QUANDO EU CHEGUEI EM CASA NOTEI que o carro de tia Grace estava estacionado em nossa porta. De fato, não tivemos muito tempo para nos reunir depois de o jantar no dia do funeral de meu avô e eu estava aliviado por minha mãe não estar sozinha naquele momento. Guardei minha bicicleta e tirei o casaco enquanto entrava em casa, logo podendo ouvir a voz de tia Mary. Ela decidiu ficar na casa de tia Grace pois disse que não conseguiria dormir aqui em casa por conta da presença do meu avô. Tia Grace e tia Mary estavam conversando sobre algo que eu não entendi direito. Com certeza as duas vieram juntas, desejando um momento em família, mas de fato, eu não estava animado para isso. Eu queria ver o que aquela segunda carta dizia e ir para a próxima.— Nathaniel? — A voz da minha mãe ecoou da sala.
“Droga, ela percebeu que cheguei!” pensei na mesma hora.
— Oi, mãe. — Respondi, bufando em seguida.
— Tia Grace e tia Mary vieram fazer uma visita. Venha aqui.
Vagarosamente eu caminhei até a sala com o livro em mãos.
— Ei, Nathaniel. — Tia Grace se levantou para me abraçar. — Como está? Vimos você passar correndo de bicicleta. Creio que não nos viu.
— Estou bem, eu acho. — Respondi com um sorriso sem graça, lhe retribuindo o abraço. — Oi, tia Mary. — Direcionei um rápido olhar para a tia mais jovem, que estava sentada, tomando uma xícara aparentemente de chá de canela. — Pois é… — Voltei minha atenção para tia Grace. — Eu fui à biblioteca devolver um livro e pegar outro.
— Ah, livros… — tia Mary suspirou após beber um longo gole de chá. — Era isso o que seu avô queria. Ele amava livros. Vivia pegando no meu pé para ensinar Lucius a ler, mas ele nunca gostou.
Lucius era o único filho de tia Mary. Depois que tio Chris morreu, quando Lucius tinha cinco anos, ela não quis se casar outra vez, ou ter mais filhos. Meu primo estava com quase quatorze anos e realmente leitura nunca foi seu forte. Ele sempre preferiu mais os eletrônicos a “pedaços de papel”, como ele dizia, talvez parafraseando algum youtuber idiota.
— Essa foi a minha mesma luta com as crianças. — Tia Grace tomou novamente seu lugar no sofá. — Hannah até gostava de ler quando era criança, mas foi perdendo o interesse ao longo dos anos. Agora ela está com quinze e eu simplesmente não consigo mais controlá-la. O Kevin… às vezes é mais sensato, mas logo ele entra nessa fase dos “teens”, eu tenho até medo. — Observei ela se servir com um pouco do chá, agora eu tinha certeza de que era canela.
— Adolescentes são assim mesmo… — Minha mãe balançou a cabeça, sorrindo de canto.
Era naquele momento em que um longo debate sobre “coisas que os adolescentes faziam” iria começar. E eu realmente não estava a fim de ouví-lo.
— Bem… — Eu disse após pigarrear — eu vou para o meu quarto ler um pouco. Se precisarem de mim, é só me chamar.
Eu me virei em direção à escada e minha mãe me chamou novamente.
— Nathaniel…
— Sim? — Eu sutilmente revirei os olhos enquanto voltava a me virar para ela.
— Acorde o Jordan para mim, por favor.
Eu fechei os olhos e apenas assenti com a cabeça, subindo a escada apressadamente. Pelo menos, o quarto do Jordan ficava em frente ao meu. Nossa casa tinha muitos quartos, cinco no total, mas não eram muito espaçosos. O de meu irmão mais novo parecia ainda menor por estar constantemente bagunçado, apesar de ser exatamente do mesmo tamanho que o meu.
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Com amor, L. (Em Revisão)
Romance"Às vezes somos guiados pelo que dizemos de nós mesmos e com muita frequência pelo que outras pessoas dizem de nós, sem que paremos para refletir e julgar." - Jane Austen Uma história de amizade, respeito às diferenças e autoconhecimento e auto acei...