Capítulo 2

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 Quando vou me levantar para ir embora sinto um frio na espinha ao perceber que há alguém atrás de mim. Novamente sinto borboletas no estômago, no entanto, tenho certeza que é por medo.


 Me viro para olhar a pessoa, seu rosto é iluminado apenas pelo brilho da lua, que naquela noite estava forte. É um homem. Mais alto que eu, mais forte que eu, com toda certeza mais perigoso que metade daquela cidade. Quando olho diretamente em seus olhos, olhos esverdeados quase como a água do mar com suas variadas tonalidades, fico um pouco surpresa, ele me era familiar de alguma forma estranha. Ele me olha de forma serena e calma. A sensação evapora. No entanto por puro instinto foi um passo lento para trás, o que faz ele se aproximar mais de mim. Então, finalmente tive coragem de pronunciar alguma palavra.

 - Quem...

 - Luke - ele diz quase suavemente.

 Fiz uma discussão mental sobre se deveria contar meu nome ou não, falar qualquer coisa ou não, afinal, minhas sensações nunca erraram.
Meu corpo estava claramente rígido, minhas mãos juntas na frente do peito, meu maxilar quase doía de tão forte que eu apertava.

 - Mora aqui? - disse enfim.

 Depois refleti sobre minha pergunta idiota.

 - Sim e não.

 O olhei com um ponto de interrogação estampado na testa. Ele sorriu com minha desorientação. Um lindo sorriso. Isso me fez relaxar mais, seus olhos verdes, sua pele clara, cabelos loiros, perto de um castanho claro. Seu olhar em mim era indecifrável. Não sei por quanto tempo fiquei o analisando, até que ele se mexeu colocando as mãos nos bolsos de sua calça jeans preta. Ele usava também uma jaqueta de couro, por baixo uma camisa branca. Sem querer ri com meu pensamento dos filmes de vampiro clichê atualmente.

 - Não é educado rir de quem acabou de conhecer, Elizabeth. - Ele ri mostrando suas covinhas.

 Levei 2 segundos para notar que ele havia dito meu nome.

 - Como você sabe meu nome? - perguntei.

 - Está escrito em seu casaco.

 - Ah! Claro, minha blusa. - Minha vergonha se apresenta com minhas bochechas agora vermelhas. Logo me recompus.

 Luke era um nome que combinava com ele, mas algo nele fazia com que eu me sentisse estranha. Abaixei o olhar, e reparei que nas costas de sua mão direita havia uma tatuagem, julgo serem corvos, me surpreende que eu não tenha notado um pouco antes, era como se Luke me fizesse perder uma de minhas mais notáveis habilidades, a percepção. Minha mãe sempre dizia que eu tinha olhos abençoados para achar coisas, definir a personalidade de uma pessoa apenas a olhando por meros segundos e saber quando alguém mentia. Essa pessoa na minha frente não me deixava analisa- lo, me lembrou do Edward tentando ler o pensamentos de Bela em vão. Sim, minha comparação com Crepúsculo foi um tanto exagerada, afinal não sou um vampiro. Tenho que parar de ver esses filmes, já estou imaginando coisas demais.

 - Não está um pouco tarde pra você ficar na rua sozinha a essa hora?

 - Penso da mesma forma. - falo passando por ele um pouco tensa e apressada, o fato dele ser um enigma pra mim não me tranquiliza. Só me distrai, é como se eu tivesse sido manipulada a ficar calma. E isso certamente me enfurece muito.

 - Até mais, Elizabeth O'Brien. - ele fala sem olhar pra trás.

 O ouço também sem olhar para trás, apenas o observo pela minha visão periférica.

                                                              *            *              *

 Entro apressada em casa, dando de cara com minha avó chorando no sofá.

 - O que houve vovó? - pergunto aflita.

 Ela me olhou devagar. E tentou falar.

 - Scott... Ele capotou com o carro... - ela dizia entre soluços. - O carro pegou fogo e ele... ele... morreu... - disse por fim.

 Eu não acreditava no que acabará de ouvir, não podia ser verdade, meu primo não podia ter me deixado, ele tinha que estar vivo, ele não teria morrido assim, não, não teria, eu me nego a acreditar nisso. Senti as lágrimas rolarem. Cai de joelhos no chão. Coloquei as mãos entre os cabelos, minha garganta ardia de forma absurda, parecia que arame farpado a cortava. Todas as partes do meu corpo pareciam entorpecidas, minha visão estava ficando nublada, senti algo estranho em todo meu corpo, parecia que não me obedeceria mesmo se eu tentasse, mas não queria tentar, só queria o Scott.  A casa tremeu por um momento, ou minha visão, não tenho certeza. Depois disso só me lembro de ver tudo se apagar.

                                                                       *            *           *

 Acordei. Olhei ao redor, tinha algo preso ao meu braço, o tirei sem pensar direito. As paredes eram brancas. Eu estava em um hospital. Olhei para a janelinha da porta e vi alguém familiar, passei as mãos nos olhos e quando olhei lá de novo não tinha ninguém.
Me levantei e fui até a porta me segurando nas coisas, pois ainda tinha dificuldades para me locomover, segurei a maçaneta um tanto nervosa, girei e sai. Não havia ninguém nos corredores, andei um pouco e me assustei quando alguém segurou meu pulso.

 - Você não pode sair andando por ai desta forma.

 - Luke?

 Ouvi passos vindo em nossa direção e me virei para olhar. Era minha mãe.

 - Liz, você está bem minha filha? - Ela parecia cansada e triste ao mesmo tempo.

 - Só estou um pouco tonta.

 - Vamos, volte para aquela cama até melhorar.

 - Mãe este é... - Me virei para Luke, que não estava mais lá.

 - Quem filha?

 - ... ninguém mãe, ninguém.

 Já estava a um tempo no quarto depois de ter acordado e ainda me perguntava onde estava Luke, e o que ele fazia lá antes.

 Toc. Toc.

 - Pode entrar...

 - Filha, se sente melhor?

 - Sim mãe, onde está vovó? - perguntei olhando atrás dela.

 - Ela não estava muito bem, estava sendo examinada, mas teve uma crise e tiveram que dar a ela um calmante um tanto forte...

 - E... Scott? - Minha voz saiu num sussurro.

 - Liz, ele... ele morreu minha filha, eu mesma fui identificar o corpo, no entanto quando voltei encontrei você desmaiada e sua avó chorando ao seu lado. Sinto muito, meu bem. - ela dizia enquanto lágrimas rolavam em sua face pálida.

 Eu chorava feito uma criança, não conseguia me controlar, era desesperador perder alguém tão importante assim, do nada, sem motivo. Uma dor foi invadindo meu peito. Sentia um vazio insuportável. Por que não senti nada? Por que? Sensações idiotas, habilidade falha, não me adiantou de nada, por uma mísera falha perdi meu melhor amigo. Eu não tenho forças pra suportar isso. Meu mundo está caindo sobre minha cabeça e o chão deixando meus pés. Enquanto choro desesperada minha mãe me abraça e afaga minha cabeça. Preciso dela mais do que tudo agora.

SensaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora