Prólogo

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Após um bom banho, ligo o computador para ver os e-mails que não tive tempo de verificar no escritório. Tinha me prometido não trazer trabalho para casa, e tinha conseguido cumprir bem essa promessa. Há semanas não pegava no computador, no entanto, hoje o dia tinha sido mais corrido do que de costume. Fábio vinha reclamando das minhas ausências, mas eu gostava tanto do que fazia, que era impossível me desligar completamente. A tela se abriu e me pediu uma senha.

– Senha... senha... – Falei em voz alta como se isso me trouxesse alguma recordação, mas nada me ocorria. – E eu tenho uma senha?? Nem lembrava que tinha senha! – Talvez Fábio tivesse colocado. Passei os dedos entre os cabelos ainda molhados. – Meu Deus, que senha é essa? – Resmunguei impaciente.

Se foi o Fábio, vamos tentar algo óbvio para ele. Dedilhei no teclado, como quem digita algo rapidamente, apenas tocando superficialmente as teclas e pensei... A senha do banco! Ele era tão ruim para senhas quanto eu. Digitei uma combinação de números e letras e... Tchan ran! Senha resolvida. De primeira! Balancei a cabeça e sorri comigo mesmo. Os homens são tão óbvios.

A tela do Windows começou a abrir. Fábio chegaria em pouco tempo e eu queria já ter respondido esses benditos e-mails, assim, poderíamos relaxar nesse final de sexta-feira como combinamos.

Nunca mais havíamos saído para uma cerveja gelada como no início do namoro, mas as coisas mudam, certo? Apesar de estarmos num período mais caseiro, eu gostava de tudo aquilo. Mesmo após sete anos de casados, ele ainda me tratava como nos primeiros sete dias. Era amoroso, carinhoso. Cuidava de mim, como eu nunca tinha sido cuidada antes. Me chamava de anjo, de bebê, e quando falava, parecia que me fazia um carinho de tão melodiosa que sua voz soava. O sexo era tudo o que eu poderia esperar de um homem! O encaixe perfeito entre o côncavo e o convexo. Como se fôssemos duas peças de um quebra cabeça, que se encaixam perfeitamente. Sorri, sentindo certa excitação. Nem era possível que fosse tudo tão perfeito, mesmo depois de sete anos de casados.

A tela se abriu e como wallpaper, nossa foto no dia do casamento. Eu estava radiante. E ele lindo. Me olhava com um carinho que dava para sentir, mesmo através de uma foto. Os olhos encarando um ao outro, como se pudesse traduzir através do olhar, todo o sentimento que transbordava do coração.

Sorri e abri o Google. A página de busca se expandiu, digitei o endereço do hotmail e aguardei paciente. Comecei a responder alguns e-mails rapidamente, deixando o de Vitória por último, já prevendo que o dela seria o mais demorado.

Vitória era minha chefe há cinco anos. Era uma pessoa maravilhosa, mas sua insegurança era algo... humm... complicado. O certo nunca era certo, o errado, nem sempre era errado e o que ela queria hoje mais do que tudo no mundo, poderia não ser o mais legal amanhã. Isso tornava meu trabalho um eterno jogo de adivinhação. Qual seria a mudança de hoje? Suspirei e abri o e-mail.

Trabalhava na CEPE, Companhia Editorial de Pernambuco há cinco anos e me orgulhava muito disso. Era um emprego público e eu achava engraçado como ele me abria portas. Costumava dizer que, embora não tivesse dinheiro, tinha crédito na praça. Nunca imaginei que fosse agradecer tanto a minha mãe por ter me obrigado a passar horas estudando para passar em um concurso público. Sorri. Gostava do meu emprego. A equipe era maravilhosa, a minha chefe um amor e o trabalho, um dos melhores do mundo. Ler. Entre minhas atribuições de secretária, estava a de pesquisar e ler novos escritores. Eu poderia fazer isso de graça, mas já que poderia pagar minhas contas com isso, seria eternamente grata.

Abri o e-mail de Vitória que me pedia para pesquisar sobre um novo autor. Bruna Vieira. Pensei em deixar para depois, mas acabei abrindo a página de buscas do Google para uma olhadinha rápida na moça. Olhei para cima da minha mesinha, o manuscrito dela estava lá, mas ainda não tinha pego para ler de verdade. Bruna era uma moça que estava começando, escrevia um blog e tal. Tinha recebido uma boneca* do livro dela e estava dando uma olhada. O nome era atrativo "De volta aos quinze"... Quem nunca pensou em fazer uma viagenzinha rápida no tempo, só pra corrigir umas coisinhas e evitar umas frustrações? Sorri e me voltei a página aberta no Google. Digitei o nome dela e antes que pudesse dar enter, percebi um quadradinho vermelho no canto da tela com a letra "F" maiúscula dentro.

– O que é isso? – Me perguntei. – "F" de falha?– Cliquei no tal quadradinho, me arrependendo 2 segundos após tê-lo feito. – Vixe! Será que é um vírus? – Apertei os olhos com força pedindo a Deus que fosse qualquer outra coisa, menos isso.

Fábio iria me matar se as coisas dele no computador se apagassem por que eu apertei num quadrado vermelho onde estava escrito "F". Mais óbvio do que isso, só se tivesse em letras garrafais "Não aperte!".

– Ai, Iza! Todo mundo sabe que não se deve apertar o botão vermelho!!!

Uma tela de e-mail do Gmail se abriu. Vermelho porque é a cor da logo do Gmail e "F" é porque é a conta do Fábio, sua tonta! Respirei aliviada e me preparei para sair da tela, quando uma outra coisa me chamou a atenção. Foram cinco segundos de desespero, quando pensei ser um vírus, depois cinco segundos de alegria, quando percebi que era só um e-mail aberto e mais cinco segundos onde eu parecia está caindo em um abismo. Olhei o título de um dos e-mails. Li de novo. E mais uma vez para ter certeza. "Nova mensagem do Badoo para você." 

ClarissaWhere stories live. Discover now