!” – Tiago fala um pouco alto demais, percebo que ele está me olhando. Ele ri e fica tão animado que começa a balançar a rede mais alto.

 “Por que ainda não pegou?” – Ele continua.  

“Não estou afim dele.” – Minto, sei que ele não vai acreditar mas não me importo. Tiago se prepara para me confrontar mas fica calado. Vira-se para a rua e assobia alto para Matheus. – “GOSTOSO! TIRA A CAMISA” – Tiago grita e esconde-se na rede.

            Os olhos de Matheus percorrem a rua e encontram os meus. Por um segundo não sei o que fazer. Pulo para o chão e deito contra a cerâmica gelada da varanda. Rezo para que dali de cima Matheus não consiga me ver, e que se conseguir, identifique que aquela voz não é a minha. Mas que merda Tiago acha que está fazendo??

“Quando eu levantar vou te jogar dessa rede lá pra baixo!” – Sibilo pra ele. Tiago se acaba de rir. Alguns segundos depois acredito que Matheus já tenha voltado ao trabalho então acho seguro virar o rosto e olhar para rua, ainda ali do chão. Para minha surpresa e vergonha, Matheus me olha com uma sobrancelha arqueada. O ar convencido transbordando de seu sorrisinho sarcástico.

            Me levanto num pulo e então sento na cadeira como se nada tivesse acontecido. Matheus ri lá de baixo e me manda um beijo no ar. Sinto minhas bochechas ardendo. Ele balança a cabeça como se não acreditasse que aquela cena estivesse mesmo acontecendo. Lentamente volta ao trabalho. Eu também não acredito que isso acabou de acontecer!

“Mas que... puta que pariu! Mas que merda foi essa!!!” – Chuto a  rede onde Tiago está, Ele segura as duas bordas dela e se protege, como se a rede fosse um casulo. Ele gargalha tão alto que acredito que Matheus esteja ouvindo.

“Geeeeeeente! Essa foi a paquerada mais estranha que já vi na vida! Você deitou no chão!!!” – Com as mãos sobre o rosto Tiago ri sem parar. Ele não cansa. Só para quando sente uma dor na barriga. Me olha e minha expressão é a mesma de 5 minutos atrás, quando isso começou.

“Eu vou matar você.” – Digo calma e então pulo na rede que faz um barulho. Ficamos calados esperando que ela nos leve ao chão. Mas isso não acontece. Suspiro e me deito ao seu lado, com as panturrilhas para fora. Os pés tocando o chão.

 “Viado” – Digo.

“Viado não. Sapatão” – Ele diz. Fito seus olhos e como um clarão sei como me vingar ali, naquele instante.

            Com uma rapidez inesperada ponho as mãos sobre o rosto de Tiago, e o beijo. Bom, Não é O BEIJO do século, mas servirá para deixa-lo bravo.

“ECA! VADIA!” – Ele diz passando as costas da mão sobre os lábios pintados pelo vermelho do meu batom, quando me afasto. Não consigo me segurar e começo a rir.

            Tiago passa pelo menos uma hora reclamando do selinho e limpando a boca na manga da camisa.

“Faz uma gracinha de novo que falo dessa nossa pegação para o Natan.” – Falo. Isso quebra o gelo. Tiago sabe que Natan não daria a mínima para isso. Mas isso provoca outro ataque de riso em nós dois. 

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2014 ⏰

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