Capítulo 4 - O Desenhista

145 19 2
                                    

22/03/2018
23:34

Meus braços tremiam de frio. A cadeira da qual eu estava sentada era de madeira e uma das suas "pernas" era menor que as outras, a deixando bamba. À minha frente, o policial do plantão parecia estar com dificuldades de manejar o computador, forçando a visão para ver melhor o monitor e digitando lentamente, fazendo pausas para procurar as letras no teclado.

- Bom, senhorita Jiwoo - começou o policial, organizando algumas papeladas que estavam jogadas em cima da mesa e me olhou. Parecia ter em torno dos 40 anos, com olhos azuis estritamente cansados, provavelmente devido a um tempo prolongado sem descanso; seu rosto era redondo, e um bigode grisalho (da mesma cor de alguns fios soltos do alto de sua cabeça, que eram visíveis por baixo do quepe) ficava acima de uma boca já sem sorriso. - Meu nome é policial Alvin, e eu gostaria de fazer algumas perguntas a você sobre a morte de James Britski Junior.

Era estranho, pelo menos para mim, descobrir o nome completo do funcionário James. Parecia que eu adquiria um grau a mais de proximidade.

Eu confesso que as lágrimas que escorreram dos meus olhos quando eu vi seu cadáver eram provenientes do choque. Não acredito que elas tenham vindo decorrente ao fato de eu já ter falado com ele em momentos aleatórios. Eu mal sabia o seu sobrenome.

E como se tivesse sido um gatilho, descobrir o nome completo de James fez despertar outras perguntas em minha cabeça, tais como "Será que ele sentiu dor", "Será que ele tem uma família para chorar pela sua perda?", "Será se ele era feliz enquanto vivo?". Eu me senti mal por perceber que me importei tão pouco com ele em vida, e a mesma coisa após ter morrido.

- Tudo bem. - respondi, com a boca seca. O gabinete do policial Alvin era pequeno e contendo poucos móveis de escritório. Uma janela de vidro de três metros a partir do teto era presente em três das quatro paredes da sala, sendo possível ver o exterior, onde mostrava uma enorme sala de recepção, bastante movimentada tanto por policiais quanto por pessoas detidas, em parte em pé encostados na parede, em parte sentados em cadeiras de ferro velhas.

- Então... Vamos começar do momento em que você acionou a polícia, alegando um corpo morto em um mini-mercado perto de sua casa até o momento em que chegou aqui na delegacia. - ele disse isto enquanto lia o conteúdo de um dos papéis que estavam acima de sua mesa. Provavelmente um breve relato do que eu dissera no telefonema.

Mesmo tendo acontecido há pouco menos de quatro horas, as coisas haviam ocorrido tão rapidamente que muitas delas ainda estavam em processamento. Como uma espécie de lapso, eu lembrei vagamente de chegar no meu apartamento, abrir a porta com um estrondo e correr na direção do meu celular, que ficara na sala por ainda estar carregando. Lembrei de meus dedos tremendo enquanto tentavam digitar os números, e da voz rouca que saiu da boca quando eu ouvi a secretária, do outro lado da linha.

- O que o senhor quer saber? - a saída do ar-condicionado, eu percebi, estava na minha direção. O uniforme, levemente molhado de suor, estava começando a esfriar. E eu conseguia sentir a tosse começando a se formar na minha garganta.

- Somente algumas coisas que achamos que ficaram pendentes no seu relato - ele abriu uma gaveta que estava longe do meu campo de visão e tirou de lá uma aparelho cinza. - Mas antes, gostaria de pedir sua permissão para gravar a nossa conversa.

Acenei com a cabeça, fungando e começando a sentir sono.

O policial Alvin apertou um dos botões do aparelho, que emitiu um bipe e acendeu uma das luzes de sua lateral.

- Senhorita Jiwoo, poderia me dizer o quanto você conhecia James?

- Não muito... - mesmo tendo um tumulto lá fora, dentro do escritório estava relativamente silencioso. - Eu geralmente fazia minhas compras lá nos Peg's Food. Era os únicos momentos em que eu me encontrava com ele.

Anjo da Noite (A BTS: Jungkook Story)Onde histórias criam vida. Descubra agora