II - Jade Lowe

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O suor escorria pela minha testa e eu me abanava com um pedaço de papel. O ar condicionado parecia quente, mesmo estando ligado nos vinte e dois graus. As aulas haviam voltado e o estágio também.

Tirei meu tênis e senti meus pés entrarem em contato com o chão frio. Joguei a cabeça para trás e dei um suspiro prazeroso. Odiava sapatos, odiava calor. Maldito clima tropical australiano.

Observei a tela do computador. O projeto da sala de estar de um casal estava quase pronto, cores quentes como vermelho predominava na decoração e eu nunca vi alguém querer tantas plantas em um cômodo só. Samambaias, cactos e outras centenas de plantas que eu nunca ouvi falar.

Apertei os punhos quando meu supervisor jogou uma pasta com papéis em cima da mesa.

— Pare qualquer projeto que você esteja fazendo! Preciso disso para amanhã — apontou para a pasta.

— O que é isso?

— Victor fez o projeto dessa loja de sapatos. Eles queriam algo moderno, neutro e chique — falou rápido e eu apenas franzi o cenho.

Peguei as fotos e olhei uma por uma. Aquilo estava um desastre. Cores escuras nas paredes, prateleiras no meio do espaço e espelhos em todos os cantos. Não era chique e muito menos moderno. Era comum e horrível.

— Uau! Isso aqui tá horrível — fiz uma careta e ele riu.

— Exato. Arrume para mim — disse se virando. — e não se esqueça: moderno, neutro e chique.

Revirei os olhos e estralei os dedos dos pés. Precisava de marcar uma consulta com minha podóloga. Salvei o projeto da sala de estar barra estufa de samambaias, cactos e outras plantas que não sei o nome e comecei a arrumar a obra desastrosa de Victor.

Lembro que quando era pequena mamãe me levou para uma fazenda em uma cidadezinha perto de Sydney, lá tinha vários coalas e uma das alpacas mordeu o dedo de uma criança

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Lembro que quando era pequena mamãe me levou para uma fazenda em uma cidadezinha perto de Sydney, lá tinha vários coalas e uma das alpacas mordeu o dedo de uma criança. Ela chorou e eu ri. Ela chorou ainda mais quando me viu rindo dela. Até hoje eu sinto remorço, mas eu era só uma criança de dez anos rindo de uma menina de sete.

Eu só não sabia que ela havia perdido o dedo.

— Olha essa foto. Você estava super feliz brincando com o coala — mamãe contava animada. — Essa eu tirei depois que a menina ruiva foi levada para o hospital. Você ria e... ficou tão espontânea!

Cocei a nuca olhando para a foto.

Depois daquele dia, a fazenda foi fechada para visitações. A garota e a mãe apareceram em jornais televisivos contando de como a mordida foi profunda e que havia infeccionado. Ela precisou de amputar o dedo. Uma história triste, eu sei.

— Esse dia! — Elizabeth gargalhou olhando a foto. Eu estava com a cara suja de chantilly e chorava no colo de um palhaço. — As meninas 'S — Sahra e Sophia, ela quer dizer.— empurraram seu rosto no bolo, você tentou revidar mas elas correram e você chorou.

Dilemas De Um ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora