Capítulo 2

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O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.
Mário Quintana


Princesa Evangelline acordava cedo. Todo dia, desde pequena. Mas agora era um costume que deixava sua aia preocupada porque era acompanhado de uma saída pra passeio de cavalo pelas florestas de Zamora. Ela acordava enquanto toda cidade dormia, antes dos cozinheiros da cidade despertarem para preparar o café, no horário que nem os Saollins estavam despertando pra acender as piras que mantinham o fogo ancestral da faculdade acesa. Ela e o seu cavalo madrugavam. Um garanhão branco, com uma grande força em seu torso musculado, de crinas macias, e patas pretas como se tivesse calçado uma bota especial. Adjouz como ela o chamara, conseguia alcançar alta velocidade com sua dona, e quem os visse pela manhã poderia garantir que chegava a voar sem ter asas.

Ninguém sabia o que ela fazia na floresta, seu pai já tinha pedido pra a seguirem com cautela mas após conseguir despistar seus perseguidores, ele tinha decidido que aquilo era algo dela e precisava respeitar. Sua filha tinha mudado certa noite e a melancolia que a acompanhava era palpável demais pra ser sentida, então deixava ela serenar isso a seu jeito.

Adjouz era seu companheiro fiel nesse momento. Todo dia no mesmo horário, Evangelline acordava com um pesadelo recorrente, e precisava sentar em um lugar silencioso e longe de tudo pra chorar, lamentar, gritar ou apenas pensar. Puxava a gaita e tocava algo, sempre a mesma canção. Sempre a mesma coisa. Sentada encostada em alguma arvore ela via o sol nascer cantando uma musica pra alguém que não sabia quem é, e nem porque não saia de sua mente.

Era quase sempre desperta do transe que estava por causa de algum barulho na floresta, e se levantava assustada, porque não queria ver ninguém. Montava no cavalo e voltava pra casa. Entrava direto no quarto ao chegar sem parar em lugar algum, ouvia sempre a mesma ladainha de sua aia falando de suas saídas e calada a deixava organizar suas roupas, seu cabelo e sua vida

Atwood estava cantando no banheiro esperando quando a princesa voltou. Colocara pétalas de rosa vermelha e rosa numa enorme banheira com água quente, derramara um frasco de chá de erva doce, e mexia no sentido anti horário c uma enorme colher de pau. A princesa amava aquele banho e ela adorava agradar. A futura rainha nunca pedia nada, e quando gostava de algo todo reino se virava pra repetir e realizar. Os súditos dos Raoden eram eternamente gratos pela proteção adquirida graças ao sangue derramado, pela bondade que permeava o reino, pelo cuidado que tinha com todos sem fazer distinção. Agradar os reis ou sua filha era como um dever prazeroso que todos adoravam cumprir.

- Seu vestido esta ficando lindo princesa, são quase 10 metros de véu, as fadinhas estão terminando e toda hora que passo pra ver fico mais apaixonada – Atwood falava empolgada enquanto soltava a longa cabeleira prateada que precisava ser mantida no alto pra dar mais liberdade quando fosse cavalgar de manha sem fios escapando solto.

- Tudo que elas fazem pra mim fica perfeito. Imagino que não falharão dessa vez – Evangelline ficava atenta ao espelho, odiava manter o cabelo no alto daquele jeito, mas odiava ainda mais não fazer suas atribuições de realeza. Era muito obediente aos ritos zamoranos, sempre zelosa de suas atividades pra não falhar c os seus. 

Após desfazer o penteado entrara na banheira e repousara o corpo cansado de cavalgar. Fechara os olhos ao encostar cabeça na borda.

- Atwood posso fazer uma pergunta? - aquilo fora inesperado, Evangelline nunca falava durante o banho.

- Claro alteza, o que quer saber?

- O que acha o Kandan?

Atwood hesitou. Ela poderia responder o que todos sabiam sobre o seu noivo dela, vinha de uma família de nobres admirados em zamora, um casamento acordado desde nascimento de Evangeline, estudara fora por anos pra ser um bom rei, e quando voltara arrancara suspiros de todas as moças de zamora. Era alto, forte e inteligente. Seus cabelos branco era cortado curto, sua barba cerrada e seus olhos cinzas deixava ele mais pálidos do que já era. Mas não deixava de ser bonito. Era de uma beleza clássica, robusta. Belo como um bom rei. E admirádo por todo condado. Mas a princesa sabia de tudo isso, ela queria algo mais e Atwood era sincera demais para não dizer.

- Acho que ele é perfeito demais pra você. E você é perfeita demais pra ele.

- isso é bom não é? - ela perguntara ainda de olhos fechados recebendo a massagem que a aia dava em seus cabelos lavando por inteiro.

- sim, alteza, vocês são suficientes, não precisam do outro pra serem o que são. São iguais.

- Ele ama zamora como eu, foi treinado pra comandar o reino, e tem um bom coração. É perfeito.

- Eu sei disso alteza, quer me convencer ou convencer a si mesma?

Evangelline se virou de vez, as águas da banheira respingaram no chão e ela estava c espuma sobre o cabelo que desciam pelo corpo, os olhos violetas faiscando em meio a branquitude solene dela e do local.

- Eu queria ama-lo Atwood, mas não consigo. Como pode achar que sou perfeita? Anos se passaram e ainda não consigo. Como viverei com ele a vida inteira sem amor?

A ansiedade era real e perceptível na angustia de sua voz. A aia sabia que eles dois seriam perfeitos juntos mas faltava paixão e fogo na relação. A rotineira calmaria poderia cansar em pouco tempo. E ela queria apenas o bem e a felicidade deles.

- Que tal sair hoje sem pensar nisso? Sair pra dançar e comer, se divertir como antes, lembra quando era mais nova e adorava esses festejos? Faça isso hoje, e depois pense em casamento, vida a dois. Apenas festeje. É primavera.

Evangelinne não entendia como isso mudaria, mas estava cansada demais de pensar sobre. Então obedeceu. Saiu do banho, vestiu algo simples pra poder celebrar.

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