Capítulo 17

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You can count on me like one, two, three
I'll be there
And I know when I need it I can count on you like
Four, three, two
And you'll be there
Cause that's what friends are supposed to do


— Bruno Mars, "Count On Me".


Sete anos atrás


Lauren POV


— O que eu não entendo a respeito da nossa filha é isso, Clara. — Disse meu pai, cuspindo as palavras nervosamente. — Ela quer ganhar a vida desfilando. Ela quer mostrar para todo mundo os malditos seios em um palco enquanto caminha. Ser modelo, para mim, é sinônimo criativo para prostituta!

Eu estava chorando tanto que minha garganta estava arranhada e dolorida, nada além do caos criado pelos gritos silenciosos que soltava no travesseiro.

Naquela tarde, eu recebi a notícia de que poderia tirar umas fotos como teste para a agência nova de Miami e, apesar de ser o meu sonho, não pensei que fosse ser aceita; fui pessimista e acabei me surpreendendo positivamente com a ligação. Com a felicidade indo até outra galáxia e voltando, contei para minha mãe que, evidentemente, levou a notícia para o meu pai, que não conseguiu lidar bem com a situação.

Michael Jauregui, o homem da casa, era um empresário de renome. Ele gostava das coisas adquiridas através de diplomas universitários. Se qualquer pessoa ganhasse dinheiro de outra forma, como, por exemplo, uma modelo desfilando — o que, santa ignorância, era um trabalho tão sofrido, mas gratificante como qualquer outro —, já era mal visto aos seus olhos. Meu pai não aceitava o rumo que eu queria para mim. Minha mãe, sempre muito submissa, não conseguia contrariá-lo.

Então, ali estava eu, gritando de raiva no travesseiro, chorando até meus olhos incharem a ponto de mal conseguir fechá-los. Lua me telefonou à tarde perguntando como foi a reação dos meus pais. Como Michael não havia chegado em casa, Lua não estava sabendo o que tinha acontecido. Eu sabia que ela estava preocupada.

Pouco a pouco, os gritos histéricos e urros do meu pai cessaram. Ouvi seus passos pesados na escada e me agarrei ainda mais às cobertas e travesseiros, pensando que poderiam me proteger das palavras duras que ele me diria. Por sorte, Michael não estava com humor para criar outra discussão, e ele passou pela porta do meu quarto sem abri-la.

Suspirei entrecortado, sendo envolvida pelo silêncio, ainda que meu cérebro estivesse agitado demais para parar de repetir as frases horríveis que saíram dos lábios do meu pai.

Tentei não pensar nisso, contudo era difícil, eu podia ignorar todas as partes negativas, mas aí me recordava que era menor de idade e não tinha como contrariar a autoridade da minha família.

Agucei meus ouvidos quando escutei meu nome. Primeiro, um sussurro, depois, um pequeno grito. Reconheci a voz de Lua no instante seguinte e fui até a janela, abrindo-a e tendo a visão lá de baixo. Minha amiga estava vestindo uma roupa de festa, provavelmente estava pronta para sair com Camila. Aquilo causou uma dor aguda no meu coração. Como se não bastasse meus pais destruírem meu coração, eu o dilacerava eu mesma.

— O que você está fazendo aqui, Lua? — Perguntei, secando as lágrimas.

Ela começou a escalar a árvore que tinha ao lado da minha casa, pulando na varanda do meu quarto em seguida, pouco se importando com o comprimento do vestido que usava. Assim que a vi, desabei.

— Eles não aceitaram, não é? Ah, Lauren...

— Eles não entendem que é isso que eu sei fazer, Lua. Apesar de não ter o rosto tão bonito, me saio bem nas passarelas. — Choraminguei. — É o que eu sonho em fazer. O mínimo que eles deveriam fazer é me apoiar.

— Seu rosto é incrível, você tem uma beleza ímpar, Lauren. Não diga essas coisas. — Ela me abraçou forte, deixando que eu chorasse em seu ombro. Eu soluçava e tentava abafar o som ridículo fechando os lábios, mas sem sucesso. — Eles são uns idiotas. Você precisa entender que, se der certo, logo estará ganhando dinheiro. Posso falar com meu pai, nós vamos encontrar uma maneira de te tirar daqui. O que acha? Ter um apartamento seu, pagar suas contas. Posso deixar tudo no nome de um adulto, para que não tenha problemas.

— Eu não tenho um centavo, Lua...

— Mas vai ter. Depois desse trabalho, eles vão ver a quão talentosa é. Vão começar a te pagar por freelances e, quem sabe, te deixar exclusiva para ser o rosto de uma marca. As passarelas são questão de tempo, junto com a parte fotográfica. O importante é você juntar dinheiro e fazer o que ama.

— Lua, você está me iludindo.

Ela secou minhas lágrimas. Percebi que seu rosto estava com uma maquiagem muito pálida, além de sangue nos lábios e uma dentadura de vampiro. Só então, me lembrei que era Halloween.

— Daqui a uns anos, você vai ter tudo o que anseia e nunca mais vai precisar falar com seus pais novamente. Está entendendo, Lauren? Agora, você precisa focar em realizar os trabalhos. Pode mentir para eles, dizer que está estudando na minha casa. Garanto que não vão reclamar disso. — Prometeu, a voz engraçada por conta dos dentes pontudos de plástico.

— Juro que vai dar certo, eu vou estar sempre aqui, ok? Vamos passar por isso juntas.

— O que seria de mim sem você? — Ela sorriu.

— Absolutamente nada. Agora, vou procurar algo para que você possa se distrair.

Lua terminou de secar minhas lágrimas, foi em direção ao meu guarda-roupa e começou a caçar as roupas. Fiquei observando-a se mover naquele vestido sensual e vermelho de vampira, me perguntando o que ela faria com Camila essa noite.

— Achei alguma coisa! — Ela exclamou.

— O quê?

— Isso aqui.

Lua retirou do meu armário uma parte da minha fantasia de Halloween do ano passado. As asas estavam um pouco amassadas, mas ainda brilhavam em meio a tanto glitter. Para não perder boa parte da costura, estava coberta por um plástico transparente.

— São asas de borboleta? — Ela franziu os olhos, tentando se lembrar do que fui vestida no ano passado na festa da nossa turma.

— De fada.

Lua sorriu, jogou a peça sobre a cama e, em seguida, pegou um vestido justo e com dégradé em tons de branco, cinza, azul e verde. Pelos seus olhos azuis determinados, sabia que ela me faria ir à festa com ela, Camila, Dinah e Nathalie.

— Perfeito! — Exclamou, quase rindo. — Agora, vista-se. Temos uma festa para ir.

Ali eu soube que Lua era o tipo de amiga que sacrificava uma noite de romance para ficar com a melhor amiga que estava mal. Ela era o tipo de amiga que escalava uma árvore, mesmo usando um vestido, apenas para me abraçar. Ela era o tipo de amiga que me levava para uma festa de Halloween, fugida dos meus pais, para que eu pudesse me distrair em meio a tantos problemas.

Lua era para sempre.

Essa era a minha única certeza.

Heart on Fire - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora