Na nossa percepção de criança as mães são consideradas intocáveis, deusas, rainhas, seres de força maior capaz de manter o mundo em perfeito equilíbrio, iluminadas, perfeitas, nada as atingem, as mães são indestrutíveis, até o momento que a virmos chorar. Como assim mãe chora? Eu que choro, ela que me acalenta. Ainda lembro a sensação da primeira vez que vi minha mãe chorar, são nesses momento que percebemos que elas são como nós quando caímos e machucamos os joelhos. Tenho certeza que naquela hora tudo que a minha mãe desejava era minha avó, pra coloca- la no colo e dizer que tudo iria ficar bem. Mães são humanas, erram, sentem dores, medos...choram.
Será que eu teria feito alguma coisa? Será que eu conseguiria entender o que estava se passando dentro da minha casa? Disso eu nunca saberei, mãe também esconde os próprios problemas para tranquilizar os filhos.
21 de Dezembro de 2006 - 11 anos
Mais de uma semana oficialmente de férias, e eu já terminei dois livros seguidos, que é a segunda melhor e pior coisa do mundo quando o livro é bom, não sei o que vou fazer da vida quando a JK lançar o último livro ano que vem, acho que vou me sentir como o Harry, orfã, daqui pra lá tempo de reler outros livros. Se ler é a segunda melhor coisa do mundo, a primeira é tomar sorvete de morango com calda de chocolate, numa tarde de quinta feira junto com a minha mãe.
Para as horas boas, sorvete para comemorar, para as horas triste, sorvete para consolar, essa era a regra número 1 da nossa casa, e seguíamos bem a risca.
_MÃE, A GENTE VAI SAIR DE QUE HORAS?
_ Assim que você parar de grita dentro de casa. - ela avisa rindo ao colocar a cabeça para dentro do meu quarto ._ Precisa parar de gritar desse jeito, vai ficar rouca.
_ Já estou pronta, o Luca vai também?- pergunto e vejo o sorriso da minha mãe murchar um pouco.
_ Não, ele saiu com seu pai, foram comprar uns materiais para um projeto que seu irmão está criando.
_ O luca ainda vai colocar fogo em casa - aviso pegando minha bolsa e seguindo para a porta.
_Enquanto isso não acontece seguimos apoiando o sonho dele. - Tomamos o caminho para a rua.
_ Ele quer trabalhar na Nasa, passar o dia fazendo cálculo, Deus me livre, fico até arrepiada. - O riso da minha mãe é tão bom, impossível não se contagiar.
É nesse clima leve que chegamos a sorveteria, a moça já nos conhece e minutos depois nossos sorvetes são servidos, é uma bela tarde de verão, o céu tão azul e quase sem nuvens,, um vento leve corta as ruas, trazendo as risadas das outras crianças brincando no parquinho do outro lado da rua, sentamos no mesmo banco de sempre, debaixo de uma árvore vendo o tempo passar.
_Mãe, porque você tava chorando ontem? Eu fui na cozinha beber água e vi você chorando bem baixinho, tava com dor de barriga? - ela me abraçou antes de responder.
_ Estava só um pouquinho triste, você não chora quando fica triste? Mas já passou, as mães também ficam tristes, sabia? Não dá para ficar chorando por muito tempo quando se tem a melhor filha do mundo, a mais carinhosa, linda e inteligente. - ela me faz cócegas na barriga.
_ Mais inteligente é o Luca- Solto minha indignação.
_ Ele é o filho mais inteligente e você é a filha, combinado assim?
_ Desse jeito pode ser. - Eu tenho a melhor mãe do mundo.
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Traduções Imperfeitas
RomanceDentre todos os livros que já li uma frase me cativa mais que as outras, em um dos diálogos de O nome do vento, entre Elodin e Kvothe, eles chegam a conclusão de que: Todo saber explicito é um saber traduzido, e toda tradução é imperfeita. Sendo...