Cien

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Para Wivian.

br_fada

Eram nove da noite, as luzes da casa estavam todas apagadas, e a única iluminação vinha do abajur na sala. Uma grande mala preta posicionada ao lado do sofá, e Wivian ao lado dela.

— Você tem que me dizer o porquê! — gritei, me arrependendo logo ao ouvir minha voz ecoando alta pela casa.

Ela não me respondeu, apenas deu um passo para trás e encarou o chão, ficando em silêncio por diversos segundos.

— Só não da mais, Christopher. Não dá. — Suspirou, me olhando de relance e voltando a andar em círculos pela sala.

Respirei fundo, segurando a imensa vontade de chorar que me dominava. Minhas mãos caíram ao lado do meu corpo, suando frio.

— Assim, sem motivo algum? — perguntei com a voz baixa.

Por mais que eu tentasse entender o que estava acontecendo, eu simplesmente não conseguia. Eu tinha passado semanas fora de casa, com compromissos da banda. Tinha acabado de chegar, e no momento em que coloquei minha mala para dentro do quarto, Wivian colocou a sua para fora. "Estou indo embora", foi apenas o que disse.

— Existe um motivo sim. Mas você não entenderia — respondeu, a voz ainda mais baixa que a minha, se tornando um sussurro.

— Eu não entenderia?! — repeti. — Sou seu noivo, Wivian. Eu deveria ser justamente a pessoa que mais te entende.

Ela fechou os olhos e prendeu a respiração, os lábios se mexendo sem fazer barulho algum. Quando os abriu, foi de forma lenta, com um suspiro baixo e devagar.

— Eu quero coisas que você se recusa a me dar.

A minha vontade ao ouvir sua resposta foi de gritar outra vez. Mas me controlei, sabendo que gritar não iria adiantar nada, apenas assustá-la. Eu não queria isso.

— O que mais você quer? — A encarei, abrindo os braços e os soltando ao lado do corpo, completamente exausto. Parecia haver toneladas sobre mim naquele momento. — Eu te dei tudo o que podia.

Ela me olhou por longos minutos, com tristeza no olhar, e decepção, como se esperasse que eu fosse finalmente me dar conta de algo, mas não tivesse dado. Seu olhar era de pena, porque esse algo que ela queria parecia estar bem na minha frente, e eu não via. Se eu soubesse o que era, talvez a conseguisse fazer ficar. Mas eu não sabia, e a forma como ela me encarava por conta disso doía muito.

— Não. Você não deu — ela disse, pegando as malas e se dirigindo a porta.

Quando a vi fazer aquilo, realmente indo embora, foi quando cai em mim. Ela estava indo embora. De repente, eu me senti como se estivessem tirando todo o meu fôlego, o ar me faltando enquanto eu corria até ela.

— Wivian, espera — pedi.

Ela se virou, erguendo a mão e a colocando aberta em meu peito, me fazendo parar em sua frente.

— Não — me disse baixinho, fechando os olhos. Seus dedos se agarraram na minha camisa social preta, enquanto respirava fundo. Após segundos de olhos fechados e prendendo a respiração, foi que ela me soltou. — Não faz isso.

Ela me deu as costas outra vez, e eu tentei estender o braço para segurar ela, mas o desespero se tornou lentidão, e meus movimentos não a alcançaram. A porta se fechou, e Wivian não estava mais ali. Ela tinha ido embora.

Simplesmente embora.

Fiquei parado olhando a porta fechada, esperando que Wivian voltasse. Ela não voltou. Mas eu continuei ali, por longos minutos, encarando a maldita porta. Com o passar do tempo, meu olhar ficou vago, e não focava em mais nada.

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