A brisa noturna é maravilhosa. Amo festas, mas odeio a bebida derramada, as cotoveladas e o calor insuportável. Por essas e outras razões aceitei na hora quando Juan perguntou-me se gostaria de ver o telhado.
As estrelas são mais coloridas, mais próximas aqui. Consigo ver seu brilho por de trás de tanta fumaça. Essa pode ser considerada uma vista privilegiada, considerando que estamos na cidade gigante São Paulo.
Ouço um suspiro pesado vindo do meu lado. Viro a cabeça na direção de Juan. Ele é estranhamente alto, magro e cheio de espinhas e marcas de acne, mas possui certa beleza. Desde a hora em que subimos não trocamos mais nenhuma palavra. Analiso seu semblante, recontando-me na única coisa que impede de nós dois caímos. O concreto machuca um pouco os cotovelos expostos. Um pouco sisudo eu diria, melancólico nos olhos pode ser e, com certeza, perdido.
— O que está fazendo? — pergunto amargo. Torço o nariz.
— Te observando. — respondo tentando manter a voz tranquila. — Queria entender o que se passa nessa sua cabeça. Trouxe-me aqui e nada diz. Me pergunto a razão desse ato.
— Rosalinda havia pedido para eu te levar aqui em cima. — responde direto. — Disse que daqui a pouco se juntaria a nós.
— Ah. — Afinal, por que eu disse isso? Ela mesma havia pedido para eu ficar de babá de Juan. Ele é quase um homem! Essa tarefa não deveria ser cogitada, para inicio da conversa. — Isso tudo se resume a Rosalinda. — murmuro para mim mesma. Pelo olhar questionador de Juan imagino que eu não tenha mantido tão para mim quanto eu pensei.
— Como assim?
Viro-me para encarar um pouco mais as estrelas. Nesse cenário atual creio que são as mais belas e racionais.
Juan se mexe desconfortável, com a visão periférica, escrutínio. Ele parecia um tanto quanto desconfortável com a situação. Quando parece finalmente aquela coisa que o fazia remexer se aquietara, ele suspira alto.
— Como eu amaria fazer parte delas. — sussurra. Tento fingir que não ouvi a sua confidencia, muito menos que estava curiosa. — Sabe — diz referindo-se a mim — as estrelas, o espaço. As coisas parecem mais simples e bonitas daqui. Deve ser interessante fazer parte de um grupo tão singular.
— O céu? O universo? — pergunto sem entender onde ele queria chegar.
— Sim.
— Bem... — comprimo os lábios pensativa. — Acho que devo concordar com você, sobre ser único. Todavia você faz parte sim. Você está aqui. Você está aqui. — repito segurando o seu braço fino.
— Mas não desse jeito. Queria ser um astro. Uma estrela quem sabe, um meteoro. — Abaixa o olhar encarando-me.
— Eu, se pudesse escolher o que ser, escolheria ser uma bela borboleta. — digo. Quando entendo o que eu disse forço-me a completar o pensamento. Foi tão espontâneo que não consegui nem refletir antes de responder-lhe. —Eu teria as asas mais belas, porém não ligaria. Imagino que simplesmente poder voar já está bom o suficiente. Minha existência seria curta, por isso aproveitaria ao máximo.
— Foi uma boa escolha. — responde com um sorriso tímido. Ele não deve flertar com frequência, mal deve conversar com um grupo mediano.
— Do que é a sua fantasia? — pergunto mudando de assunto tentando evitar o silencio. Temo que se não prosseguirmos regrediremos a um silencio constrangedor.
— De Mr.Darcy.
— E quem o vestiu? — pergunto segurando o riso. Acho improvável que ele mesmo tenha escolhida a fantasia, muito menos dele conhecer Orgulho e Preconceito de Austen. Ele tem mais cara daqueles garotos que amam assistir anime e gastam todo o dinheiro com mangás e seus bonequinhos. — Sua namorada?
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A Cada Badalada dos Corações
Teen FictionO maior desejo de Rosalinda é mudar, causar um impacto na vida dos seus colegas. Para isso virar realidade, Rosalinda cria uma festa fantasia e fará de tudo para seus planos concretizarem. Ajudar Juan, primo de Edwin, se encontrar e para isso a ajud...