1° dia

10 1 0
                                    


Pelo primeiro capítulo ser tão curto deixo-vos com uma dupla atualização.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

"O sabor metálico cobria o interior da minha boca uma vez mais. As roupas maltratadas e os hematomas a cobrirem a maior parte do meu corpo demonstram o mau estado em que me encontro.

Limpei o sangue existente na minha boca e um suspiro deixou os meus lábios.

Não sinto dor, só dormência, por isso não é nada de grave.

Vejo-os ao longe a dobrar a esquina do orfanato, portanto, a custo, levanto-me.

Caminhei até a arrecadação para ir buscar o kit de primeiros socorros. Não estava vazia.
Um rapaz de cabelos e olhos negros estava remexendo nas coisas lá existentes.
Nunca o havia visto.

Ele pareceu surpreso em me ver.

-Não te devias ter levantado. Podes estar com algum traumatismo.

-Do que é que estás a falar? - o sabor metálico ainda estava presente na minha boca.

-Eu vi-te ferido lá fora. Vim buscar o kit de primeiros socorros para te ir ajudar.

-Tu nem me conheces.- coloquei-me á sua frente e retirei o objeto de que precisava de dentro de uma caixa azul. - Dispenso falsas preocupações.

-Eu estou mesmo preocupado. O que te aconteceu para ficares nesse estado? - os seus olhos grandes encaravam-me curiosos, enquanto o seu semblante demonstrava o que parece ser preocupação.

-Nada a que não esteja já habituado. Se não queres acabar como eu, é melhor te afastares de mim.

Sai da pequena sala em direção a uma sala abandonada do orfanato onde poderia tratar os ferimentos em paz.

Antes que pudesse fechar a porta o tal rapaz entrou repentinamente.

-Eu vou ajudar-te. É excusado tentares expulsar-me. Sou muito teimoso quando quero algo.

-Depois não te venhas queixar.

Joguei o meu corpo para cima do sofá empoeirado, retirando o álcool e o algodão de dentro do kit.

Passei o algodão molhado com o produto em cima dos arranhões dos braços e pernas. Quando o passei no corte existente no canto da boca tive de morder o lábio inferior para reprimir a dor.

É a pior ferida. Deve demorar a desaparecer.

Sinto algo frio sobre a minha pele da perna esquerda.

Os meus olhos deparam-se com os dedos do rapaz a passar creme sobre um dos hematomas.

-Este vai ficar bem roxo. Surpreende-me que não te doa.

-É um pouco estranho ter um desconhecido a cuidar de mim.

-Não é muito diferente de quando se trata de um médico. Mas se o problema é esse eu resolvo-o já. - os seus olhos negros fixaram-se nos meus de uma forma intensa - Chamo-me Gadreel Wild.

- Yuri Tchébrikov.

-Tchébi quê?

-Tchébrikov.

-Vou chamar-te Tchétché. É mais fácil. És russo?

Onde é que te dei intimidade o suficiente para usares o meu sobrenome como bem entenderes?

- Provavelmente sim. Não conheço os meus pais. Quase ninguém aqui os conhece.

-Gostava de não ter conhecido os meus.

-Eles abandonaram-te hoje?

-Não. Fui retirado de minha casa. Os meus pais foram considerados incapazes de cuidar de uma criança e uma senhora da segurança social foi buscar-me. Mas isso aconteceu quando tinha quatro anos. Desta vez foi a minha família de acolhimento que me devolveu. - ele riu-se apesar de não haver graça nenhuma nas suas palavras - Não importa para onde vá, as pessoas parecem não gostar de mim.

-Tens que idade?

-6 anos.

-Eu não sou nenhum génio mas não é normal uma criança de seis anos falar tão corretamente. Tu não pareces ter a idade que tens.

-Isso é porque tenho um segredo. - o brilho nos seus olhos mudou. Parecia estar a desafiar-me para o desvendar.

-E qual é?

-Se me deixares ser teu amigo pode ser que te conte.

-Vais-te magoar.

-Os amigos são para isso mesmo. Estão lá nos momentos bons e nos menos bons.

O seu sorriso era pequeno mas de alguma forma repleto de boas intenções.

-Amigos? - estiquei-lhe a mão para ser apertada.

-Amigos. - ele abraçou-me em resposta."


ResiliênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora