Parte Cinco

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Eu não sabia que horas eram quando nós finalmente chegamos à cobertura. Richard tinha sido o primeiro, e estava jogado em um puff que tinha ali. Quando Christopher chegou parecia acabado, o cabelo bagunçado, os óculos tinham sumido e sua roupa estava uma bagunça.

Meu Deus...

Ele se juntou a Richard, quase deitando em cima do colega de banda.

Zabdiel e eu seguimos até a beirada, nos apoiando no baixo muro que tinha ali.

A vista era simplesmente linda. Lá em baixo o mar estava a poucos metros do prédio, as ondas fortes sendo audíveis mesmo á vinte andares acima. Do outro lado se podia ver a cidade de Miami, brilhando na escuridão.

— Eu não sabia que estávamos perto do mar — disse Zabdiel, olhando as ondas.

Apoiei-me na beirada, me inclinando e apoiando o rosto nos braços. O sol começava a nascer ao longe, os primeiros raios do dia começando a surgir lentamente.

Era simplesmente lindo.

— Claire vai viajar com a gente em turnê — falou Zabdiel, parando ao meu lado. — Ela vai ajudar a equipe de dança. Você também podia ir junto. Com a equipe de... Produção?!

Soltei uma risada, me virando para ele.

— Vou trabalhar com vocês a distancia agora. Já fiz a parte principal do meu trabalho — respondi, levantando a mão e acariciando o rosto de Zabdiel. — Você é tão lindo.

Ele soltou um suspiro baixo, passando os braços por minha cintura, me deixando frente a frente com ele.

— Por que eu to sentindo que você esta nostálgica?

Neguei com a cabeça, não falando nada por alguns minutos.

— Você sabe que, no nosso meio de trabalho, existem pessoas a cima de nós, não é? — perguntei. Ele confirmou com a cabeça. — E que elas tomam decisões por nós.

— Não gosto dessas pessoas.

Soltei uma risada baixa. É claro que ele não gostava...

Fiquei alguns minutos em silêncio, apenas olhando para Zabdiel.

— Okay, tem alguma coisa te incomodando muito. O que é? — me perguntou.

— Eu odeio pensar que um dia vou ter que te deixar — comecei, correndo a ponta dos dedos pelas veias em seus braços. Olhei para baixo, seguindo meus dedos com os olhos. — E odeio pensar que esse dia é hoje. Eu só queria poder congelar o tempo, e não deixar o sol sair nunca. Voltar para o inicio desse prédio e fazer tudo de novo.

— Soph, o que você ta falando?

Mordi a boca, levantando o rosto. Sorri para Zabdiel.

— Lembra que eu disse que não queria que você fosse ao desfile, e que iríamos conversar depois?

Zabdiel negou com a cabeça, me soltando, ele deu um passo para trás.

— Por quê? — perguntou, me olhando. Ele parecia perdido. Chocado. Magoado. Confuso. Aquilo me apertou o coração.

— Um dia você me pediu para que se eu fosse embora, fosse para ser da mesma forma que cheguei. Sem avisos e explicações.

— Eu estava bêbado! — exclamou, sua voz se elevando. Ao ouvir que estava falando alto, ele respirou fundo, passando a mão pela cabeça. — Se você quer terminar comigo tem ao menos que me dizer o porquê.

— Você aceitaria uma mentira como por quê?

Ele deu outro passo para trás, se virando com as mãos na cabeça.

Bati o pé no chão, fechando minhas mãos em punho, tentando não chorar.

— Zabdiel, olha pra mim — pedi, encarando suas costas. — Zabdiel — chamei, minha voz falhando, as lagrimas começando a cair. — Por favor.

Ele não se virou. Naquele momento eu senti como se meu coração estivesse se rompido, meu medo se tornando real. Eu estava terminando com ele. Eu não conseguia acreditar em minha crueldade.

Levei a mão à boca, impedindo um soluço que subia.

— Zabdiel... — chamei uma ultima vez, minha boca tremendo.

Ele não virou. Encarei suas costas, contendo o impulso de ir até ele e o abraçar. Me virei, começando a andar em direção a porta que tinha ali.

Quando cheguei ao elevador, Zabdiel tinha se virado, me olhando ir embora.

Assim que a porta se fechou eu me permiti cair em lagrimas.

Aquela foi a ultima vez que vi Zabdiel. 

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