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Jade

- Bom dia preguicinha. - Camila adentrou a cozinha com a cara toda amassada e olhos inchados. O cabelo todo desarrumado em um rabo de cavalo mal feito. Sentou-se na banqueta, quase dormindo no balcão novamente. - Acorda Camz. - sorri ao vê-la de olhos fechados com a cabeça escorada em seus braços que estavam esticados no balcão.

- Hmm - gemeu frustrada ao ter acordar cedo - Bom dia, Jeed. - fez um bico adorável. - Já disse que odeio acordar cedo?

- Todos os dias - sorri e lhe servi uma xícara de café para, talvez, despertá-la. Sentei na banqueta ao lado oposto que ela estava, ficando de frente a ela. Camila levou a xícara até a boca, fazendo uma careta.

- Argh, eu odeio café, Jeed. - resmungou afastando a xícara com o café de perto dela.

- Que pessoa em sã consciência não gosta de café? Café é maravilhoso, sente só esse cheirinho gostoso de café fresco.

- Prefiro meu bom e velho leite com chá - fiz uma careta. Camila levantou e foi até a geladeira, pegando a jarra com leite. Foi até o armário, abriu a porta, para logo em seguida fechá-la - Porra Jade, não tem chá - fez um drama colocando a mão no coração como se tivesse doendo muito o peito por ficar sem chá.

- E agora? - ela deu ombros se sentando novamente, colocou um pouco do cereal na tigela.

- Não tem problema, depois do trabalho passo e compro. - levou a colher com o cereal até a boca. - Ei, lembro de você ter dito de entrar de férias por esses dias.

- Uhum - assenti tomando mais um gole do café. - Amanhã.

- Vai viajar? - Perguntou enquanto ainda mastigava aquele treco horrível e colorido que ela chamava de cereal.

- Não fale de boca cheia - joguei um pedaço do cookie que comia nela. Camila sorriu se desculpando ainda de boca cheia, revirei os olhos sorrindo. - Bom, vou começar a me arrumar. Vai querer uma carona? - Ela assentiu.

- Tem problema você me deixar depois do trabalho rápido no centro? Tenho que comprar umas coisinhas. - Se explicou - Mas aí você só me deixa e eu venho embora mais tarde de táxi.

- Sem problemas. - Me levantei - Preciso passar na Blue Cross e levar alguns papéis, já é caminho. -Camila franziu o cenho.

- Por que vai levar papéis no Blue Cross? Achei que você já tivesse plano de saú.. - parou um segundo pensando - Ai não, não me diga que... - me encarou e eu assenti soltando todo o ar preso em meus pulmões.

- Eu não consigo deixá-la desamparada. Eu... Eu a vi desesperada com a neném em hospital público, eu não posso deixar...

- Eu estranharia se você me dissesse que não faria nada em relação a isso - levantou-se vindo ate mim me abraçando. - Tenho muito orgulho da pessoa que você é. Queria ter dez por cento da bondade e da maturidade que você tem - acariciou meu rosto, meus olhos já ardiam, mas eu não choraria - Faz o bem independente do que ocorreu - ela forçou um sorriso me soltando do abraço. - Agora vá se arrumar, assim que você terminar eu vou. - Fui em direção ao quarto.

**
Como combinado, após o trabalho, deixei Camila no centro e fui até a empresa do plano de saúde. Consegui fazer quase tudo online, porém era necessário cópias da certidão de nascimento da neném, assim como os documentos de Perrie e da nossa certidão de casamento que ainda estava com Perrie. Como no papel ainda éramos casadas, eu conseguiria incluir a bebê no pacote do nosso plano de saúde, pagando pouco mais por isso. Era super vantajoso.

Bati na porta do meu antigo apartamento, ninguém atendeu. Dessa vez toquei a companhia e sem sinal de alguém na casa. Toquei mais uma vez e ninguém atendeu novamente. Virei as costas e fui até a frente do elevador, apertando o botão chamando-o. A porta foi aberta e ouvi meu nome sendo chamado

- Jade? - Virei e vi Perrie com sua filha no colo, a menina chorava muito.

- Oi, acho que não vim em uma boa hora - olhei para a menina se esgoelando em seu colo. Ela balançava a filha.

- Não, não. Todo dia na hora do banho é desse jeito. - Se explicou - Aconteceu alguma coisa? - perguntou.

- Ela está melhor? - fiz outra pergunta.

