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(1ª carta)

Olá, estranho!

Se você está lendo este livro, talvez signifique que você é tão estranho quanto eu, ou apenas tenha algum professor neurótico ou algo do tipo. Mas, no caso da primeira opção, eu quero propor um desafio a você.

Bem, eu estou entediada e com muito tempo livre, então eu decidi escrever doze cartas e espalhá-las pelos livros da biblioteca. Na última delas tem o endereço da minha casa. Mas há uma pequena condição, antes de você ler a carta, você precisa ler todo o livro, isso porque algumas letras estão circuladas e você vai precisar dessas letras para descobrir qual é o próximo livro e assim por diante, até o livro doze. E não adianta tentar burlar a regra. Essa biblioteca deve ter uns dez mil livros, então se você realmente estiver disposto a aceitar esse desafio, essa é a única que você precisa seguir: Ler todos os doze livros.

Não se importe com o tempo, apenas aprecie a leitura. Eu encontro você no próximo livro, isso se você aceitar o desafio.

Com amor, L.

A CARTA ESTAVA TODA ESCRITA EM LETRA cursiva, mas a letra era bem legível. Pela forma de escrever, certamente era uma garota. Mas eu não fazia ideia de quem poderia ser ou de quanto tempo aquela carta havia ficado ali dentro. De qualquer forma, o prazo para devolver o livro já estava acabando.

Eu realmente não queria devolver o livro. Era uma das últimas lembranças boas que eu tinha de meu avô. Eu ainda sentia uma dor muito forte e, embora a vinda das meninas tivesse sido um pouco um alívio, elas não substituíam meu avô. Jamais substituiriam. Eu quis ler o livro outra vez, mas dessa bem devagar, pelo menos para ter um pouco mais da lembrança dele.

Nós homens somos instruídos desde criança que, não importa a situação, nunca devemos chorar. Mas diante de uma dor tão forte, era impossível não fazê-lo, ainda mais quando a imagem de meu avô sentado de olhos fechados e minha mãe debruçada no colo dele, aos prantos, ainda era tão nítida na minha memória. Naquela noite eu acabei dormindo com o livro sobre o peito, mesmo com todo aquele cheiro de mofo. Na verdade eu nem ligava para o cheiro de mofo. Para mim, eu estava abraçado a meu avô.

Na manhã seguinte, depois de acordar e escovar os dentes, eu fui para a sala, onde Jordan estava assistindo desenho. Eu queria que ele pudesse ter tido a oportunidade de passar mais tempo com o nosso avô. Eu tinha dezessete anos e acreditava que ainda não era o suficiente, imagina Jordan, que conviveu com meu avô pouco mais de nove.

Eu cobri meu rosto, estava tão cansado. Era como se eu não dormisse há dias, embora tivesse dormido bastante na noite anterior, meu corpo todo estava dolorido, estava me sentindo como se uma tropa de zumbis tivesse sapateado em cima de mim.

— Nath… — Jordan disse manhoso. — Eu sonhei com o vovô. Será que ele está no céu?

— Ah… eu acho que sim, Jordan… nosso avô era o homem mais bondoso que eu conheci. — E aquilo era verdade. — Eu me lembro que, quando eu era criança, pelo menos uma vez por mês ele ia no supermercado e fazia uma cesta cheia de comida para ajudar alguma família que estivesse passando necessidade. — Eu realmente me lembro daquilo. Deveríamos voltar a fazer, já que desde que o vovô ficou doente, todo o dinheiro que ia para a caridade precisava ser usado para comprar remédios. Eu tinha certeza de que ele queria que comtinuássemos o legado.

Com amor, L. (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora