I - Sophia Lima

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Hoje faziam 6 meses que eu havia mudado de país. Se a 4 anos atrás me falassem onde eu estaria estudando hoje, eu provavelmente não acreditaria. Provavelmente não, com toda a certeza eu não acreditaria.

Passei o ensino médio todo sem saber o que eu faria depois que terminasse

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Passei o ensino médio todo sem saber o que eu faria depois que terminasse. "Ir direto pra faculdade ou fazer um intercâmbio?". Meus pais, como qualquer adulto sensato, queriam que eu fosse estudar. Para eles qualquer caminho que significava não ficar o dia todo enfiada embaixo de um bando de cadernos não valia a pena.

- Estamos só pensando no seu futuro Sophia. E se nós morrermos amanhã? O que aconteceria com você? - eles diziam.

Por um lado fazia sentido, e eu entendia a sua preocupação. Mas o que eles não pensavam era, e se eu morresse amanhã? E os meus sonhos? Os países que eu queria conhecer? Pensando nisso, quando terminei a escola coloquei na minha cabeça que eu iria viajar. As universidades não iriam sair correndo se eu esperasse por um tempo pra poder estudar.

Mas o que eu não esperava era que eu iria deixar na escola meu currículo excelente na área musical. E também não sabia que nos finais de anos algumas universidades procuravam alunos que tinham um bom currículo escolar e os chamavam para estudar, em troca de carregarem o seu nome em competições e apresentações para outras universidades.

Pode-se imaginar então minha surpresa quando, três semanas depois de minha formatura, eu recebo a ligação da minha antiga professora, dizendo que precisava conversar com meus pais pessoalmente.

Pensei em tudo que eu já tinha feito de errado na escola. Tinha certeza de que eles haviam descoberto algo e iam me fazer repetir de ano. Isso era possível de acontecer? Eu não sabia. Só sabia que estava desesperada.
Então quando meus pais chegaram em casa, tomei o maior cuidado do mundo e fui conversar com eles durante o jantar. Expliquei o que tinha acontecido e consegui deixar bem claro que eu não fazia ideia do porquê daquela ligação. Eles me avisaram que iam ligar para a diretora e agendar a visita. Eles pareciam tão desesperados quanto eu.

Eu nunca fui uma aluna exemplar. Mas também nunca fui aluna de arrumar confusão com ninguém. Nunca havia nem levado suspensão. Queria acreditar na hipótese de que a diretora havia ligado para os pais de todos da minha turma. Mas depois de conversar com Jade e Sahra, descobri que pelo menos entre nós três, eu fui a única a receber o tal telefonema.

Meus pais me disseram que a reunião foi agendada pra daqui dois dias. Parecia uma eternidade. E pelo que entendi eu também tinha que estar presente no dia. Se eu fosse ser assassinada pelos meus pais e pela diretora juntos, eu pelo menos queria testemunhas para me defenderem, então chamei as meninas para me acompanharem. Em todos os anos de escola, elas haviam sido as únicas que eu podia dizer que eu realmente confiava minha vida, então eram ótimas para desempenhar essa função.

Nós três nos conhecemos no fundamental. Nossa amizade foi ódio a primeira vista. Nós nos odiávamos, sério. Os pais de Sahra até pensaram em mudá-la de sala. Mas milagrosamente, algum tempo depois, nós fizemos amizade. Não lembro como. Talvez tenha sido no dia em que Jade contou para a sala como a família dela era da Austrália e em como ela viajava para lá todo ano e vivia cercada de cangurus. Para uma garota que nunca ia mais longe do que da escola para casa, ver fotos de cangurus com uma menina de 10 anos era incrível. Naquele dia eu falei que iria dar uma chance pra Jade. E acho que Sahra pensou o mesmo.
Tudo começou por causa de um bando de cangurus. Obrigada Austrália e obrigada cangurus.

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