- Quer entrar?

- É, eu preciso falar com você.

Entrei no meu antigo apartamento, tudo estava igual, exceto por alguns objetos coloridos e infantis que eu acredito que pertença à filha de Perrie.

- Senta - sentei no sofá. Ela continuou em pé balançando a menina que não parava de chorar, pelo contrário, o choro parecia aumentar. - Vou tentar acalma-la e já conversamos.

Ela ninou a criança, deu chupeta, deu gotinhas de um remédio que não consegui ver o nome e a menina continuava a chorar. Sentada naquele sofá, observando a cena de Perrie ninando uma bebê, conversando com ela amavelmente, me fez lembrar o quanto sonhei um dia de ter um filho com ela. Fez-me lembrar das várias noites que fazíamos planos de ter um bebê só nosso, mas isso só depois de vê-la formada na faculdade, com uma profissão. Mas o destino é mesmo sacana, não é mesmo? Deu-me uma rasteira e me mostrou que nem sempre tudo ocorre como planejado.

Vi-me com lágrimas nos olhos ao pensar que tudo era pra ser diferente. Que essa bebê que a mulher que, infelizmente, eu ainda amo, balança não é meu. E que essa mulher que eu amo já não é mais minha. Suspirei, limpando os olhos vendo que a bebê agora já estava mais calma agarrada ao peito da mãe, sugando o seu leite como se fosse um calmante.

- Se importa se eu amamentar enquanto conversamos? - Se sentou no sofá oposto ao que eu estava ficando a minha frente. - Se quiser, eu posso cobrir.

- Não, claro que não. - Balancei a cabeça - Bem, eu vim até aqui porque preciso de uma cópia da certidão de nascimento da sua filha, dos seus documentos e da certidão de casamento. - Perrie me olhou confusa - Pesquisando, eu vi que conseguiria incluir ela no plano de saúde que temos. Eu pagaria pouca diferença. E antes que se negue, já digo que esse valor seria descontado do valor mensal que você receberá até a maioridade.

Perrie ficou em silêncio, parecia pensar enquanto mexia nos cabelinhos da filha que ainda mamava. Permiti-me observa-la, Perrie estava mais magra, a cor de sua pele já não era mais a mesma, parecia mais pálida. Já não tinha mais aquele olhar vivo, os braços pareciam maiores devido à magreza. Somente seus seios estavam grandes, cheios.

- Por quê? - A encarei - Por que você está fazendo isso depois de tudo que eu fiz?

- A verdade é que nem eu sei a resposta para sua pergunta, Perrie. Me faço essa pergunta milhões de vezes ao dia. Por quê? O que eu sei é que não consigo ser uma pessoa ruim, mesmo quando eu queria ser. Por que, Perrie? Me responde você os tantos por quês sem resposta até agora... - Meus olhos assim como os de Perrie, se encheram de lágrimas. - Eu sempre dei tudo o que você precisava, e não me refiro só ao sexo não. Eu te dei amor, carinho, um lar, uma família. O que faltava, Perrie?

- Eu não sei - sua voz saiu tão baixa, quase não consegui ouvi-la.

- Quando você descobrir me diga, eu quero realmente saber onde é que eu falhei. - Meu peito ardia, minha garganta ficou seca.

Meu celular tocou, era Camila perguntando se eu já estava em casa, eu disse que demoraria mais um pouco e que ela poderia ir de táxi. - Você pode pegar os documentos, por favor? - Perrie assentiu de cabeça baixa.

Ela tentou tirar Olivia do peito para se levantar e buscar os documentos necessários, porém a menina começou a chorar. Perrie a voltou ao peito, levantando-se com dificuldade, ela continuava desastrada, isso não havia mudado nada. Foi ao quarto e voltou com uma pequena bolsa onde guardava todos os documentos. Sentou-se novamente para, com uma das mãos, separar todos os documentos que pedi.

- Amanhã mesmo te devolvo. - Me levantei, ela fez menção em levantar - Não precisa se incomodar, eu sei bem onde fica a porta. - Abri a porta, estava quase saindo, mas Perrie me chamou.

- Jay. - a encarei esperando falar algo - Eu amo você. - Seus lábios tremiam formando um beicinho, era nítido que ela tentava não chorar.

- Tchau, Perrie. - fechei a porta antes que eu começasse a chorar.

Pequena Consequência | Jerrie Onde histórias criam vida. Descubra agora