O chamado do oceano

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" Eu não posso nos salvar, minha Atlantis

Nós caímos.

Nós construímos essa cidade

Em terreno movediço.

Eu não posso nos salvar, minha Atlantis

Nós caímos."

Atlantis, Seafret

Capítulo 19 – O chamado do oceano

O peso dele parecia certo em seu peito. Seus dedos trilhavam as costas pálidas suavemente, contabilizando as sardas que salpicavam cada canto da pele exposta.

Um arrepio percorreu seu corpo e o abraçou com mais força.

"Está frio."

O sentiu se mover e viu os olhos o fitando de forma indecifrável. Assim como aquela cor que nunca conseguia definir. Um caleidoscópio em que se perdia a cada segundo.

Ele franziu o nariz levemente e então puxou um lençol sob os dois.

Eric riu com isso. Uma risada que fez seu corpo tremer. Ariel bufou, mas havia um sorriso nos lábios dele, ainda o fitando, agora com os braços cruzados em seu peito.

Ele parecia menos inocente agora, mais real.

Mais humano.

E Eric se surpreendeu ao perceber – ou melhor, assumir a si mesmo – em como estava apaixonado por aquele garoto. Aquele estranho, desastrado, misterioso garoto.

E ele sabia que Ariel não era uma pessoa comum. Ele sabia, naquela informação que no momento trancava firmemente, para pensar depois, tentando ignorar todas as pistas que havia juntado para aquela charada que só apontavam para uma direção. E essa direção deveria ser impossível.

Mas ele é impossível, não é? Pensou. Ele é tudo o que eu imaginei e que seria impossível. Eu procurei tanto um mistério, que encontrei um.

Marina sempre dizia que Eric ficava obcecado por seus mistérios, e era verdade. Ele tentava controlar essa parte de si, obscura que por tantas vezes aflorava sempre que ele estava por perto, que queria o ter somente para ele.

Ariel é como o oceano. Sam havia dito.  Não se pode prender o oceano em um aquário.

Lá fora, a chuva ainda continuava, mas mais suave, como uma canção de ninar. E novamente pensou em Ariel indo embora com ele. Pensou em Ariel nas ruas de Londres, em seu café, sentando na poltrona perto da janela, lendo um de seus tantos livros. Aquele narizinho franzindo de vez em quando.

Um toque de leve em seu nariz o fez voltar a olhar para ele, que o fitava com o dedo ainda estendido com o qual havia o cutucado, e, sim, ali estava o famoso narizinho franzido.

"Oi."

Ele fez uma expressão confusa e percebeu que devia ter se perdido.

"Eu estava apenas pensando."

A mesma mão erguida, ele formou um símbolo conhecido e sorriu.

"Em quê? Em como eu queria que fosse embora comigo para Londres."

Os olhos dele se arregalaram, e Eric suspirou, passando uma mão nos cabelos vermelhos.

"Como eu queria que conhecesse um café em que sempre ia com minha irmã, sentando perto da janela e olhando a neve caindo. Um cappuccino na mesa. Suas bochechas." Ele as acariciou também . "Corando pelo frio. Assim, desse jeito."

O chamado do oceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora