Capítulo 01 - Encontro

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Paixão é um sentimento humano intenso e profundo capaz de mudar os aspectos comportamentais e os pensamentos, marcado pelo grande interesse, atração e admiração da pessoa apaixonada por alguém.
Naquela manhã enquanto eu lia o jornal na sacada, observei a rua e vi que o carteiro acabara de entregar a correspondência, levantei-me da rede lentamente e me espreguicei, logo sai em direção a caixa do correio próxima a calçada, quando ouvi proferir o meu nome, olhei em volta sem saber quem havia me chamado, mas aquela voz não parecia estranha, quando ele se aproximou eu percebi, era o Thiago, por quem eu havia me apaixonado algumas semanas atrás, não hesitei e fiz um gesto com a mão o chamando para conversar, logo ele deu um breve sorriso, se aproximou e me disse:
— Oi Julia.
— Olá, como vai?
—Bem, obrigado. E você? O que está fazendo?
— Eu vim pegar as cartas na caixa do correio, mas não tem nada de interessante, só contas. E você? Onde está indo?
— Só estou dando uma volta — ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Então, se você não se importa, eu vou entrar, estou um pouco ocupada.
— Não, espera.
— O que foi? — perguntei confusa.
— Você quer sair hoje?
— Não sei se dá, tenho algumas coisas para resolver.
Fiquei muito surpresa por ele ter me chamado para sair logo de cara, há alguns dias atrás nem estávamos conversando.
— Pode ser outro dia então? — ele perguntou.
— Não, quer saber, vamos hoje à tarde se estiver tudo bem pra você.
— Pra mim, tudo bem.
— Mas onde você quer se encontrar?
— Não sei, pode ser em uma lanchonete?
— Tá, então nos encontramos mais tarde.
Eu e o Thiago nos conhecemos há dois anos e nem sempre fomos muito próximos, ele é irmão da Luísa, uma amiga minha da faculdade. Não éramos muito de nos falar, mas com o tempo começamos a ficar mais íntimos, até que começamos a sair só nós dois e eu me apaixonei por ele, há algumas semanas eu já estava cansada de esperar, talvez ele ainda não tivesse percebido, mas eu queria saber se ele sentia o mesmo por mim, não hesitei em conta-lo, só não esperava que fosse ser tão rápido, ele disse que também sentia atração por mim e nos beijamos, não vou dizer que não gostei, mas eu não sei se aquelas palavras eram verdades ou apenas ilusões, pelo menos pra mim aquele sentimento não parecia ser falso.
Enfim, algumas horas depois, como combinamos, fomos para o que seria um encontro, ou talvez eu estivesse sonhando alto mesmo. Enfim, ele conversou comigo normalmente, como sempre, isso me fez lembrar das palavras que ele havia me dito, pois é, eu logo comecei a imaginar uma tia de condomínio que vive com gatos dizendo “Seja bem-vinda ao mundo das altas expectativas, Julia”. E bem, brincadeiras à parte, essa realmente parecia ser era uma desilusão amorosa, mas arrependimentos é uma coisa sobre a qual vou falar mais pra frente. Continuando, eu ainda o amo e não estou nem perto de desistir dos meus sentimentos, então tentei ser um pouco romântica.
Quando chegamos na lanchonete, escolhemos uma das mesas que ficava do lado de fora, eu olhei pra ele e de repente bateu um vento, meus cabelos voaram, parecia cena de filme, mas o que realmente aconteceu foi que eu comi cabelo e ele deu risada, então tentei desviar um pouco o assunto, quer dizer, um pouco não, como se aquelas palavras tivessem pulado da minha boca, eu disse:
— Você está tão lindo hoje.
— Ah, obrigado. Você também está — ele respondeu sorrindo — Você quer pedir alguma coisa?
— Na verdade não quero nada, mas aproveitando que você me chamou para sair, eu quero conversar.
— Tá bom, eu vou pedir algo.
— Não, presta atenção aqui.
— Então tá, sobre o que você quer conversar?
Tentei fazer um suspense, eu queria que ele falasse a verdade, mas dessa vez eu queria a verdade mesmo e não vou me contentar apenas com “Eu gosto de você”.
— Você lembra daquele dia?
— Que dia?
Ele perguntou com uma cara de desentendido, então tentei ser um pouco mais direta, mas ele estava tão interessado no cardápio que talvez não estivesse prestando a atenção necessária à nossa conversa.
— O dia em que nos beijamos, você lembra? É sobre isso que eu queria conversar com você.
— Sim, lembro, o que tem?
— Nada, esquece o que eu disse.
— Ah não, agora me fala.
—Eu só queria saber se você gostou.
