I - Sahra Medeiros

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Sabe quando você acorda e simplesmente percebe que está vivendo sem rumo nenhum? Cada ação que você faz é só feita por causa da maldita rotina. É tudo tão vazio e sem graça, mas você só faz porque tem que fazer.

Meu pai costumava dizer sempre pra mim que a rotina só existe porque aceitamos viver com ela e se parar pra pensar, João Medeiros tinha razão. Se quisermos podemos fazer coisas diferentes todos os dias e assim não viveremos em momentos monótonos e sem sal. Então o que faz a gente continuar aceitando viver junto com a rotina? O que faz a gente não ter força pra lutar por uma grande ou até pequena mudança?

A escola acabou e foi exatamente assim que comecei a me sentir. Não posso reclamar de nada! Minha vida é relativamente boa, mas quando sai do colégio acabei percebendo que não tinha uma meta pra seguir. Jade e Sophia acabaram seguindo seus caminhos e indo para fora do Brasil, enquanto eu, Sahra, apenas continuei presa aqui por nunca querer pensar sobre meu futuro.

A real é que o futuro sempre foi algo que temi e acabei criando uma "teoria" de que se você evitar seu medo não irá precisar encara-lo. Estava dando tudo certo até que não deu mais. Chega uma hora que o seu medo acaba surgindo em sua frente te dando um tapa na cara sem deixar você continuar fugindo e foi exatamente isso que aconteceu comigo. Não literalmente claro.

Inutilidade conseguia ser a palavra mais correta para descrever esse meu primeiro ano depois da prisão, mas conhecida como escola. De acordo com o dicionário online, inutilidade é o Gesto, ato ou comportamento que não acarreta frutos e resultados; improdutividade. E foi exatamente dessa forma que vivi durante um ano inteiro. Não me orgulho nem um pouco disso. Sei muito bem que a culpa é exclusivamente minha de ter sido tão inútil esse tempo todo e certas vezes acabava escutando a voz de meu falecido pai dizendo que a preguiça acabaria destruindo a tartaruga na praia. Ele sempre dizia frases que dificilmente tinha sentido, mas algumas delas ficavam presas como se realmente ele estivesse ao meu lado me dando um sermão como me dava antes.

Desde meus dez anos sempre sonhei com o momento em que poderia pisar pra fora da escola sabendo que nunca mais precisaria voltar, e quando esse momento chegou, percebi que nunca pensei realmente no que fazer depois do ensino médio. Minha meta era sair de lá e o depois disso não existia em minha mente. Depois da escola, acabei virando a tartaruga com preguiça de voltar para o mar e de certa forma senti falta de tudo. Sempre critiquei mas o colégio tinha seus pontos positivos. Afinal foi por meio da escola que conheci Jade e Sophia, e junto com ela, as duas foram embora.

São Paulo, 2018

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São Paulo, 2018

- Eu vou pegar algo para beber okay? Vocês vão querer alguma coisa? - Sophia andava na frente enquanto entrávamos no barzinho que tinha sido aberto a poucos dias. Antes mesmo de respondermos, a garota seguiu reto indo para um balcão aonde tinha um barman do outro lado atendendo a todos.

O lugar era ajeitado nada muito grandioso. Havia um cara em um canto tocando um violão e cantando uma música qualquer mas como sempre, era raro ter alguém prestando atenção em seu pequeno show. Havia algumas mesas com poucas cadeiras espalhadas por todo lugar e grande parte delas já estava todas ocupadas.

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