Prólogo

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— Pare! — Gritou a jovem. A voz cortando o espaço da pequena e escura sala. — Por favor, pare! — Lágrimas caiam de seus olhos azuis e rolavam pelo rosto pálido.

O homem apenas a fitou. Um sorriso doentio plantado em seus lábios.

— Cale a porra da boca. — Exclamou, plantando um tapa no rosto da menina. Um ofego saiu por seus lábios rosados. Um soluço estrangulado foi ouvido.

— Boa garota... — Sussurrou, passando a asquerosa mão pela bochecha, agora marcada, da jovem.

A garota debatia-se na maca. Bisturis e seringas espalhados pela pequena mesa ao seu lado. O homem se afastou. A menina virou o rosto para o lado, lentamente, tentando ver a direção do estranho. O corpo tremia.

O homem voltou. Uma estranha seringa prateada apoiada nas mãos frias.

— Seja paciente boneca... Se você se comportar, prometo não te machucar... Muito. — Completou. Abriu sua boca, em um sorriso assustador. Os dentes brancos reluziam na luz fraca da sala sombria.

A menina fitou os olhos vermelhos do rapaz. Uma nova onda de pânico a atingiu.

— Quem... Quem é você... — Sussurrou ela em uma voz tremula. Suas mãos e pés, despidos, estavam gelados.

— Agora? — Falou, aproximando seu rosto. Os pelos da garota arrepiaram-se — Você pode me chamar de Deus.

Ela sentiu algo penetrando sua barriga. Um arfar estrangulado saiu de seus lábios secos. Sentiu um líquido espesso ser despejado dentro de si, contornando o interior de sua barriga. O inferno começou.

Algo começou a consumir. Algo que queimava. Queimava muito.

Então ela gritou. Com todo o ar que seus pulmões ainda conseguiam lhe provir. Gritou para que aquele fogo acabasse, ou que alguém o apagasse, mas nada aconteceu.

Sentia cada célula de ser corpo ser transformada em cinzas. O sangue corria de uma maneira tão alucinante dentro de si, que suas veias começaram a arder também.

Ela queria morrer. Ela precisava morrer. Não aguentaria muito tempo. Seus pulmões agora pareciam carbonizados, fazendo todo seu interior queimar.

Uma mão entrou brutalmente em seu peito, quebrando-lhe as costelas. Seu grito de dor e desespero irrompeu forte a sala, fazendo o homem acima de si grunhir. Ele odiava barulho.

A mão apertou seu coração, levantando-o dentro de si. Por um momento achou que o demônio fosse o arrancar. Ela esperava fervorosamente que ele o fizesse, porém ele não o fez.

Sentiu aquele fogo, subindo de seu estômago para o seu peito. Suas costelas,até então fraturadas, desentortando aos poucos.

— Vamos... — Murmurava o monstro sob a garota. Ele estava ansioso. Já era a décima cobaia, e dessa vez precisava dar certo. Tinha que dar certo.

Quando o fogo passou pela mão do mostro, a garota não o sentiu sobre seu coração.

Ao contrario do homem, que retorceu o rosto em uma careta de desconforto, quando o liquido espesso e ardente passou por sua mão.

A garota respirou aliviada por um momento, apenas um, antes de gritar novamente. Achava que aquele tormento tinha acabado, até sentir aquele rastro de fogo líquido subir por sua garganta, tomando por completo sua cabeça. Seus olhos, boca, orelhas, queimavam como o inferno. Seu cérebro parecia estar se desintegrando, o que a fez perder os sentidos por alguns instantes. Sentia-se, literalmente, virando cinzas.

Neste momento, o homem arrancou a mão violentamente do peito da menina. Ela deu um último grito, no qual jogou todo o restante de suas forças, antes de cair na inconsciência.


                                                                                 ❂

O coração da jovem batia lentamente em seu peito. Ela conseguia sentir o sangue correndo vagarosamente por suas veias, porém, tinha algo errado. Algo extremamente errado.

Havia uma queimação em seu sangue. Machucava de uma maneira suportável. Era uma sensação estranha e desagradável. Como um cisco, ou uma dor de garganta.

Sentiu o cheiro de algo doce e...Quente. Não se atreveu a abrir os olhos para descobrir o que era. Seu peito subia e descia em uma respiração extremamente lenta. Praticamente sem vida.

— Vamos, abra logo esses olhos! — Exclamou alguém, irritado. Ela se lembrava dessa voz. Uma onda de pânico começou a lhe atingir, fazendo sua respiração se tornar irregular, a entregando.

Sentiu algo vir em direção do seu rosto, e em um reflexo, segurou o pulso, enquanto a palma que segurava, ficava a menos de três centímetros de sua bochecha. Ela era gelada e estranhamente dura ao seu toque.

Em um reflexo assustado, abriu os olhos, plantando-os no de seu agressor.

O homem de olhos carmim ofegou.

As íris da menina a sua frente, extremamente violetas.

Havia, finalmente, funcionado.

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