Prólogo

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Spend my days locked in a haze

Trying to forget you babe, I fall back down

Gotta stay high all my life

To forget I'm missing you.


— Tove Lo, "Habits".


Um ano atrás


Camila POV


Uma vez, me disseram que os momentos que passamos em nossa vida não são medidos pelos instantes que respiramos, mas pelos quais perdemos o fôlego.

Bem, eu concordo com isso totalmente.

Durante cada segundo da minha vida, fui guiada por grandes emoções. Fortes, intensas, impensadas e irracionais. Uma batida do coração e eu já estava beijando uma desconhecida; um fechar das pálpebras e a inspiração para uma nova música surgia; um falhar na voz e não havia como fugir: eu estava arrasada. Todos os memoráveis segundos entre a dor e o prazer que ditam as lembranças que são postas no mural da vida.

Mas havia algo errado.

Há muito tempo, meu coração não batia por alguém. Há muito tempo, a música não encontrava o caminho até a minha alma. Há muito tempo, eu me sentia amargurada e talvez cansada demais para ver colorido onde o mundo só pintava em preto e branco. Isso poderia ter a ver com o meu recente divórcio, porém, um vestígio de consciência me dizia que a influência das reações que a vida oferece não tem absolutamente nada a ver com quem você coloca nela, mas com as atitudes que você toma.

Quando partimos de nossas casas pela manhã e pegamos a rua à direita, tomamos uma decisão. A cada decisão, nos deparamos com um novo cenário com inúmeras variáveis. Quando conheci minha ex-esposa, tão deslumbrante naquele evento beneficente, estava ciente de que, se eu conversasse com ela, algo poderia acontecer. A iniciativa de dar o primeiro passo ia me levar a dois panoramas e, por sorte — ou azar —, Jennie se interessou pelo ponto de vista romântico da coisa.

Em um piscar de olhos, me encantei.

Não de propósito, não porque eu quis me encantar, apenas porque era fácil demais olhar para ela e querê-la para mim. Cabelos loiros ondulados, olhos azuis, curvas interessantes e sotaque levemente italiano. Atraente, sem dúvida. Ótima conversa, incrível opinião sobre as questões do evento, bom gosto musical e excelente paladar para bebidas.

Acontece que isso tudo mudou a minha vida. Quando me decidi por aquela mulher, decidi pela perda da metade dos meus bens — não que isso fosse tão significativo quanto a decepção —, a dor de cabeça de ter a cobertura da mídia e a polêmica sobre uma traição que não aconteceu. Quer dizer, o tempo todo Jennie quis apenas levar uma parcela do meu dinheiro.

Inventar que ela me traiu para sair por cima era somente um brinde que queria carregar consigo mesma, quem sabe para seduzir outros caras. Afinal, quem não quer ter a garota que não se contentou com Camila Cabello?

Virei a dose de uísque e deixei que o líquido amadeirado zombasse da minha solidão. Eu não ia ser amarga sobre isso. Por mais que Jennie tivesse ido embora há alguns meses, não seria uma fodida filha da puta que sofre por gostar de alguém. Até porque aquilo não era amor, era? Não, não era. Um relacionamento fadado ao fracasso e ao interesse financeiro não pode ser amor.

Para ser amor, precisa acontecer entre as duas pessoas simultaneamente. Não precisa ter anos de duração, mas, se houver a faísca, a fidelidade, a durabilidade do sentimento, você pode se jogar sem pensar em puxar um paraquedas. Amar precisa ser com o corpo todo, com a alma completa e o coração entregue. Nada de amar mais ou menos, amar pela metade, amar apenas de segunda à quarta. Isso não existe. Jennie não me amava com tudo o que tinha. E por que o faria? Em sua cabeça, seu objetivo eram as notas de cem dólares.

E o meu?

Eu queria alguém que me completasse, que não tivesse medo da minha fama, que pudesse me amar além da porcaria financeira e da distância. Tinha que ser alguém que suportasse a minha mudança de humor, que variava apenas do cômico para o ligeiramente romântico... E, se eu não me engano, as pessoas gostam disso, não é?

Talvez a bebida estivesse mexendo com o meu bom senso e a minha capacidade de pensar direito. Talvez eu só estivesse tão solitária, que preferia criar monólogos filosóficos sobre o amor e a capacidade que algumas pessoas têm para amar. Talvez eu só fosse uma música que estivesse sofrendo uma crise existencial. Quem se importa? Jogando a verdade em uma rodada final de cartas, ninguém se interessa se você sabe o que é o amor, se você sofre por ele ou se você vai viver para sempre sem conhecê-lo. As pessoas só querem viver.

E eu acho que me esqueci como se faz isso. É, porra, como se vive? Como seguimos em frente?

Evitei pensar, mas a sensação era de que a resposta estava no fundo da garrafa de Johnnie Walker.

A vida tem maneiras engraçadas de dizer que você está bêbada. Pensamentos sobre o amor e em como eu era uma estrela do rock divorciada aos vinte e seis anos de idade era uma dessas formas. Mas eu não estava parando nessa garrafa, estava? Não, não mesmo. O Johnnie dourado me esperava para mais uma reconfortante sessão da meia-noite.

Eu tinha um encontro marcado com alguns cubos de gelo e o copo quadrado do uísque envelhecido.

Heart on Fire - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora