Capítulo 3.

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- Estela... - Falei seu nome sorrindo.

- Sim. - Ela riu. - Esse é o meu nome.

- É um nome muito bonito.

- Obrigada! O seu é... Ok. - Seu sorriso se abriu ainda mais.

Ri, desviando meus olhos dos seus, olhando para a frente.

- Então... - Ela falou, chamando minha atenção de volta para ela. - O que você veio fazer aqui?

Suspirei. - Eu gosto de olhar as estrelas.

- A Lua gosta de olhar as estrelas?

Ri e mordi meu lábio, olhando para baixo. - É, eu faço isso desde pequena, foi daí que saiu meu apelido. - Voltei a olhar para ela.

- Eu não tenho um apelido certo, sabe? Todo mundo me chama de Estela, mesmo. - Ela deu de ombros, e olhou para o riacho.

Voltei a olhar para o céu, sem saber ao certo do que falar para ela.

- Você trabalha com algo? - Perguntei.

- Sim. Eu sou barista no bar aqui perto.

- Tem um bar aqui perto?

Ela riu. - Tem sim. Descendo à rampa. - Ela apontou na direção de uma rampa que começava logo após a ponte acabar.

- Eu não sabia disso.

- Agora você sabe. - Disse piscando pra mim. - Eu trabalho lá todos os dias, das 16 às 22.

Franzi a testa. - Mas são... - Olhei no relógio do meu celular. - 21:22.

Ela riu. - Disse que eu precisava de um ar. Mas acho que agora eu deveria voltar.

Olhei para baixo, respirando fundo. Soltei o ar quando voltei a olhar para o céu.

- Quer tomar alguma coisa?

Olhei para ela.
Eu poderia fazer dela uma das minhas estrelas. Mas... Não.
Eu não quero que ela seja mais uma. Estela parece ser inocente para que eu dê expectativas o suficiente para que ela ache que eu quero algo a mais.

- Desculpa, mas... - Falei voltando meu olhar para ela. - Eu preciso dormir cedo hoje.

Ela sorriu, mas parecia decepcionada, ajeitou o cabelo e disse: - Bem... Se mudar de idéia, sabe onde me encontrar.

Ficamos nos olhando pelo o que pareceu ser apenas 2 segundos.

- Pode deixar, se eu precisar de você é só eu descer a rampa.

- Boa noite, Lua.

Sorri. - Boa noite, Estela.

Então ela virou e começou a caminhar. Fiquei olhando ela andando, talvez esperando ela olhar para trás. Mas ela não o fez, então fiz meu caminho de volta para casa.

Me sentei na cama, cansada, tirando os sapatos que faziam meu pé doer.
Meu celular vibrou, peguei o mesmo e vi uma mensagem que meu pai me mandou.

"Não sei aí, mas aqui está chovendo, espero que você consiga ver as estrelas hoje."

Sorri, aqui com toda a certeza do mundo não estava chovendo.

Respondi a mensagem que ele havia me mandado, passei a mão pela nuca, então troquei de roupa, colocando meu pijama.

Me sentei em uma cadeira, perto de uma janela, olhando para o céu.

Apoiei minha cabeça nas mãos, fechei os olhos tentando entender por que eu ainda estava sozinha.
Por que o meu "alguém especial" não havia aparecido ainda.

- Desculpa. - Murmurei para mim mesma, sem ter certeza do que estava fazendo. - Mas eu não sei se acredito mais em amor verdadeiro.

Limpei uma lágrima que escorreu do canto do meu olho, enquanto eu observava as nuvens cobrirem a lua, deixando apenas as estrelas.

- Vocês estão lindas hoje. - Falei sozinha novamente. - Mas eu preciso dormir, espero que entendam.

Levantei, parecendo que o peso do meu corpo fosse grande demais para carregar, não querendo deixar as estrelas, não querendo deixar a lua.

Me arrastei até a cama, onde caí de cara no travesseiro, mas demorei a dormir.

Abri meus olhos devagar, com a visão ainda embaçada, cocei os olhos, enquanto olhava para o relógio ao meu lado.

06:24.

Fechei os olhos com força. Era isso o que eu ganhava por ir dormir cedo em uma noite tão linda como a de ontem? Acordar quase uma hora antes da minha hora de acordar?

Respirei fundo, tentando criar coragem suficiente para levantar da cama.

Algumas vezes, eu simplesmente não quero levantar, não quero sair da minha cama, onde tem um mundo criado por mim, um mundo onde eu imagino a minha vida com pessoas por perto, sem estar sozinha.

Mas, por algum motivo, hoje eu não queria ficar na cama. Hoje eu queria ficar apenas em paz.
Sem trabalho, sem nada para me deixar para baixo, ficar de bem comigo mesma por um dia.

 Tirei todo o cabelo da minha cara, então peguei meu celular, discando o número de Elena.

- Bom dia, flor. - Ela disse com a voz rouca. - Posso ajudar?

- Na verdade, sim. - Forcei a minha melhor voz de doente. - Não estou me sentindo nada bem, posso faltar ao trabalho hoje?

Ouvi ela suspirar pela linha. - Eu odeio quando você fica doente.

Fechei os olhos torcendo para que ela tivesse um pouco de coração e me deixasse em paz.

- Mas não é como se eu não tivesse um coração, então eu vou fingir que não sei que isso tudo é para você ficar em casa em plena sexta feira, mas tudo bem. Descanse.

Sorri vitoriosa. - Obrigada.

Então desliguei.

Decidi então mandar uma mensagem para a minha mãe.

"Saudades da filha favorita? Vou passar o final de semana aí"

Cheguei em Santa Catarina, minha cidade natal, mais ou menos na hora do almoço. Foi muita sorte conseguir uma passagem de ônibus de última hora.

Meus pais me esperavam com um sorriso no rosto, quando me viram, correram em minha direção, com os braços abertos para me abraçar.

Sorri, e os abracei.

- Lua, meu amor!!! Que saudade eu estava de você!  - Mamãe disse beijando meu rosto.

- Também estava com saudades de vocês. - Me desvincilhei de seus braços, dando um passo para trás. - Onde está o Jonathan?

- Na escola, mas já deve estar chegando em casa, se é que já não chegou.

- Ele está com saudades da irmã mais velha dele. - Minha mãe disse.

Minha mãe é bem mais tagarela que o meu pai, então na maioria das vezes, ele fica quietinho em uma conversa enquanto ela despeja as palavras em cima das pessoas. Mas eu acho isso uma qualidade única dela, é o que acaba fazendo ela ser especial.

Sua energia é sempre muito boa e contagiante, é quase impossível ficar triste perto dela.

- Vamos, vamos para casa. - Mamãe disse sorrindo.

Então, peguei minha mala e comecei a andar com eles pela rodoviária.

- Já tem alguma namoradinha? - Minha mãe perguntou piscando para mim, fazendo meu pai rir.

- Mãe!  - Disse tentando parecer brava, mas falhando miseravelmente, já que não conseguia parar de rir. - Não, na verdade. - Meu riso desapareceu.

- Não se preocupe, eu tenho certeza de que você vai encontrar alguém logo.

Sorri tentando parecer convincente, mas, a realidade é que eu não tinha tanta certeza daquilo.

A Lua e as Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora