24 - Extra

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Nunca em toda minha vida eu imaginei que a maternidade fosse uma tarefa tão difícil. Enfrentar tudo isso praticamente sozinha torna-se um desafio um pouco maior. Já era difícil com Olivia, agora multiplique isso por três.

Uma das coisas que mais me deixavam de cabelo em pé era com certeza a parte financeira. Por mais que Jesy me ajudasse com dinheiro nunca era suficiente. Além dos gastos mensais da casa; energia, água, condomínio, comida, tinham os gastos com as crianças; roupas, leite, fraldas, medicamentos, eu já falei fraldas? A quantia que o pai das crianças julgava necessário para passarem o mês não dava para metade dele.  Mas só me liguei na dimensão do meu problema quando o leite faltou para meus filhos. Tive que me virar, sai à procura de um emprego, e encontrei um de atendente de farmácia, não pensei duas vezes em aceitá-lo. Confesso que não era o emprego dos sonhos, e que se eu não tivesse realmente necessitada não estaria nele ainda. Lidar com pessoas não é fácil, da mesma forma que existem pessoas simpáticas e educadas, existem as mal educadas e grossas que não desejam nem um bom dia.

Tive que colocar as crianças em uma creche de período integral, exceto pelo meu menor, Ben, que ainda não tinha a idade permitida para frequentar o berçário. Jesy ficava com ele, enquanto eu trabalhava.

Após o expediente fui para casa direto ao ler a mensagem de Jesy falando que Ben estava febril, ela se encarregou de buscar Olivia e Louise na creche. Depois de dar algumas gotinhas de um antitérmico para Ben sentei para amamenta-lo e não muito tempo depois a porta foi aberta por Jesy que carregava Louise nos braços e Olivia vinha logo atrás com um bico nos lábios.

- O que foi Olivia? – Perguntei ao ver ela emburrada no canto.

- A tia disse que ela mordeu dois coleguinhas hoje na escolinha, dois!

Arregalei os olhos, Olivia nunca tinha dado trabalho na escola, nem em casa.

- Olivia, por que você mordeu o coleguinha?

- Feia! – Mostrou a língua pra mim.

- OLIVIA! – chamei atenção brava, ela cruzou os braços e me olhava em fúria -  Vem aqui, Olivia. – chamei-a, Ben ainda mamava, não tinha como eu levantar e ir até ela. Jesy saiu com Louise para a cozinha.

- Chata – Fez bico de choro e não se movia, nem tirou a mochila das costas. Franzi o cenho ao vê-la fazendo malcriação, tirei Ben do peito e coloquei-o no carrinho e fui até ela.

- Não pode fazer malcriação, Olivia. Vai ficar pensando no cantinho por esse motivo.

- Não. – Gritou se afastando.

- Vai sim! Vai ficar porque fez malcriação para mamãe e porque mordeu o coleguinha.

Fui até ela que começou a se debater contra a ir para o cantinho do pensamento. Com dificuldade tirei a mochila de suas costas e levei-a até o cantinho forçando-a se sentar.

- Não qué mamãe, não qué! – Se debatia querendo levantar.

Jesy olhava para a cena encostada no batente da porta da cozinha que era divisa com a sala. Ben se remexia no carrinho, provavelmente tinha acordado com o choro de Olivia. Louise sentada no cadeirote tomava a mamadeira que Jesy havia dado a ela.

- Jesy, não dificulte! – Aumentei o tom de voz enquanto ainda tentava fazê-la se sentar no cantinho. Eu a colocava sentada e ela levantava soluçando de tanto chorar. – Vai ficar aqui no canto nem que eu tenha que ficar te segurando.

- Jesyyyy – Começou a chamar por Jesy estendendo os braços para Jesy pegá-la. – Tii – fez biquinho em meio ao choro. Forçou-se a levantar, segurei-a mais forte impedindo que ela se movesse. Ela ainda tentou se livrar do meu aperto, mas viu que não conseguia e acabou se rendendo.  

Pequena Consequência | Jerrie Onde histórias criam vida. Descubra agora