Ele Não É Meu #1 [✓]

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Meus dias se dividem assim: 4 horas na escola, 8 horas dormindo e 12 horas pensando em desistir de tudo.

Minha mãe só quer se aproximar de mim em momento inoportunos, quando não estou afim. Mas quando quero realmente falar com ela, ela se ocupa com outra coisa, como outro dia, quando ganhei 5 pontos em matemática:

- Mãe - cheguei da escola e ela estava na sala com o celular -, estou tão feliz! Ganhei cinco pontos em matemática!

Eu estava muito feliz mesmo, porque eu sou péssimo em matemática e não é todo o dia que eu ganho 5 pontos por descobrir o valor da hipotenusa de um triângulo retângulo.

Mas minha mãe não respondeu nada, e continuou no celular.
Tentei chamar a atenção dela mais uma vez:

- Minha média vai ficar bem melhor esse período. - falei um pouco mais alto e entusiasmado.

Nenhuma resposta.

Isso partiu meu coração.

Eu esperava que ela viesse e me desse parabéns e me dissesse que eu devia continuar estudando pra tirar mais que 5 e que eu era o filhinho dela e que ela me amava e tudo mais.

Naquele dia, passei 15 horas pensando em desistir.

Meu coração se dobra e se quebra muitas, muitas vezes.
E nasce novamente a cada amanhecer.

Mas agora meu tempo se organiza de outra maneira: 4 horas na escola, 8 horas dormindo, 10 horas pensando em desistir e 2 horas na casa de Sussane falando sobre os mais diversos assuntos.

Minha rotina é essa há duas semanas.

Não vi Scotty ainda, porque, segundo sua irmã, ele estava tendo aulas de francês particulares.

Espero, de todo o coração, que essas aulas acabem logo.

A mãe deles parece que foi tirada de uma revista de moda. A casa então, nem se fala.

Tudo o que posso dizer sobre os McCatty é que eles têm muito, muito, muito dinheiro. São, praticamente, a família mais rica de Orlando. E, talvez, da Flórida inteira.

Logo na primeira semana, houve um momento em que chegamos na hora do chá da Sra. McCatty e as amigas, elas nos convidaram para acompanha-las.

Todas elas, inclusive Sussane, levantavam o dedo midinho ao levar as xícaras fumegantes de chá aos lábios. Resumindo: elas "devoraram" tudo de forma graciosa e elegante, como damas vitórianas.

Me senti como um alienígena: estava totalmente perdido!

Elas falavam sobre as tendências de primavera-verão em Paris ou em Londres, e quando me perguntavam que cores de encharpe minha mãe já havia comprado, eu respondia que as dela ainda não haviam chegado e que ela havia dito que queria me surpreender.

Mas o fato é que: minha mãe não usa e nem pensa em usar encharpes.
Falei essas coisas apenas para não parecer mais ignorante do que já estava demonstrando ser.

Depois, Sussane pediu licença e fomos para o quarto dela, que tinha o triplo do tamanho e da beleza do meu.

As paredes eram cor lilás em tons variados, as janelas iam do chão ao teto e eram cobertas por cortinas imaculadas.
A cama dela era enorme e coberta por muitos travesseiros, que aparentavam ser um mais macio que o outro.
Havia um espaço na parede que era dedicado a fotográfias, fiquei uns minutos observando.

Uma foto em especial me chamou atenção: Sussane e o namorado em uma moto, sorrindo com seus dentes brancos e perfeitos de gente rica.

Daryl Machine: o bad-boy da escola, rico, o melhor amigo de Scotty, o namorado de Sussane.

- Pode fechar a boca agora. - Sussane falou baixo quando me pegou observando a foto de Daryl. - Ele é um gato, não é?

Ela parou ao meu lado e começou a observar a foto também.

- Faz quanto tempo que namoram? - perguntei.

- Dois anos e meio.

- O Scotty tem namorada?

Eu precisava saber.

- Hum. Não. - ela fez uma pausa, mecheu em uma das fotos e completou: - Ele tenta, mas, sei lá, não dá certo.

Balancei a cabeça vagamente.

- E você, Miles? - ela se virou para mim - Como vai a vida amorosa? Fiquei sabendo que você joga no mesmo time que eu. - ela riu sem jeito.

Ri também.

- Bom, a informação está certa. E minha vida amorosa atualmente se baseia só em passar de ano.

Eu não podia dizer para ela que gostava de Scotty. Eu estragaria tudo!

Ela riu alto.

- Se quiser, tenho uns contatos...

Comecei a rir alto também.

- Talvez eu precise.

Passamos o resto daquela tarde jogando conversa fora, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti feliz de verdade.

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