Capítulo Quatro

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OWEN TOM SILLER

"Muito bem! Podem ir para chuveiro e amanhã podemos montar times pra fazer um combate!" urrei em resposta à corneta de aviso das 16h30, indicando o fim das atividades da tarde.

Alguns dos atletas mais novos correram, sabendo que tinham meia hora até o ônibus sair. Os garotos mais velhos não se preocuparam em se aprontar, se juntariam para conversar no banco. Eu sabia que eles perguntariam da Prince, hóquei e garotas. Era uma clássica rotina do acampamento e todos pareciam pequenas réplicas de Ethan. Sempre era educado e fazia o papel de tiozão do acampamento.

Enquanto soltavam os patins lentamente, chequei meu celular decidi mandar uma mensagem para Kristen. Nona da consciência deu pulinhos de alegria e eu tive que rir ao me imaginar explicando tudo. Seja lá o que tudo seria.

16h33, Owen: Café? –Owen

Assinei a mensagem, imaginando que ela ainda não teria o meu número.

A turma de artes não tinha finalizado as atividades, eles não costumavam ser disciplinados com horário. Kristen provavelmente também não era. Perdi algum tempo com os garotos, respondendo as perguntas sobre os assuntos previsíveis.

Meu celular tremeu e o número de Nona brilhou na tela. Atendi sem pensar duas vezes. Não tinha ideia de como ela havia conseguido sozinha, tomar um banho decente. O pensamento de um escorregão durante o processo era visível demais para recusar uma ligação. Me despedi dos garotos já com o telefone no ouvido e fui checar o vestiário, para ter certeza que os mais novos estavam prontos para o ônibus.

"Nona?" atendi a chamada "Tá tudo bem?"

"Oi, querido!" respondeu meu cumprimento com sua voz animada "Eu estou ótima. A energia da casa que acabou e eu queria saber se você pode me ajudar com o quadro de luz. Tentei ver vídeos no YouTube, mas não entendi direito."

A ideia de Francine Siller mexendo no quadro de luz não me agradou. Principalmente porque devia estar em repouso pela cirurgia no pé. "Você tem certeza que foi problema no quadro de luz? Pagou a conta?"

O silêncio foi mais do que ela gostaria de responder.

As despesas médicas com a cirurgia foram mais que suficientes para raspar as economias até o fundo. A preocupação com as contas do hospital despistaram outros acontecimentos, como as contas de energia e a água quente já tinha acabado no domingo... Bem, definitivamente o problema não era no quadro de luz.

"Eu pago. Não se preocupe." Interrompi o silêncio e pude ouvir o soluço pesado no fundo da ligação. "Nona, não chore."

Ela desligou e não retornou nenhuma das minhas ligações. Por um momento, culpei o péssimo sinal do acampamento. O lugar era tão afastado que a maior parte do sinal ia para realizar a ligação e quando finalmente atendia, a boa do sinal era esvaído. Mas eu sabia que nem o melhor dos sinais faria o orgulho de Francine Siller atender. Ela odiava que eu tivesse que ajudar tanto na casa.

Disquei o número mais uma vez e antes e pressionar para realizar a ligação, outro nome surgiu na tela. Loren. Eu congelei. Parecia que ela sempre sabia a hora errada de ligar. Amaldiçoei o sinal de celular seletivo por permitir que uma ligação dessas fosse realizada.

"Está tudo bem, grandão?" Kristen surgiu em minhas costas e eu recusei a chamada rapidamente, guardando o telefone no bolso "Eu respondi sua mensagem, mas o sinal da minha operadora é péssimo aqui."

O que Loren queria comigo? Achei que faltar no jantar de noivado já era o bastante para compreender que eu não ia passar o feriado com ela. Por que eu deveria passar? Ela nunca me levou pra escola, nunca fez hora extra para me comprar tacos de hóquei e ao menos apareceu nos meus aniversários. Vi mais minhas vizinhas que Loren a vida toda.

Distração MútuaOnde histórias criam vida. Descubra agora