— Ah, foi legal.
— Foi legal? — perguntei constrangida — Foi só isso que significou para você?
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Então eu não compreendi direito o que você quis dizer.
— Eu quis dizer que eu gostei muito do nosso beijo.
— De verdade mesmo? Porque o você disse que gostava de mim, mas nem falou comigo nesses dias.
— Desculpa, eu não sabia que você se sentia assim com isso.
— Está tudo bem.
Mas é lógico que não, nada estava bem, minhas dúvidas se confirmaram, eu estava mesmo aumentando minhas expectativas.
— Sabe do que eu mais gosto em você? — ele perguntou com um olhar romântico.
— Do que? — perguntei virando os olhos.
— Daqueles poemas que você escrevia para mim.
— Ah, os poemas, eu não sabia que você gostava tanto deles, as vezes você não parecia nem se importar.
— Não, eu gosto muito deles, eu ainda tenho todos guardados comigo.
— Legal, eu os escrevia com muito carinho, que bom que você gostava.
— Você ainda escreve poemas?
—Sim, às vezes. Eu comecei a escrever um livro.
— Um livro? Sério?
— Não é nada demais.
—Claro que é, você escreve muito bem!
— Obrigada, mas o que você acha?
— Eu te acho corajosa.
— Eu já escrevi o primeiro capítulo.
— Então eu te acho produtiva.
E é claro que eu tinha esquecido completamente o porquê estava brava com ele e comecei a me derreter de paixão, como sempre.
— Mas o livro fala sobre o que? — ele perguntou.
— Não vou falar, você vai ter que ler.
— Tá bom Agatha Christie, e como eu vou ler?
— Quando terminei de escrever o primeiro capítulo eu imprimi.
— Está na sua bolsa?
— Parece até que você não me conhece né? Está aqui, mas não lê agora, eu quero que você leia depois e me conte se gostou ou não, como eu escrevi a minha opinião não vale, mas eu achei muito bom.
— Ah, convencida você hein.
— Tudo bem, tem mais alguma novidade? Faz uns dias que não conversamos.
— Não tem acontecido nada de interessante nesses dias.
— E a sua irmã? Como ela está? Faz um tempinho que eu não falo com ela.
Como eu já disse antes, eu conheci a Luísa na faculdade e a nossa amizade durou por muitos anos, foi então que fui apresentada ao Thiago, e nós começamos a sair, ela ficou com ciúmes e não queria falar mais comigo, eu fiquei um pouco chateada com isso, mas logo no começo eu e o Thiago tivemos uma conexão tão forte. Enfim, o que eu ouvi da Luísa me surpreendeu.
— A Luísa está dormindo lá em casa por alguns dias. — disse ele.
— O que aconteceu? Ela não morava com o namorado?
— Pois é, mas ele terminou com ela, então ela está praticamente morando lá em casa até arrumar um lugar pra ficar.
— Eu nem imagino a bagunça que deve estar.
— Você não imagina mesmo não.
— Mas o que aconteceu? Você sabe?
— Ela estava o traindo com um amigo dele.
— O que? Não acredito.
— Sim, aí ele descobriu e mandou ela embora.
— Mas por que ela não foi para casa dos seus pais?
— Acho que meus pais não a aceitariam de volta, essa não foi a primeira vez que ela saiu da casa deles.
— Essa eu também não sabia.
— Tem tanta coisa sobre ela que você não sabe.
— Nossa que suspense, que coisas são essas que eu não sei?
— Eu também não sei, ela não me conta, mas as vezes minha irmã some por algumas semanas e depois volta e acha que está tudo normal.
— Sério? — eu perguntei surpresa — E você tem alguma ideia de onde ela vai?
— Eu nem me preocupo em saber.
— Nossa, isso é muito estranho.
— Tá, mas chega de falar da minha irmã, vamos falar de outra coisa.
— Só espera um pouco, minha mãe me enviou uma mensagem, se importa se eu responder ela?
—Não, tudo bem.

Mônica: Oi Julia, onde você está?
Julia: Oi mãe, não posso falar agora.
Mônica: Por que não? Você disse que me ajudaria a preparar o jantar de hoje.
Julia: Ah, eu tinha esquecido, eu já vou embora.
Mônica: Está tudo bem?
Julia: Sim, logo estarei em casa.
Mônica: Está bem então.
Julia: Tchau mãe.

— O que ela queria? — ele perguntou.
— Só queria saber onde eu estava, eu tinha esquecido, prometi que a ajudaria com o jantar de hoje.
— Você precisa mesmo ir?
— Sim, mas foi legal ter saído com você, mesmo que não tenhamos conversado muito.
— Tá bom, podemos marcar de sair outro dia?
— Claro, mais tarde te envio uma mensagem.
— Tchau, fala para a Mônica e para o Fernando que estou com saudades.
— Pode deixar.

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