Uma senhora

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Pensava nos meus 20 e poucos anos, auge de minhas expectativas, da minha vida. O ar pesado e uma xícara de café amargo.

Olhando o mundo em um contexto geral, imaginei como seria bom acordar e não sentir nada. Assim não sentiria o medo dos amantes, a angústia dos decadentes, o mal humor dos vazios ou a fome dos vagabundos.

Mas bom mesmo seria acordar e sentir tudo. A carícia dos apaixonados, a paz dos desenrolados, a vivacidade dos bens resolvidos, a alegria dos artistas desfavorecidos e, sim, sentir o medo dos amantes, a angústia dos decadentes, o mal humor dos vazios e a fome dos vagabundos.

Em uma redoma, que inclui gente, não sentir se torna um pecado. Com esse pensamento, me botei a imaginar como seria viver em função da vida, deixando de lado que ela funcionasse em função de mim. Era assim aos meus 20 e poucos anos. Ela mandava. Sem rodeios, sem preces, nada de fobias ou amarras.

O ar tornou-se ameno, o café doce.

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