Aquém-mar

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Pouco passava das três da tarde e o sol continuava escaldante no céu de Portugal.

Sob a canga vermelha listrada em vermelho e branco, os milhões grãos de areia formavam confortável cama, amoldando-se às formas do meu corpo.

Ao meu lado, mas deitado na direção contrária, Kaldur'Ahm ergueu uma deslumbrante barra de chocolate, despindo-a do papel-filme conforme o rasgava.

Levou a até então perfeita barra a si, possuindo parte dela conforme o molde de sua mordida. O chocolate era pouco mais escuro que sua pele, e parecia feito para padecer em suas mãos.

A garrafa d'água continuava suando, como havia feito desde a nossa chegada. Agora as gotas encorpadas lhe escorriam até molhar a areia à sua volta, marcando sua presença ali.

Senti a luminescência que nos atingia aos poucos se apagar, ao passo em que a temperatura pareceu mais amena — favor nos concedido por uma pequena nuvem que nos cobriu do Sol de forma passageira.

— Kaldur — chamei —, vamos nadar?

Assim que ele prontamente se ergueu, o acompanhei até a beira do oceano. Conforme as primeiras ondas atingiram meus pés, fechei os olhos em alívio.

O ar cálido do verão me fez imaginar se alguém poderia se queimar caso encostasse em meu corpo superaquecido.  Livrar-me, mesmo em tão pouca porcentagem, daquele sentimento, era extasiante.

Continuei adentrando as águas até que elas fossem suficientes para me cobrir: então, por inteiro, resfriei. E o tempo que passei flutuando pareceu passar tão mais rápido.

— Quer voltar? — Ouvi a voz dele se projetar próxima de mim.

— Não — respondi em transe. — Vamos ficar aqui...

Àquela altura, eu já não sabia mais por quanto tempo gostaria de permanecer no mar, em sua companhia. Talvez um dia inteiro; talvez uma vida inteira.

Kátharsis // AqualadOnde histórias criam vida. Descubra agora