Donna Hughes, New York
Quinta-feira, 18:34Passado. O passado todo dia atormenta um pedacinho de mim, um pedacinho do meu ser. Mas hoje, o passado me destruiu por completo. Ele acha que eu não o reconheci, mas lembro do seu olhar, do seu jeito de beijar, do seu toque frio na minha pele congelada. Lembro da mágoa e da vergonha que ele me fez sentir.
Sai da galeria tentando acompanhá-lo, mas Daniel já está longe. Tento espairecer, mas a dor que aos poucos eu elimino volta à tona. Em casa, não troco uma palavra com meu pai, nem olho os álbuns de foto de minha mãe como costume. Invés de fazer minha rotina, passo longos minutos na banheira, tentando esquecer as palavras que o "amor da minha vida" jogou na minha cara.
"Nunca te amei, achou mesmo que alguém teria coragem de te amar?"
Eu tive apenas duas grandes tristezas em minha vida. A primeira foi perder minha mãe e a segunda foi descobrir que eu era apenas uma aposta para as pessoas. E mesmo depois de anos que estas tristezas passaram, às dores delas me perturbam quando tenho minhas recaídas.
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Anne, uma das empregadas, arma a árvore de natal na sala. Sempre achei isso idiota, mas para meu pai isso é uma tradição importante, e não pode ser deixada de lado. Daqui a quatro dias, todas as famílias estarão comemorando uma data mágica e linda. Para eles. Pois para mim, Natal é uma das piores épocas do ano. O único Natal que passei com minha família completa, foi quando eu tinha 5 anos. Meu pai teve tempo para viajar até à Coréia e minha mãe ainda era viva. Nesse dia, tomamos sorvete, almoçamos em um restaurante que eu amava e a noite vimos os fogos de artifícios na sacada do apartamento.
Depois disso, meus pais se separaram, e meu pai nunca mais foi para a Coréia. Minha mãe descobriu o câncer oito meses depois, e faleceu três meses após descobrir. Assim, voltei para New York e comecei a ser educada para gerenciar a empresa futuramente. Por isso, eu não gosto do Natal. Não chega a ser ódio, pois tem seus lados bons, como a comida e os poucos presentes que recebo.
Ajudo a empregada a terminar de armar a árvore e vou para meu quarto. Converso um pouco com Caroline por videochamada e vou dormir. Mas quem me dera conseguir. Volto a pensar ma Selene, e como a família dela está abalada. Caroline acabou dando seu depoimento para a polícia, me deixando mais tranquila. Depois, meus pensamentos se voltam para o Daniel.
E por algum motivo, senti um peso na consciência. A solidão voltara a me atormentar. E aquela solidão passou boa parte da noite ao meu lado. Me levantei e fiquei triste ao ver que era apenas meia-noite. Calço uma sandália e coloco um moletom por cima de minha camisola. Pego meus óculos de grau e a chave do carro. Desço sem o medo de ser pega, pois todos estavam dormindo. Ou deviam estar. Uma das criadas estava na cozinha, e me olhou de uma forma estranha ao me ver, começando o questionário.
— Para onde você vai, Donna? - A senhora de cabelos prateados e olhos brilhantes me encara.
— Vou na conveniência. Preciso de bebida e besteiras. - Fico na ponta dos pés tentando pegar a chave do meu carro na prateleira.
— De camisola? Sei que está com este casaco por cima, mas...
— Fique tranquila, senhora Rachel, este moletom é comprido, e eu volto rápido. - Digo saindo depois de pegar a chave do carro.
O caminho estava tranquilo. Às meia noite, não se espera muita coisa nas ruas afastadas do centro. Na conveniência, pego duas garrafas de vodka e vários pacotes de salgadinho, também peguei uma barra de chocolate. No caixa, o carinha por trás do balcão me encarava, mesmo que calado, pude ouvir suas "palavras". Ele é mais um daqueles caras bonitos que está no último ano do ensino médio e trabalha em uma conveniência para pagar a mensalidade. Típico, mas não vou pra cama com um cara do ensino médio.
Não sou a garota gostosa da faculdade de administração que dorme com o carinha novato. Não sou assim quando estou pensando direito, mas neste momento, eu não sou Donna Hughes.
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• Bad Blood •
RomanceDaniel Roocks é um assassino, um criminoso. Seu prazer é matar e ver suas vítimas sofrerem a cada gota de sangue que sai de seus corpos. Ele ama tanto este ato, que isto se tornou a sua profissão. Daniel é considerado um dos melhores assassinos de N...