Quando encurralei o Zorro nunca pensei qual seria a sua exata reação. Imaginei que seria uma mistura de confusão e tranquilidade, até mesmo achar estranho; mas nunca imaginei que ele riria. Franzo o cenho.
— Tudo está indo bem com a sua festa, Rosalinda? — pergunta sem um pingo de ironia. Mesmo não parecendo, sei que está lá. Mais uma vez lembro das longas discursões de Blanda com Carlo e Vanessa com qualquer pessoa. Treinamento melhor não há.
— Estava tudo ocorrendo perfeitamente no cronograma até um certo homem fantasiado de Zorro entrar de fininho. — digo mostrando os dentes.
— Mas não me reconhece? — pergunta gesticulando com as mãos. — Que lamentável.
Assim descubro o rosto do meu penetra zombeteiro. Reconheço os seus olhos escuros e cabelos grossos, apenas o tom da pele é diferente. Já disse em outra ocasião como seu irmão é espantosamente claro, mesmo pegando muito sol. Ao contrario de Carlo, Luís não faz nenhum esforço quando o assunto é ar livre.
— Assim é bem melhor, Luís. — digo. — O que está fazendo aqui? Essa festa é apenas para nós, futuros formandos, velhos caquéticos. — digo apontando para o salão. Sigo até a mesa de madeira e sento sobre ela.
— Sabe, você costuma ser mais esperta, Rosa. — comenta debochado. — Para alguém que nunca se apaixonou, você gosta muito de juntar casais. — Sinto todo o sangue se esvair do meu corpo.
— Você tem alguma coisa a ver com a maçaneta? — pergunto.
— Que acusação severa! — diz. — Não, não fiz isso. Pode você e Larissa levar os créditos por aquela cena.
Cerro os punhos. Luís sempre foi um menino mimado e insuportável. Onde quer que ele queria chegar pode demorar mais um segundo ou uma hora para contar. Levanto o olhar para admirar uma das lâmpadas que se estendia dessa gigante casa, atravessando por todo segundo jardim. Algumas árvores estavam brilhando com os piscas-piscas ao seu redor.
— Poderia ser breve. Tenho uma festa para monitorar. Se quiser ficar, fique. Já não faz diferença.
— Não era isso parecia, já que você me perseguiu com tanto empenho. E outra, acho que não terei muito para ver, pois a suas cobaias estão vindo. — Viro a cabeça procurando-as. Tento fazer parecer esse movimento desesperado menos desesperado arqueando a sobrancelha.
— Não as vejo. — Sorrio maliciosa.
— Daqui a pouco as verá. — Luís ira sobre os tornozelos e começa a se afastar. Ele estagna e, como se repensasse em suas ações, vira-se para mim. — Acho que temos tempo para mais uma pergunta. Por que você, que hoje está vestida e desempenhando o papel de cúpida, nunca namorou ou pareceu se apaixonar por alguém?
Encaro-o embasbacada. Ninguém nunca havia feito essa pergunta para mim, mesmo eu sabendo que alguns morriam de vontade de faze-la. Engulo em seco. Os olhos negros de Luís cresciam na expectativa da minha resposta. Engulo em seco mais uma vez.
— Não preciso. Nunca precisei nem senti necessidade. Quando um dia acontecer, ótimo. Se nunca acontecer, sem problemas. Estou feliz. Amo as pessoas, minha mãe, meu pai, meu irmão, não preciso de um namorado para amar. Por enquanto continuo sem me apaixonar por alguém e estou ótima.
Ele sorri. Um sorriso felino. Enterro as unhas na palma da mão. Sinto uma pontada de dor. Se eu achava terrível a ideia da Vanessa aparecer de repente, ou de uma crise de Carlo e Blanda, ou ideia de não ajudar Juan e de ter sido um erro juntar Marisia e Edwin, ou nunca deixar meu legado, o sorriso de Luís vencia. Frio, calculista, sentindo prazer em saber que o nosso tempo havia acabado. Sabia disso e agora eu também.
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A Cada Badalada dos Corações
Teen FictionO maior desejo de Rosalinda é mudar, causar um impacto na vida dos seus colegas. Para isso virar realidade, Rosalinda cria uma festa fantasia e fará de tudo para seus planos concretizarem. Ajudar Juan, primo de Edwin, se encontrar e para isso a ajud...