Capitulo I de IV - Nines Anderson

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"— Vamos, é um trabalho da faculdade. Preciso que me ajude, é só um vídeo rápido, não precisa trocar de roupa nem nada é só falar um pouquinho. — Com a câmera já em mãos, Markus praticamente implorava.

— Ok! Diga o que eu preciso falar. — Connor riu com a insistência do namorado, e cruzou os braços fingindo irritação.

— Eu quero que fale sobre três pessoas que você gosta, pode ser qualquer pessoa. — Ele focou e ajustou um enquadramento enquanto colocava para gravar.

— Já sei por quem vou começar.

— Certo, eu já estou gravando. Agora, você vai olhar para câmera falar o nome dele ou dela e começar.

— Nines Anderson."

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— Não acredito que vou fazer isso. Cuidei dele quando éramos crianças, ele cuidou de mim quando crescermos e agora... Isso. ­­— Recostou a cabeça no encosto do sofá.

— Vocês eram bem próximos, né? — Reed se remexeu desconfortável no sofá, a hesitação na voz mostrava o quão ruim ele era lidando com pessoas de luto.

— Mais do que eu gostaria. — Nines olhava para o teto sem a menor vontade de se levantar. Ele virou o rosto na direção do amigo, os olhos azuis buscando algum conforto enquanto falava. — Sabe, as vezes eu esqueço o que eu fiz ontem ou com que estava, mas tem tantas coisas que eu fiz quando era mais novo, junto dele, que eu me lembro tão nitidamente que parece que foi agora.

— Sei como é, apesar de bem... Não ter nenhum irmão. — Coçou a cabeça incomodado, estava tão perdido e sem saber o que fazer, deveria abraçar o amigo? Passar a mão nas costas dele? Escutar calado? Falar alguma coisa? Deuses como era terrível com pessoas, os crimes com que lida no departamento iriam parecer dez vezes mais simples depois de toda essa situação.

— Teve um dia em que acordamos e não tinha ninguém em casa. — Sorriu nostálgico. — Connor estava muito assustado. Eu segurei a mão dele e disse que iríamos encontrá-los, como uma aventura... E então começamos a caminhar pela calçada. — O mais novo parecia tão inerte em sua própria fala que até Gavin se sentia envolto de alguma forma. — Não demorou muito até acharmos o carro do papai com ele dentro, ele estava chorando. Chorando e quando ele olhou para mim eu soube que mamãe estava morta, não sei como eu tive tanta certeza... Eu só sabia. — Ele apertava os olhos, mordia a boca, tentava manter a voz firme. Tudo isso por não se permitir desabar na frente de Reed ou de qualquer outro. Nines Anderson, filho do tenente Hank Anderson, era o primogénito, o exemplo. Não podia ficar chorando na frente da família ou dos amigos. Seria humilhante, pelo menos era isso que o próprio Nines pensava. — Eu apertei a mão dele e tudo que eu conseguia pensar era nele e que eu devia afastá-lo de tudo aquilo. Eu me virei para ele e disse: "Vamos fazer um bolo. Fingir que é seu aniversário e ver aquele filme que a gente não terminou de assistir ontem." E ele olhou para mim falando: "Tudo bem."

Gavin Reed trabalha com o colega faz tempo, tempo o suficiente para conhecê-lo e saber que ele não era assim, não na frente dos outros. O rapaz de cabelos castanhos e olhos azuis era frio e calculista, mas se preocupa com as pessoas a sua volta do seu jeito e sem demonstrar muito... Ver aquele homem daquele jeito era o suficiente para fazer qualquer conhecido próximo entrar numa crise de não saber o que fazer, como fazer, quando fazer, aonde fazer.

Então meio desesperado e sem jeito o mais baixo o abraçou e afagou seus cabelos, Mesmo ajudando Nines fugiu desse carrinho. Ele não achava que merecia isso.

— Nós temos que ir, o velório vai começar em pouco tempo. — O mais alto disse e se levantou não querendo se aprofundar no conforto do abraço alheio. 

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