Simples Verso

Capítulo 04 - Arrependimentos

Voltando para o presente, duas semanas se passaram desde a minha noite com o Thiago, tudo parecia normal, estava sentada no sofá da sala assistindo novela com a minha mãe, até que comecei a me preocupar, algo parecia estranho, minha menstruação estava atrasada dois dias, e eu que nem sou uma pessoa que sempre pensa no pior, comecei a me desesperar por dentro. Peguei o controle da televisão, olhei para a minha mãe com uma cara de medo e disse:
- Mãe.
- O que foi Julia?
- Presta atenção, para de ver a novela.
- O que foi?
- Eu acho que estou grávida.
Minha mãe então começou a rir do que eu disse.
- Mãe é sério.
- Ah Julia, para vai.
- Não estou brincando. Estou falando sério.
- Espera, você e o Thiago...
- Sim, já faz duas semanas.
- Ah meu Deus.
- O que eu faço?
- Calma, você tem que ter certeza, vai para o banheiro, no meu quarto tem um teste de farmácia.
-O que? Por quê?
- Não importa, vai logo.
Pois é, foi um momento de tensão, ficamos alguns minutos em silêncio esperando, e vimos o resultado do teste, a para a nossa surpresa, deu negativo. Mas isso não acabou assim.

***

No outro dia de manhã, acordei com o som da campainha tocando, mal sabia eu que o Thiago havia me preparado uma surpresa, logo levantei-me para atender a porta.
- Bom dia, Julia.
- Thiago? O que você está fazendo aqui?
- Hoje eu vou trabalhar até tarde, então eu resolvi passar aqui pra te entregar essas flores e te falar uma coisa?
- Ah, essas flores são lindas.
- Obrigado, minha mãe as enviou.
- Sério? Faz tanto tempo que eu não a vejo. Mas então, o que queria me falar?
- Julia, você quer ser minha namorada?
- O que? É sério isso?
- Sim, estou falando sério, quer que eu me ajoelhe?
- Não precisa, eu quero sim, lógico.
- De verdade?
- Claro, acho que vou chorar.
- Desculpa ter demorado.
- Tudo bem.
- Mas agora eu preciso ir, tenho que trabalhar.
- Sim, claro, pode ir.
- Até mais tarde.
- Tchau.
- Julia? Está chorando? - perguntou minha mãe.
- Oi mãe, estou.
- O que aconteceu?
- Eu e o Thiago estamos namorando.
- O que? Sério?
- Sim, ele acabou de pedir.
- Quase não dá pra acreditar.
- Pois é.
- Mas tenho uma coisa pra te falar.
- O que?
- Você tem que ver isso.
- O que mãe?
Ela então me deu a caixa do teste de farmácia que eu havia feito ontem.
- Estava vencido - ela disse.
- Por que você me deu um teste vencido? É lógico que não iria funcionar.
- Me desculpa, eu esqueci de olhar a validade. Mas eu comprei outro, você quer fazer?
- Não sei, o que você acha?
Minha mãe balançou a cabeça dizendo que sim e então fomos ao banheiro, e de novo aquela mesma cena de novela, caras de desespero, tensão, e passados alguns minutos, veio o resultado, eu peguei o teste na mãe, vi o resultado e olhei para a minha mãe por alguns segundos, logo eu disse:
- Positivo, eu estou grávida.
- Sério? Deixa-me ver.
- Está aqui, pode olhar.
- E agora? O que você vai falar para o Thiago?
- Simples, não vou falar.
- Por que não? Você não quer ter esse filho?
- Mãe, não é isso...
- Julia, se você não quiser ter esse filho, tudo bem.
- Eu teria nascido?
- Me desculpa, eu não devia ter dito isso.
- Tudo bem. Mas não vamos contar para o Thiago. Pelo menos não agora.
- E quando você pretende contar?
- Eu não sei.

***

Depois disso, fui para o meu quarto, eu precisava pensar um pouco nisso, na verdade, precisava pensar bastante, em como iria contar pra ele, afinal, ele é o pai e tem o direito de saber, então eu me deitei, chorei, chorei muito, pensei em como seria ter um filho com o Thiago, pensei em quanto dinheiro gastaríamos, pensei em quando eu disse que as coisas mudam rápido demais, e é verdade. Eu pensei em tanta coisa, então depois de duas horas, deitada sem falar com ninguém, meu avô bateu na porta.
- Julia, você quer conversar.
- A mãe te contou.
- Não, vocês conversam muito alto.
Ele se sentou ao meu lado na cama.
- Está tudo bem? - perguntou ele.
- Não, como eu pude ser tão idiota?
- Por que?
- Não era pra ter sido assim tão rápido, eu não devia ter deixado.
- Mas você o ama?
- Sim, amo.
- Então, para o amor não tem tempo.
- O que eu faço?
- Você tem que contar para o Thiago.
- Eu sei, mas não agora, eu tenho que pensar um pouco nisso.
- Tem certeza?
- Sim, eu vou esperar alguns dias

***

Pois é, alguns dias depois, me peguei distraída lendo os poemas, que eu havia escrito para ele há algum tempo. Meu coração batia forte dentro do peito, eu o amo e de qualquer forma, uma hora ou outra eu tenho que conta-lo, não tem jeito, eu vou ter esse filho e não posso cuidar dele sozinho, então eu parei com aqueles poemas e comecei a pensar, se eu conheço bem o Thiago, ele nunca abandonaria esse filho.
Então estava decidida eu tinha que conversar com ele pessoalmente, sem perder nenhum segundo eu desci as escadas, minha mãe e meu avô estavam sentados no sofá assistindo o jornal.
- Filha, onde vai com tanta pressa?
- Eu estou indo falar com o Thiago, a essa hora ele já deve ter saído do trabalho.
- Tem certeza? Não quer esperar mais alguns dias?
- Não, eu tenho que contar de uma vez.
- Tá, boa sorte, espero que ele entenda.
E bem, no dia em que me declarei ao Thiago, ele disse que me amaria para o resto da vida, e é sempre bom relembrar que as coisas mudam rápido demais, de uma forma inimaginável, e quando o telefone tocou naquela manhã, já era tarde para lhe dizer o que estava acontecendo, a partir daquele momento nada mais voltaria a ser como antes, pois aquelas palavras me destruíram.
- A morte do Thiago foi resultado de um tiro que ele levou durante uma ação criminosa, nós sentimos muito.