Por que eu?

4.5K 438 163
                                    


Alex

No final das contas. Damian conseguiu manter sua reputação de aspirador de pó humano e comeu tudo na metade do tempo previsto.

Que irmão maravilhoso este que tenho!

Agora era manhã de sábado e eu cantarolava uma breve melodia enquanto regava alegremente as roseiras do palácio. Era tão bom sentir as pernas cobertas por jeans surrado de novo. Não me julguem, usar saia é legal, mas eu me sinto nua quando não tenho a certeza de que meus joelhos estejam cobertos.

As garotas fizeram questão de me confeccionarem roupas de jardinagem. Deixei que elas fizessem um avental.

Estava terminando de regar uma roseira carregada de flores vermelhas quando ouvi uma voz familiar atrás de mim.

"Você está estonteante, senhorita Alexia." Disse Allan atrás de mim.

Ele usava o uniforme de guarda, mas sua postura era um pouco mais relaxada.

"Obrigada, Allan. É bom ter que deixar de lado aquelas roupas extravagantes e usar algo comum de vez em quando." Falei ajustando meu fiel boné verde oliva.

"Eu sei como é. Deve ser cansativo usar aqueles saltos toda a hora. Sério, eles deveriam ser objetos de tortura."

Não pude segurar a risada.

"Nem me fale! Tive que ficar uma hora com os pés em água gelada por causa das dores. Por um milagre eu não quebro o tornozelo." Sorri ao me lembrar dos inúmeros conselhos de Dolores sobre etiqueta.

Mantenha sua postura reta. Não permita que os cotovelos toquem a mesa. Não fique encurvada como anzol ao se sentar à mesa.

"Está com saudades da família?" Perguntou, encurtando a distância entre nossos corpos.

"Muito. Todas as noites eu penso em como eles estão. Principalmente depois do que houve no Jornal Oficial."

Sexta-feira foi o dia em que descobri uma coisa: meu estômago não foi feito para comer cogumelos. Tive que passar um bom tempo no banheiro e em uma maca tomando soro na veia e perdi a chance de aparecer no Jornal Oficial.

Hoje estou bem. Só preciso manter distância dos cogumelos.

"Eu fiquei bem preocupado quando ouvi das empregadas que você foi hospitalizada." Allan acariciou minha bochecha. E depois recolheu sua mão.

"Eu só não estou acostumada a essas comidas chiques." Dei de ombros. "Já passei por coisas piores."

De repente nossa conversa é interrompida pelo inconfundível som de tiros. Sim eu já ouvi tiros, longa história.

Soltei o regador e Allan me puxou pelo braço, fui arrastada pelo jardim enquanto o caos dominava o palácio.

"O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?!" Gritei em plenos pulmões.

"Rebeldes!" Gritou enquanto sacava a arma. "Corra! Agora!" Ele me deixou ir e me livrei das luvas de jardinagem e corri o mais rápido que minhas galochas permitiam.

Tiros corriam soltos pelo palácio. Vários funcionários corriam freneticamente enquanto pessoas que suspeito ser os rebeldes atacavam com armas em punho. Por instinto, me livrei do avental e com apenas minhas roupas surradas, corri pelos corredores. Vários rebeldes me ignoravam, como estava com roupas extremamente pobres, eu não era um alvo fácil e os guardas me conheciam. Era só eu erguer os olhos e ele me deixavam ir.

Corri sem rumo até entrar em meu quarto. Entrei debaixo da cama alta e rezei para que ninguém viesse. Depois do que se pareciam minutos, ouço alguém entrar e um par de botas de couro adrentram no meu campo de visão.

Um rebelde havia entrado.

Ele era alto. Deveria ser dois anos mais velho que eu, mas tinha uma quantidade de músculos considerável. Suas roupas eram todas negras com remendos. Ele usava uma jaqueta de couro gasto e tinha em mãos uma faca e uma pistola. Seus olhos eram azuis-gélido e seus cabelos negros. Uma cicatriz cortava sua sobrancelha esquerda.

Eu odiava admitir aquilo, mas ele era lindo. Perigosamente lindo.

De repente sinto um par de mãos grandes me puxarem pelos tornozelos e antes que eu possa gritar, uma mão calejada cobre minha boca.

Os olhos frios do homem eram indecifráveis. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. Uma mão cobria minha boca e outra colocava meus pulsos acima da cabeça.

Eu me via novamente em cima daquela mesa, mas agora, era um rebelde. Um rebelde armado.

A Seleção da Sete [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora