[ LIVRO DOIS ] Capítulo 11 - Matthew Strange

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— Wyatt, quer parar com isso? Mas que saco! — Tento não me aborrecer com o fato de ter que catar todas as folhas, jogos e outros objetos que Wyatt espalhou pelo quarto, pela terceira vez em dez minutos. — Não vou pedir outra vez.

Suspiro pesadamente com os olhos fechados e espero alguns segundos em silencio, até constatar que nada iria acontecer novamente. Finalmente ele deve ter entendido o recado.

Aliviado, deixo a tarefa de catar as coisas jogadas pra lá, e termino de vestir minha camiseta. Quando viro-me em direção a minha cama para pegar minha jaqueta, percebo que a mesma sumiu.

Bufo frustrado, passando os olhos pelo quarto.

"Que tal olhar para cima? " — Sua voz soa em minha mente enquanto sigo sua orientação com os olhos, encontrando minha jaqueta favorita em cima do armário.

— Muito engraçado.

Posso sentir que ele está rindo agora.

— Você sabe que está perdendo tempo, Wyatt. Não vai me impedir de sair hoje.

É sempre assim.

Quando algo contraria as vontades de Wyatt, ele se torna um chato, fazendo o possível e o impossível para me irritar e atrapalhar qualquer que sejam meus planos. Se eu pudesse, já estaria socando ele agora. Infelizmente, sei que isso é impossível.

Mas afinal, quem é Wyatt?

Não sei se posso classifica-lo como "quem", mas sim como "o quê".

Consigo descrever Wyatt como sendo meu irmão gêmeo siamês. Porém, ao invés de corpos colados, temos almas amarradas. É isso mesmo, somos praticamente duas almas em um único corpo.

Calma, eu não sou louco (ainda). Posso tentar explicar minha situação, mesmo que nem eu consiga entender direito.

Inexplicavelmente, Wyatt nasceu comigo. Não me lembro de ter passado um dia em que ele não estivesse aqui. Ele foi meu único e melhor amigo, muitas vezes chegando a agir como um protetor para mim por quase toda minha vida.

Ele sempre afastou as pessoas de mim - ou talvez eu tenha feito isso, porque não vou mentir, eu não sou bom em me relacionar com as pessoas – e sempre quis me "proteger" de tudo e todos. Digo isso pois já tentei ser uma criança normal, frequentando escolas normais e tudo mais (contra minha vontade, deixando bem claro). Só que Wyatt tornou isso impossível desde muito cedo.

Quando eu era mais novo, sempre que eu me aproximava de novas pessoas ou que eu me sentia triste, com raiva, medo ou ameaçado, coisas estranhas aconteciam. Objetos se mexiam sem explicações e eu estava constantemente falando com o "vento". Isso porque Wyatt é praticamente um fantasma, e como o resto dos fantasmas ele é –obviamente – invisível aos olhos de todos.

Eu sou o único que pode "vê-lo", e se comunicar com ele, graças ao meu dom (Ou maldição, fique a vontade para chamar como quiser).

Qual é meu dom?

Necromancia, ou seja, eu posso ver e falar com os mortos.

Eu sei. Meu poder é uma merda.

Não me considero um mutante pois mutantes tem poderes legais, ao contrário de mim. Se eu pudesse, pelo menos, virar um fantasma também, aposto que eu seria bem mais interessante.

Em todo caso, resumindo minha vida, eu e Wyatt não podemos nos separar. Somos unidos por um laço invisível, e quando tentamos nos distanciar, uma dor terrível me invade. Então eu tive que aprender a me acostumar com ele. Por longos dezesseis anos, nossa relação é baseada em "amor e ódio".

S.H.I.E.L.D - O Futuro: Jovens Vingadores | MarvelOnde histórias criam vida. Descubra agora