Capítulo 6

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Quando adentrei a firma Hardman Dawson, o nervosismo que se instalou dentro de mim, quando Kimberly ligou avisando que Heather Hardman concordou em me ver, cresceu exponencialmente.

Alisei minha saia lápis preta, mal me equilibrando sobre as sandálias de salto. Conferi, pela milésima vez, se o número de botões abertos de minha camisa social branca não era exagerado e, por fim, dei passos pouco confiantes até a recepção, segurando tão firmemente minha bolsa a tiracolo que os nós dos meus dedos deviam estar brancos pelo esforço.

Por um momento, obriguei-me a esquecer a mensagem de voz que deixei para Michelle, dois dias antes, à qual ela jamais respondeu. Foi uma atitude precipitada e eu deveria ter esperado uma boa notícia para lhe dar, antes de telefonar com as mesmas perguntas de sempre sobre Maria. Enxotando tais ponderações para o fundo da minha mente e cheia de inseguranças, optei por mandar uma mensagem para Kim, em vez de arriscar minha sorte com a recepcionista ao telefone.

"Já cheguei, onde você está?"

"Já está no prédio?"

"Não, já cheguei, mas ainda estou em casa... óbvio que estou no prédio. Vem logo!"

"Estou indo, alteza."

Enfiei o celular de volta na bolsa, soltando uma risadinha pela resposta de Kimberly. Alteza! Quem me dera. Se eu fosse mesmo, não estaria ali alisando minhas roupas a cada segundo, checando a limpeza delas e surtando com o esmalte descascado na pontinha da minha unha do mindinho.

Quando vi Kim, tão bonita e confiante em seu vestido tubinho de cor azul — que ela chamava de lápis-lazúli —, senti como se toda minha produção tivesse sido por nada. Eu estava arrumada, sim. Elegante, até. Mas segura de mim... não. Nem um pouquinho mesmo.

— Pronta? — foi o que Kim me perguntou, logo depois de me abraçar, segurando em meus braços enquanto me encarava.

Se fosse qualquer outra pessoa ali, que não Kimberly Rogers, eu teria vestido meu melhor sorriso, acenado em concordância e a acompanhado. Porém, era Kim. A minha Kim. Mentir para quê?

— Não.

***

— Você tem noção de quão trabalhoso seria ficar responsável por uma criança de segunda a sexta, durante todo o horário comercial? Sempre ao dispor dela, pronta para atender aos chamados e todas essas coisas? — Heather Hardman perguntou, e eu devo ter demorado demais a responder concomitante à minha análise do quanto ela se parecia com uma estrela hollywoodiana, já que ela tombou a cabeça, analisando-me, erguendo as sobrancelhas como se me apressasse a falar algo.

— Cla-claro — gaguejei em resposta, chutando-me internamente por não conseguir pronunciar um mísero dissílabo sem me atrapalhar toda pelo caminho.

Se Kim estivesse aqui, provavelmente teria revirado os olhos, desviado o olhar e escondido o rosto para não assistir a mim, da primeira fila, passando vergonha.

— Sou professora no jardim de infância — apressei-me em completar. Um dissílabo tartamudeado não era exatamente o tipo de resposta que me daria um emprego, certo? — Acredito que Kimberly tenha lhe dito. Bem, tenho muita experiência com crianças, sei lidar com elas, isso não será um problema.

— Entendo — ela murmurou com calma, lançando um sorriso complacente que mais parecia ter saído de uma propaganda de creme dental. — Todavia, não é disto que estamos falando. — Ela se inclinou sobre sua mesa de vidro, os dedos longos cruzados sobre ela, enquanto sua atenção era toda minha e seus bonitos olhos azuis, que chamavam logo a atenção, me analisavam. — Juliet, minha sobrinha, tem apenas treze meses de idade. Ela usa fraldas, tem um vocabulário com menos de dez palavras, é 100% dependente e vai sugar todas as suas energias. Não é nada como os seus alunos, senhorita Rodrigues...

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