- Uma verdadeira princesa. - Gustavo disse galante, pegando minha mão e beijando o dorço. - Me daria a honra de um jantar senhorita?
- Diz que sim Ceci, diz que sim. - A pequena Dulce batia palmas sentada no chão da sala.
- O convite é pra mim, pequena. - Sorri beijando sua cabeça. - Mas pode responder por mim. - Sussurei em seu ouvido.
- Ela disse sim. - Gritou batendo ainda mais as mãos.
- Obrigada pela ajuda princesa. - Gustavo piscou pra Dulce, que mandou um sinal de joinha pra ele.
- Vamos Cecília? - Ela assentiu e sorriu.
- Dulce promete pra mim que vai se comportar e vai obedecer a tia Estefânia?
- Pode confia em eu maninha. Plometo que julo.
- Vão tranquilos meus amores, que eu e essa pequena aqui vamos nos divertir muito.
Cecília foi dar um beijo em sua pequena e assim Estefânia aproveitou para cochichar no ouvido de Gustavo.
- Não faça nenhuma burrada primo, vai com calma e torne tudo muito especial pra ela. Confio em você.
- Pode deixar, obrigado pela ajuda. - Ele sorriu e a abraçou.
Esperei na porta Cecília se despedir de Dulce recomendando mil coisas a pequena que assentia, descemos para o carro, abri a porta do mesmo para que ela entrasse olhando a paisagem pela janela do carro enquanto avançavamos pela cidade.
- O que você tanto pensa? - Perguntei olhando para ela.
- Em como a vida muda. - Sorriu triste. - Tenho saudades da vida que levava, não estou sendo ingrata com você, não pense isso, mas sinto que invadi seu espaço.
- Eu permiti isso.
- Na verdade eu venho invadindo as coisas desde que a Dulce nasceu.
- Não queria entrar nesse assunto temos várias feridas, mas o que aconteceu pra você ficar sozinha por aqui?
- Quando minha mãe engravidou da Dulce, ela teve sérias complicações, o que tornou uma gravidez de risco. E mesmo seguindo as orientações do médico, minha mãe não podia ter mais filhos e quando a Dulce nasceu, ela não aguentou e faleceu no parto.
- Desde então você que cuida dela?
- Sim, o que me fez amadurecer muito rápido. O meu pai rejeitou minha irmã e a culpou pela morte da minha mãe e eu jamais rejeitaria ela, era um bebêzinho tão pequeno e indefeso e mesmo eu sendo tão nova tive que assumir essa responsabilidade de virar uma quase mãe pra Dulce.
- Então ela nasceu perfeita?- Temendo a resposta.
- Sim. - Sussurrei.
- Não tive como fugir com ela ainda bebê então tive que aguentar muitas surras por ela, não ia pra escola, vivia 24 horas por ela, apenas um bebê. - Sorri. - Estava brincando perto da porta, além de fazer os deveres de casa eu tomava conta dela, não ia imaginar que ele seria capaz disso, enquanto engatinhava pela sala ele aproveitou que não estava olhando e fechou a porta na perna dela. - Chorei lembrando. - Eu não pude fazer nada, os médicos disseram que não conseguiriam salvar a perninha.
- Meu Deus, não sei o que dizer. - Falou um tanto frustado.
- Pois é, chocante saber que um pai fez isso com a própria filha. Desde aquele dia decidi a mim mesma que não poderíamos viver juntos, então resolvi fugir e levei a Dulce junto comigo e fomos só eu e ela a partir daquele momento.
- Não denunciou?
- Não tive coragem.
- Como não teve? Ele foi um monstro não pensou em vocês como filhas, não deveria ter piedade.
- Não sou monstro como ele, consegui mostrar que era superior quando sai daquela casa, com a roupa do couro e uma menina pequena, sem nada, passamos frio Gustavo e até fome, as vezes passavam e nos ajudavam, muitos nos ignoravam e você não pode imaginar como isso doía mas, apesar de tudo, eu agradeço a Deus por ter me dado forças pra cuidar e continuar cuidando da minha irmã.
- Cecília, você é uma pessoa muito forte. Acho que não aguentaria ter passado por tudo que você passou, apesar que não tive sorte com o homem que também se dizia meu pai.- Falou estancionando o carro ao lado de um restaurante.
- Se quiser conversar sobre isso.
- Quem sabe depois de umas duas taças de vinho tudo num flua não é mesmo? - Sorriu, mas seus olhos verdes não tinham um brilho e sim apenas dor.
- Não precisa contar se não quiser também, afinal.. - Me interrompeu.
- Afinal você já é da família e tem que saber. - Sorriu abrindo a porta pra mim. - Primeiro a gente janta, depois tenho uma coisa pra te mostrar.
- Mais surpresas?
- A noite está apenas começando minha cara Cecília.
- Acho que antes dela começar você quer me matar de curiosidade.
- Matar não seria a palavra certa pra usar. - Sorriu. - Vamos? - Estendeu-lhe a mão para a mesma, e mesmo com vergonha, Cecília a segurou e os dois adentraram no restaurante.
- Muito chique isso aqui, como vou me portar?
- Você se importa demais com os outros a sua volta e esquece de você.
- Mas olhe só.
- São meras pessoas, muitas delas pensam no dinheiro e idolatram o mesmo como eu fazia até você aparecer, mas o que importa se não sabemos viver bem? Se não temos um motivo para isso. Somente ignore todas essas pessoas em sua volta, e pense que só estamos eu você.
- Tudo bem, acho que consigo. - Nos sentamos em uma das mesas reservadas e logo o garçom trouxe o cardápio para nós.
- Quanta coisa diferente, tem nome de pratos que nem consigo pronunciar direito. - Ela riu.
- Você poderia escolher pra mim, se eu pedir algo que não goste?
- Calma, então deixa eu pedir, acho que você vai gostar, um suflê de batatas grelhado para nós dois e um vinho branco.
- Eu vou tentar comer sem fazer careta. - Falei quando o garçom já tinha saído.
- Pode se preparar pra sobremesa é divina.
- Olha lá, estou confiando em você.
- Pode confiar, você não vai se arrepender. - Sorri.- Fiquei feliz por você ter aceitado sair comigo.
- Eu aceitaria sair com qualquer amigo. - Não tinha sentindo o peso das minhas palavras até elas saírem e eu ver o olhar de desprezo que o Gustavo lançou para mim. - Eu não quis dizer isso, eu.. - Me interrompeu.
- Tudo bem Cecília, não somos íntimos esqueceu? - Perguntou olhando algo atrás de mim, não querendo me encarar.
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Na Escuridão dos Seus Olhos Azuis
De TodoMe pego pensando como a vida pode ser injusta na maioria das vezes, a alegria não é algo que eu acredite e nem tão pouco viva. No auge dos meus 21 anos só tenho me erguido todos os dias por causa da minha doce irmãzinha, inocente e pequena demais p...