Distração Mútua

Capítulo Oito

OWEN TOM SILLER

Kristen já me esperava no estacionamento quando apareci na Picape. Meu corpo estrala com dores nas juntas, mas continuo me aproximando. Minha mente explodia pelas mensagens de Loren de manhã e só de lembrar a madrugada passada... Ah, eu queria socar aquele velho bêbado até me sentir saciado. Não era justo. Uma menina como Kristen não devia passar por aquilo. Ninguém devia.

A casa era um enorme desastre. Manchas em todos os tecidos, móveis de madeira quebrados e garrafas. Muitas. O cheiro da casa não era tão ruim como o do quarto, mas também não era bom. A grama era alta, as cercas estavam faltando pedaços e eu juro que vi uma janela quebrada. A casa estava um lixo e mesmo assim Kristen não pareceu se importar. Imaginei que ela já a tinha visto em situação pior e isso esquentou ainda mais meu sangue.

Eu não sabia como encará-la. Acabei dormindo no sofá e acordei mais cedo, debatendo entre arrumar a cerca ou a janela. A janela pareceu mais importante. Deixei a casa sem me despedir de Kristen, decidido que não conseguiria me controlar numa mesa de café da manhã com o pai dela.

Mais tarde, eu peguei dois pratos de salada para o almoço. Esperei por ela no mezanino e me senti um completo idiota quando a vi com os campistas. Boa, Owen! Agora ela te odeia. Comi as saladas rapidamente, como se pudessem me ver sentado sozinho com os dois pratos.

Não a vi o resto do dia. Até agora. Ela tinha todas as razões para não querer falar comigo. Sai sem me despedir e ela provavelmente teve que andar até o campus. Mas Kristen apenas acenou alegre, sem um rastro de rancor.

"Finalmente, grandão!" ela exclamou sorrindo. Como ainda podia sorrir? Parecer bem? O cabelo longo loiro e bem hidratado, solto, brilhava com o Sol do fim da tarde. Parece realmente bem. Parece.

Não digo nada, apenas entro no carro como nos outros dias e abro a porta do passageiro. Kristen entra e já começa a mexer no rádio, colocando na estação das músicas horríveis. Cantarolou algumas e até dançou com as mãos. Como ela podia estar bem?

"O dia está lindo hoje! Não acha?" ela inclinou a cabeça para fora da janela, tentando ver mais do que a paisagem tinha a oferecer "Trabalhamos no gramado hoje e foi maravilhoso!"

Dia lindo? Kristen estava na mesma madrugada que eu? Ela realmente ouviu o pai a chamando com nomes pejorativos? Eu esperava que não. Realmente torci para que o ronco do motor deixasse a voz do velho abafada o bastante. Kristen não merecia ouvir aquilo. Não quando fazia tudo o que fazia. A garota estava se matando de trabalhar para manter a faculdade, não tinha tempo para nada e ao que parecia, era responsável pelos surtos do pai.

Ela não brincava quando disse que realmente precisava de uma distração.

Kristen era um raio de sol por onde passava. Simpática e cativante. Instigava a vontade de tentar coisas novas e era a síntese de todas as coisas boas que eu podia imaginar. Era um feitiço. Enfeitiçado, era assim que eu me sentia quando estava com ela. Descontrolado, distraído e na maior parte das vezes, pensativo.

Ninguém era um poço de felicidade, muito menos Kristen. Eu sabia que ela tinha problemas com a mãe e como isso a machucava.

Voltei meus olhos ao retrovisor e encarei seu rosto alegre. Seus olhos pareciam mais fundos e demonstravam cansaço. O sorriso que dava o ar de alegria ao seu rosto, parecia cansando, quase como se as curvas nos lábios fossem pelo vento.

Tomei uma curva diferente e ela percebeu. "Ei, que caminho é esse?"

Seu corpo girou no banco e seu olhar grudou ao meu, estudando minhas feições. Ainda não tinha falado nada desde a madrugada e não queria que a primeira vez fosse desagradável, então, pensei rápido.