Preparativos

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Alex

Éramos as primeiras a chegar no avião. Estavam esperando mais duas selecionadas de províncias vizinhas e como eu estava com minha cota de tédio transbordando, Jazz e eu ficamos brincando de jogos simples como pedra-papel-tesoura e cama de gato.

"Ai meu Deus, eu não acredito!" Ouvi uma voz estridente da porta do avião.

Flora Garden, Quatro, de Whites. Uma mulher linda de cabelos ruivos encaracolados, olhos castanhos e pele morena entrou no avião seguida por ninguém menos que Angeline Newday, uma Dois de Otto.

Angeline era loira, magra com seios enormes e lábios tão vermelhos que a rosa em meus cabelos parecia desbotada e murcha. No instante em que vi aqueles olhos azuis, percebi que Angeline seria uma erva-daninha bem difícil de lidar.

"Você é uma modelo." Não foi uma pergunta. Qualquer ser que andasse com o rosto rebocado e exalasse arrogância por todos os poros seria uma canditato perfeito a posar para revistas famosas.

"Sim. E você é?" Dava para sentir o gosto do veneno por trás da máscara de inocência dela.

"Ela é a Sete, oras." Disse Flora. "É um prazer conhece-la, sou Florência, mas me chamam de Flora." Ela me estendeu a mão.

Cumprimentei-a e ignorei Angeline a viajem inteira.

"Lembra quando eu disse que todos iriam te adorar?" Sussurrou Jasmine.

"Sim."

"Pode passar a borracha. Aquela ali é incapaz de amar alguém além do próprio reflexo." Falou apontando pra Angeline que roncava no banco ao lado.

"Eu não queria dizer isso, mas eu avisei." Sorri maliciosamente. Era tão bom falar Eu avisei para alguém.

[...]

Dormi o vôo inteiro. Só acordei quando Jasmine me abraçou forte na hora do pouso.

Na hora que saímos do avião, fiquei pasma com a multidão. Pessoas de quase todas as castas, a maioria abaixo de Cinco estavam ao redor do grande tapete vermelho.

Quase todos os cartazes tinham meu nome escrito. Senti lágrimas se aflorarem em meus olhos, e toda a tensão dentro de mim se dissipou. Caminhei até uma garotinha morena parecida comigo, ela segurava um cartaz rosa com letras desengonçadas dizendo Sete é o número da sorte.

Abracei a menininha e autografei o cartaz de um rapaz loiro. Tive que passar cinco vezes pelo tapete, dando autógrafos, destribuido abraços e apertos de mãos. Todas aquelas pessoas estavam lá torcendo por mim e isso me deu a confiança que eu tanto precisava para continuar o caminho de cabeça erguida.

Ao entrar na limusine, fiquei sorrindo, radiante, até o caminho para o castelo.

"Finalmente!" Gritou uma mulher de quarenta anos. "Metade das meninas estão aqui! Temos que nos apressar!"

"Desculpe, tive que passar um bom tempo cumprimentando o pessoal." Expliquei sorrindo.

"Você cumprimentou a multidão?" A expressão dela era de espanto.

"Sim..." Falei.

Duas mulheres me levaram para um provador, onde me despiram e me esfregaram dos pés à cabeça. Tenho certeza de que noventa por cento dos pelos corporais saíram.

Depois elas me deram um roupão branco e me levaram para uma cadeira em frente a um espelho. Um homem de cabelos azuis apareceu com um cinto repleto de presilhas, tesouras, e pentes de diversos tipos.

"Então, podemos cortar de um jeito que te deixe mais sedutora, ou tingir de preto para destacar seus olhos..." Começou a falar como se tivesse acostumado com o pedido das mulheres.

"Peraí! Eu não quero tingir." Falei. Nem a pau vou mudar a única coisa que herdei de minha mãe e meu pai a qual tenho orgulho.

O homem arregalou os olhos azuis.

"Então o que deseja?" Perguntou.

"Quero parecer mais, indepente, mais forte. Quero que as pessoas olhem para mim e não pensem que eu esteja usando uma máscara. Quero parecer mais... eu mesma." Falei o olhando nos olhos.

Ele sorriu radiante.

"Em toda minha carreira ninguém me pediu isso. Será um prazer, senhorita Wolf." Ele começou a fazer sua mágica com as tesouras.

Em questão de poucos minutos, fiquei pasma com meu penteado. Meu cabelo foi cortado à altura do pescoço, eu tinha uma franja lateral, e as ondas emolduravam meu rosto.

Depois foi a maquiagem, manicure e pedicure. As mulheres foram ágeis com os alicates e tesouras, nem mesmo as cutículas mais irritantes tiveram chance. Elas me deram unhas postiças de acrílico pontudas e pedi para que pintassem como a cor do céu quando o sol se põe. Um fotógrafo apareceu e começou a tirar as fotos das unhas de todas. Ele adorou o que fizeram com minhas mãos e pés.

Depois de uma leve maquiagem para resaltar meus olhos e boca. Fui levada para um provador.

De lá, as pessoas me deram um vestido azul-bebê de alcinha. Era justo na cintura, e a saía esvoaçava em camadas como uma rosa de cabeça para baixo. Coloquei um colar de lua crescente, brincos de prata com estrelas para combinar e uma pulseira artesanal com uma pedra da lua.

Quando me olhei no espelho, mal pude reconhecer meu próprio reflexo.

A Seleção da Sete [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora