[Tony]
Tinha terminado de por a mesa, era sábado, um sábado bonito, céu azul, poucas nuvens, o sol não estava assim tão forte, agora só faltava o restante de minha família para almoçar.
E fazia muito tempo que eu não cozinhava, queria todo mundo junto para apreciar aquele complexo macarrão com queijo.
Steve apareceu primeiro, não falou nada, apenas me abraçou de lado, passou a noite corrigindo as provas de seus alunos, foi dormir só às 6h. Passei a mão por sua bochecha, pensando em como eu sou sortudo por ter esse homem na minha vida -mesmo que a gente quase se mate todo dia.-GENTE, EU PRECISO FALAR UMA COISA! -Sempre que essa criança doida chega gritando desse jeito eu quase tenho um parada cardíaca, Steve até caiu no chão tamanho o susto. -Desculpa, pai.
-Tudo bem, anjo. -Steve se levantou, segurando na pia de mármore. -O que você precisa falar, linda?
-É... meio que sobre... não... ser linda? Talvez uma... novidade? Eu meio que... não. -Ela fechou os olhos, respirando fundo. Eu segurei a mão do meu marido, nunca tinha a visto tão nervosa. -EUSOUTRANS.
Um silêncio se instaurou na cozinha, eu tinha entendido a fala, mas não processado o que realmente foi falado. Eu sou um senhor já, e nunca fui inteirado sobre isso.
-O que? -Steve me soltou e foi mais pra perto dela. Dele? Eu estou confuso, socorro.
-Homem. Trans. Ele. Peter. -Ela... Ele, ele estendeu a mão para Steve como se tivesse o conhecendo hoje e fosse se apresentar, mesmo depois de 9 anos morando conosco.
-Você não acha que isso é só um pensamento, D-
-É Peter.
Realmente, a hipótese de não ser algo real, e sim, só uma ideia que, para ela-ELE, justificaria seu jeito masculino de ser desde nova, principalmente agora, com 17 anos, que andava só com roupas da seção masculina das lojas e cortara o cabelo bem curto. Mas ao ouvi-LO dizer "Peter" com tanta força para impedir que Steve dissesse seu nome de registro, não me parecia algo de agora.
Eu continuei apoiado no fogão, vendo Steve e D- PETER, se encarando de lados opostos da bancada, com um pouco de medo da reação de Steve. Ele sempre quis adotar uma menina, quando fomos ao orfanado, ele nem pensou muitas vezes, quando viu uma pequena coisinha brincando de corda, com 8 anos na época, ele já quase pegou no colo e saiu correndo.
E mesmo que jamais deixássemos de amar aquela pequena coisinha, não era fácil ouvir isso, não era fácil processar aquilo, mesmo que não fosse nada de mais, nós dois somos velhos, nos deem um desconto.
-Vocês querem uma explicação? -Ela-ELE (ok, isso é mais difícil do que parece) perguntou, chegando mais perto de mim.
-Por que Peter? -O tom de voz de Steve não era das melhores, conhecendo meu marido como eu conheço (e eu conheço bem), ele estava se sentindo enganado, desiludido e confuso.
-Porque foi assim que um garoto do orfanato me chamou um dia quando trocamos os nomes, tipo, "meninas" com nomes de "meninos" e vice versa. -Olhou para baixo, sorrindo fraco. -E eu me apeguei com esse nome.
-Vem cá, criança. -Puxei Peter para um abraço, que era claramente tudo que elE precisava. -Há quanto tempo já sabe?
-Meio que desde sempre. -Continuou abraçada a mim, com a cabeça no meu peito, conseguia sentir as bochechas se movendo conforme falava, e mais ainda quando sorria. -Mas eu fui me tocar disso de verdade há uns três meses.
-Alguém mais sabe? -Perguntei e senti a criança tremer.
-Meio que eu contei para dois amigos meus... -Ok, me chateia não ser o primeiro a saber, mas é compreensível, quando me assumi gay, também contei primeiro para meus amigos. -E para a Tia Nat.
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My SON // superfamily
Fiksi PenggemarTony e Steve são pais, e lidar com adolescentes nunca foi o forte deles, ainda mais com um cheio de surpresas para ambos.