Numb

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Eu me tornei tão entorpecido
Não posso te sentir aí
Fiquei tão cansado
Tão mais consciente
"Numb" - Linkin Park


Taehyung

Eu estava entorpecido.

Desde que escutei o "acordo" feito pelo advogado, eu sentia como se estivesse em piloto automático, apenas um espectador do mundo acontecendo à minha volta.

Eu não me lembro com clareza de ter arrumado minhas malas ou me despedido de Namjoon ou viajado por quatro horas dentro de um carro, mas sabia que essas coisas tinham acontecido.

- Chegamos – o policial que estava dirigindo falou e eu olhei pela janela.

Estávamos em um campo aberto enorme e eu conseguia ver construções imponentes mais ao longe. De onde eu estava não parecia haver muita segurança no local, o que era estranho, foi só então que eu notei o muro maior do que meus olhos conseguiam alcançar. O carro parou em frente ao prédio central e o policial saiu para abrir o porta-malas. Tive que respirar fundo algumas vezes antes de descer e seguir o cara que tinha levado minhas coisas pra dentro.

- Se comporte – ele falou batendo de leve no meu ombro e indo embora.

Fiquei alguns segundos encarando pela porta o lugar onde o carro estava sem acreditar que ele simplesmente tinha me largado ali.

- Bem vindo – a voz me fez virar de vez com o susto e reparei em uma garota de traços coreanos sentada sobre uma bancada. Tinha o cabelo preto liso mesclado com várias mechas de um verde meio desbotado e um pirulito estava pendurado no canto da boca que tinha um sorriso que eu só conseguia definir como indecente. – Seu celular – concluiu estendendo a mão após minha falta de resposta.

Continuei estático a encarando. Nada do que estava acontecendo ali parecia fazer sentido. Eu estava dividido entre obedecer e ser enganado ou perguntar quem era ela e parecer desrespeitoso. Na dúvida, não fiz nada.

- Anda! Me entrega o celular – ela falou novamente e eu respirei fundo.

- Não dê ouvidos a ela – outra voz se fez presente quando eu estava levando a mão ao bolso da frente da calça jeans.

Me virei vendo outro garoto, bastante parecido com aquela que ainda estava sentada na bancada, entrar por uma porta lateral. Parte do meu cérebro reparou que eu estava em um reformatório nos Estados Unidos e 100% das pessoas que eu tinha conhecido até o momento eram coreanas (ou pareciam muito ser).

Assisti, ainda estático, enquanto o garoto caminhava até a moça, agarrando a cintura dela para tirá-la de cima da bancada, apertando um botão na parede ao lado que fez soar uma campainha baixa. Segundos depois, uma senhora gordinha com cabelos firmemente presos em um coque apareceu de uma porta atrás da bancada.

- Bom dia – ela falou com um sorriso e eu me aproximei.

- Bom dia – respondi com a voz meio rouca por ter ficado tanto tempo de boca calada.

- Olha só! – a menina exclamou. – Ele fala!

- Perturbando os novatos novamente, Sun-Hee? – a senhora perguntou e Sun-Hee se limitou a abrir um sorriso sarcástico de lado ainda me encarando e sair da vista com o outro a seguindo. – Me perdoe por isso – voltei a prestar atenção na senhora. – Ela é uma boa garota na maior parte das vezes.

"Uma boa garota presa em um reformatório", pensei pra mim mesmo e me arrependi no segundo seguinte. Lembrando as palavras do meu advogado sobre a Academia Mansfield, me dei conta de que nem todos estavam ali por terem cometido algum crime, o lugar parecia estar cheio de crianças doentes ou que precisavam de algum tipo de tratamento especial. Era muita sorte eu ter conseguido uma vaga, ele disse.

The Point of no ReturnWhere stories live. Discover now