Parte Um

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A sala estava completamente quieta, as paredes brancas parecendo deixar tudo mais silencioso. Da mesma forma que minha mente.

Eu precisava entregar uma música daqui dois dias, para que os meninos pudessem então começar a trabalhar com ela. Mas eu simplesmente não conseguia escrever nada. Nada.

Zabdiel sabia que eu estava com bloqueio, e então me deu um novo caderno para compor. Era lindo, com símbolos de viagens, de música e de moda. Suas folhas eram macias e sem nenhuma linha. Material novo costumava me dar ânimo para escrever, mas o caderno não adiantou de nada.

Em Londres eu costumava observar o cinza da cidade para escrever músicas, pintando as casas com minha imaginação, e dessa forma fazendo palavras e frases surgirem em minha mente, resgatando antigas memórias.

Já aqui em Miami, morando de frente para a praia, o mar era o que despertava minha criatividade e emoções. Ouvir o som das ondas era algo que me fazia canalizar meus pensamentos para conseguir criar.

Mas sem o cinza de Londres e as praias de Miami, Zabdiel era minha forma de ter inspiração. Ele me inspirava tanto.

Minhas musicas sempre falam de experiências que eu já vivi, ou de sentimentos que tive. Atualmente, tudo isso é sobre Zabdiel.

Retomando ao problema original do momento: eu preciso compor. Mas estava sem meios de conseguir inspiração. A sala quieta não ajudava em nada.

Resolvi ir atrás de Zabdiel. Me levantei, colocando uma caneta no bolso de trás da calça e vestindo minha jaqueta. O caderno ficou preso em minhas mãos, enquanto eu saia do cômodo.

Segui pelos intermináveis corredores da emissora, conseguindo após minutos achar onde Zabdiel estava gravando o programa.

Como membro da equipe da banda eu tinha um crachá que me permitia estar ali. Não podia interromper a gravação, isso é óbvio, mas eu não tinha esse objetivo. Apenas segui até um sofá que tinha no canto e me sentei ali.

Zabdiel me viu, e ficou diversos segundos me encarando. Somente quando um dos garotos o cutucou de forma discreta foi que ele voltou a olhar para as câmeras.

Respirei fundo, abrindo o caderno e encarando sua primeira página em branco. Eu gostava de branco...

Esse simples pensamento foi o bastante. Minhas mãos começaram a escrever.

Eu não soube dizer quanto tempo a entrevista durou, mas quando Zabdiel me chamou eu tinha três paginas cheias de versos, palavras aleatórias, desenhos e rabiscos.

— Babe?

Quando levantei a cabeça para olhar Zabdiel meu cabelo se desprendeu do coque, caindo por todo o meu rosto. Zabdiel riu, estendendo a mão e colocando algumas mechas atrás da minha orelha.

— Vamos? — perguntou, me estendendo a mão.

Confirmei com a cabeça e me levantei. Ele pegou o caderno e entrelaçou seus dedos aos meus. Minha outra mão subiu pela dele que estava na minha, até a dobra de seu braço, o segurando. Saímos de lá juntos, sem dizer nada.

Quando eu estava compondo eu mergulhava em um mar de sentimentos, me deixando totalmente frágil por fora enquanto minha mente ficava a mil. Zabdiel sabia disso. E por conta desse fato ele tinha o maior cuidado comigo após eu parar de escrever. Tratava-me como uma boneca frágil de porcelana. Eu não reclamava disso.

Naquele momento, assim como em todos os outros, eu me sentia exposta para mim mesma. Minha mente aberta colocava sentimentos para fora. E eles me assustavam. Principalmente seus detalhes.

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