9 - Salto da Fé

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Enquanto isso, Lucca corria em direção à torre de rádio. Seu guardião solitário havia assistido ao tiroteio e à explosão que eliminaram seus companheiros e ao ver o caçador se aproximando, com a arma apontada para ele, entrou em pânico. Começou a cortar a corda que segurava Elisa no alto da torre, e com a outra mão, apontava sua arma para o caçador.

         – Para trás! Eu vou cortar a corda!

         – Espere, espere. Você já está cortando. – Lucca olhou melhor e reconheceu o sobrevivente como o jovem bandido do esconderijo no Brás. – Io sei que você non quer matar ninguém. Saia daqui. Ninguém vai atrás de você.

         O rapaz fechou os olhos e atirou. O tiro passou longe de qualquer alvo em potencial, e o garoto soltou a arma e saiu correndo choramingando.

         – E dê um jeito na sua vida. – Lucca gritou para o garoto, já correndo até a corda.

        Uma rápida análise mostrou que a corda estava literalmente por um fio, se ele tentasse soltar a corda para baixar Elisa aos poucos a corda poderia arrebentar a qualquer momento. A armadilha era bem rudimentar, e não passava de uma corda presa por uma estaca, subindo por toda a torre, até uma roldana instalada de forma bastante precária no topo, agora mantendo Elisa sobre o abismo. O próprio suporte da roldana poderia ruir a qualquer momento. Lucca teria que escalar.

        Ele terminou de cortar a corda e a amarrou firme na estrutura da torre para manter a garota estável, e começou a subir. Tirando a altura e a inclinação, a escalada não era grande desafio, as vigas eram bem sólidas e apoios não faltavam. A pressa era sua maior inimiga. E o vento. Naquela altura, o ar estava frio o bastante para fazer seus pulmões doerem e suas costelas lhe lembrarem de que por duas vezes hoje ele deveria estar morto. Chegou a escorregar uma vez, mas se recuperou e logo estava alcançando a garota.

         – Elisa. – Ele chamou. – Te peguei.

         – Não é o que me parece daqui. – Ela era fria até nessas horas.

         – Io só preciso... me esticar mais...

         Lucca esticou o braço para tentar alcançá-la, mas faltava alguns centímetros. Agarrou a corda que subia por ali e tentou fazer a bibliotecária balançar um pouco. Os sons do vento assobiando, da corda rangendo e da roldana guinchando como um camundongo pouco faziam para afogar o som de seu próprio coração pulsando em seus ouvidos. Ou seria o de Elisa? No entanto, um leve estalo de algum ponto acima soou ainda mais alto e fez seu coração parar. O caçador congelou. Esperou. E então voltou a balançar. Esticou o braço e seus dedos roçaram o vestido da garota.

        – Lucca.

         – Si?

         – Eu vou cair.

Mal terminou de falar e a corda arrebentou. A gêmea despencou, soltando um grito que Lucca duvidou que ela fosse capaz. Ele saltou esperando que a próxima parte do plano se formasse em sua cabeça. Ele mergulhou e a segurou. Então pegou seu lançador de cabos e mirou na torre. O cabo zuniu e estalou na estrutura metálica, o gancho na ponta se abriu para se prender à estrutura.

        Quando o cabo sentiu o peso de seus corpos eles já tinham passado por toda a extensão da torre e já começavam a cair pelo abismo. Um tranco os catapultou para cima e os levou para mais perto da beirada. Porém o disparo não fora perfeito e, quando voltaram a cair, o gancho se soltou e estavam outra vez em queda livre.

        – Porca miseria! – Lucca segurou Elisa mais firme e estendeu a mão na direção da beirada, mirando a base de concreto da torre, sem sucesso. Os dois deslizaram barranco abaixo enquanto Lucca buscava algum apoio com uma das mãos até achar uma raiz que cedeu alguns metros antes de parar.

         – Lucca. – Ela não perdeu a expressão fria.

         – Si?

         – Escale.

Os Olhos da CorujaOnde histórias criam vida. Descubra agora