Capítulo Sete

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Sai atordoada de volta pra cozinha, em poucos minutos ele me leva a sentir sensações que jamais experimentei, tenho que ter cuidado, ele não pode conseguir nada além da minha inteira gratidão por ter nos ajudado, pelo menos é isso o que tenho em mente.

- Ceci, cadê o titio?

- Não sei meu raio de sol, mas vamos terminar o café e depois tomar um banho alguém tem que ir pra escolinha.

- Selá que a gente podia i vê o malado? To com saudades dele.

- Vou ficar te devendo isso meu anjinho, mas logo logo a gente consegue ta bom? - Sorri, o nervosismo já havia ido embora, terminei as panquecas servindo para ela que já estava na mesa, sorridente.

- Nem me esperaram pro café. - Gustavo apareceu em nossa frente, um cheiro másculo e forte adentrou junto com ele, queria não reparar, mas Deus o que é isso? Obrigada pela ajuda, mas ele poderia ser só um pouco mais feio? Estava trajando um terno impecavelmente alinhado que torneava ainda mais seus músculos, uma gravata cor de vinho combinava com a armação dos seus óculos de sol que agora repousava em cima da mesa, Cristo isso é pecado, mas eu não sou cega.

- Pode fechar a boca Cecília, estou vendo.

- Não estou olhando nada, apenas reparei. - Parei pensando em algo, mas em vão. Tudo estava alinhado, nada fora do lugar nesse homem.

- Vou fingir que não te afeto. - Sorri. - E essa pequena mocinha vai pra aula hoje?

- Quelia.

- Por falar nisso queria falar com você Cecília, pois Ceci é só para os íntimos e nós não somos íntimos. - Sorriu me encarando.

- Certo senhor Gustavo palhaço o que deseja? - Falei colocando a mão sobre a cintura, odeio ser desafiada.

- Por favor tire o senhor me deixa velho e isso eu tenho certeza que não sou, estava pensando, ambos precisamos de serviços.

- Não estou entendendo onde quer chegar.

- Veja só, sente aqui. - Apontou a cadeira ao seu lado, Dulce estava alheia a nós, entretida com a calda da panqueca.

- Não me importo que você fique aqui com a menina, mas preciso de seus serviços.

- Não ouse dizer isso cretino, não vou fazer nada. - Levantou atordoada.

- Você é louca? - Me olhou. - Iria pedir pra você fazer os serviços de casa, poderia cozinhar, cuidar da menina, levar ela pra escola, não sei o tempo que ela passa fora, mas se desse você poderia até estudar é só colocar tudo cert... - Me interrompeu se jogando em meus braços num abraço desajeitado de agradecimento.- Calma, me levantou nos afastando, não somos íntimos lembra?

- Idiota. - Ela proferiu arrancando de mim uma risada.

- Vamos voltar ao que interessa, que horas a pequena vai pra escolinha e volta?

- Ela passa o dia inteiro lá, larga as 5.

- Ok, posso pegar ela todos os dias sem problemas, o Cristóvão vai amar. - Sorri vitorioso, havia arrumado uma cúmplice para me ajudar.

- Não vai colocar minha irmã em risco vai?

- Claro que não. - Respondi sério. - Você pode voltar a estudar no meio tempo que ela estiver na escola, acho que você ia gostar, fazer um curso, não sei.

- Como vou te pagar por isso? - Perguntei agradecida.

- Olha gosto de lasanha. - Gargalhei da cara dela. - Existem várias outras formas de agradecimento, mas vou deixar você escolher. - Falei vendo o rubor tomar conta de seu rosto.

- Idiota. - Conclui, ajudando minha irmã a se limpar.

- Quelia meus brinquedos. - Dulce sussurrou pra que a irmã ouvisse.

- Meu raio de sol, não dá mais pra pegar meu amor, a casa da gente não existe mais.

- Vamos pra escola pequena? Te deixo lá. - Mudei de assunto, a Cecilia parecia perdida, apenas concordou vendo a irmã sair de mãos dadas comigo pela porta.

- Mentira? Babá? Isso é demais para mim- Cristóvão o ridículo já nos esperava.

- Cala a boca idiota.

- Titio? - Dulce puxou minha calça.

- Oi princesa. - Falei olhando pra ela enquanto o cara que chamei de amigo sorria da gente.

- Esse calão glande é seu? - Ela sorriu olhando feliz pro meu carro, a felicidade em pequenas coisas.

- É sim, quer andar nele? - Perguntei vendo ela pular alegre e depois fazer uma careta. - Que foi Dulce? - Perguntei baixando ao seu lado.

- Aqui dói. - Ela fez uma careta, estava vestida com o uniforme e a bolsinha pequena nas costas, ao puxar a saia do mesmo pude ver bolhas a se formar onde ficava o apoio da prótese que ela tinha.

- Você quer tirar? - Perguntei sentindo a dor invadir meu ser.

- As meninas lá da escolinha vão ri de mim. - Falou com os olhinhos cheios de lágrimas, Cristóvão agora tinha uma mão em meu ombro ao perceber que aquilo tinha me acertado em cheio.

- Elas tem duas perninhas tio.

- E você também meu amor, mas se quiser tirar, não vou deixar ninguém rir de você, pode confiar em mim.

- Eu aguento. - Disse forte.

- Tudo bem então, vamos andar de carro. - Tentei sorrir pra ela que já tinha um grande sorriso no rosto, ela cantava alguma música que tocava na rádio enquanto Cristóvão e eu permanecíamos calados, ajudei ela a descer na escola, pegando em sua mão e fazendo questão de deixar ela na porta da sua sala.- Volto mais tarde ta baixinha?- Ela concordou enquanto eu depositava um beijo na sua cabeça antes de ver ela correr alegre abraçando a professora.
Voltei pensativo pro carro, Cristóvão já havia desligado o som.

- Cara o que foi aquilo?

- Eu não sei, mas ela é mais forte do que aparenta, mas vou resolver isso ainda hoje, mas não comenta nada com ela, quero fazer uma surpresa, principalmente para a Cecília.

Na Escuridão dos Seus Olhos Azuis Onde histórias criam vida. Descubra agora