— Qual seu sonho?
Foi a primeira coisa que perguntei a Yasmim quando a conheci. Ela estava parada em minha frente, seu rosto a centímetros do meu, os olhos vendados. Naquela época ela era apenas uma fã, participando de um jogo com seus ídolos.
Mais tarde, de noite, a vi novamente em uma boate, mas não sabia que era ela, já que os cabelos pretos agora estavam loiros. Fui até ela, e conversamos o resto da noite.
Naquela madrugada ela foi ao meu hotel. Ao meu quarto. A minha cama.
Na manhã seguinte foi que notei a semelhança, e vi quem ela era. Ou no caso não era.
Alexa e Yasmim são irmãs, gêmeas. Alexa vive com a mãe. Yasmim vive com o pai. Idênticas, se não fosse pelo cabelo descolorido de Yasmim. Alexa era a fã de CNCO. Yasmim apenas conhecia CNCO.
Alexa foi a escolhida para participar do jogo e conhecer a banda, mas sofreu um acidente no dia, e impossibilitada de ir pediu a irmã que o fizesse. Yasmim foi. Pintou o cabelo de preto e se passou por Alexa.
Eu não acreditei, por mais que ela tenha me mostrado uma foto das duas. Mas não demonstrei minha descrença.
Um dia depois durante um meet com fãs eu as vi. Os meninos reconheceram Alexa, achando que era ela no dia do jogo. Yasmim manteve distancia, me olhando de longe, com um olhar que dizia "eu falei".
No show daquela noite eu as vi, outra vez. Pedi a um segurança que as deixassem assistir o show da lateral do palco. Alexa surtou. Yasmim perguntou o porquê, e eu disse que era para me desculpar.
Naquela noite Yasmim conheceu meu camarim. Foi ao meu hotel. Meu quarto. Minha cama.
Os próximos dias se tornaram rotineiros. Yasmim ia ao meu hotel. Ao meu quarto. A minha cama. Todas as manhãs eu saia e a deixava dormindo, e quando voltava ela não estava mais lá. Durante a noite não nos tocávamos, e cada um dormia virado para um lado, mas ela sempre vestia minhas roupas.
Um dia me perguntou se podia levar uma camiseta minha, que eu raramente usava. Disse que gostava do cheiro. Eu deixei que levasse.
Em um final de semana saímos juntos e eu a levei a uma boate, e foi naquele dia que descobri que ela era menor de idade, e usava identidade falsa para poder beber. Ela tinha dezessete anos. Fiquei apreensivo, e não permite que ela bebesse algo sem minha permissão enquanto estivesse comigo na boate. Mas isso não adiantou de muita coisa, porque ela tomou algo e começou a passar mal. Eu não sabia se foi por beber de mais, o que eu achava improvável, ou se tinham colocado algo em sua bebida. De qualquer forma, a tirei quase carregada da boate. A levei ao meu hotel. Ao meu quarto.
Ela passou mal a noite toda, ficando horas acordadas vomitando e falando coisas sem sentido. Já era madrugada quando ela dormiu. Eu por outro lado acabei ficando acordado o resto da noite.
Quando acordou se levantou de uma vez, completamente assustada. Mas então se jogou de volta aos travesseiros ao ver onde estava, reclamando de dor de cabeça.
— Bom dia — falei, me sentando na beirada da cama.
— Por que eu sinto que não é dia?
Olhei o relógio em meu pulso, logo levantando o rosto e olhando Yasmim.
— Porque já é três da tarde.
Ela resmungou algo, cobrindo o rosto com a coberta branca.
— Meu Deus! Meu pai vai matar. Eu falei que iria voltar para casa ontem.
— Você mandou mensagem para ele ontem, dizendo que iria dormir na casa de uma amiga.
— Mandei? — perguntou, confusa, não se lembrando da noite anterior.
— Não. Mas me pediu para mandar, e eu mandei. — Fiz uma pausa. — Ele já te ligou três vezes hoje.
— Você atendeu?
Neguei com a cabeça.
— Preciso ir para casa — falou, olhando ao redor. — Onde estão minhas roupas?
Apontei para a poltrona ao lado da cama.
— Você precisa comer algo antes de ir. — Me levantei. — Vou te esperar lá fora. Vamos descer para comer no restaurante do hotel.
Sem ouvir sua resposta, sai do quarto.
Depois daquele dia eu me afastei de Yasmim, não querendo me envolver em problemas por estar dormindo uma menina menor de idade, ainda mais por estar levando ela para beber. Os Estados Unidos proíbe que alguém acima de vinte e um anos tenha algum relacionamento sexual com quem for menor de dezoito. Se seus pais descobrissem eu poderia estar em sérios problemas.
Algumas semanas depois eu estava no Japão, e só então fui me lembrar do que foi a primeira coisa que Yasmim me disse.
— Ir ao Japão.
Foi sua resposta a minha pergunta de qual era seu sonho.
Yasmim tinha uma tatuagem de dragão na coxa, e foi lembrando isso que comprei um urso gigante de um dragão, e um colar com um pingente de trevo, que era a tatuagem que ela tinha na nuca.
Após comprar aquelas coisas não cogitei entregar a ela, porque achei que seria idiotice, e com o passar dos dias eles apenas ficaram esquecidos no fundo da minha mala.
Voltei a Miami dois meses depois.
Eu não tive a intenção de ver Yasmim, mas foi inevitável. Sem que eu notasse, ela estava de volta ao meu hotel. Ao meu quarto. A minha cama.
E os presentes continuaram esquecidos em minha mala.
Mas não por muito tempo.

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Girls
FanfictionEnquanto Christopher tentava superar o abandono da noiva, Zabdiel se sentia deslocado em uma festa, e Joel conhecia a nova moradora do seu prédio... A cada novo conto, uma nova e alternativa realidade de CNCO. Livro de oneshots.