—VITÓRIA!
Ouvi Ana gritar mais uma vez por mim, mas não havia nada que ela pudesse dizer ou fazer para me convencer a ficar. Peguei minhas roupas que estavam no banheiro e saí para procurar pelo resto das minhas coisas. Ana estava parada no corredor, com uma expressão de impaciência no rosto, como se eu fosse uma criança mimada que acabara de fazer pirraça.
—Tu nem deixou eu falar Vitória.
— E nem vou deixar. Eu não vou perder a minha peça que eu passei tanto tempo trabalhando, fazendo de tudo para ficar perfeita, por conta de qualquer merda que tu tenha feito.
Passo por ela rapidamente, descendo as escadas aos saltos. Ouço ela me chamar e descer atrás de mim, mas ignoro e sigo até a cozinha. Só quero dar o fora daqui o mais rápido possível, porque uma parte de mim, uma pequena e insuportável parte, sabe que se eu a escutar vou acabar ficando. E já que eu não entendo o motivo pelo qual eu ando parecendo querer jogar tudo para o espaço só por causa de algumas palavras de Ana, é melhor manter o máximo possível de distância dela, e fingir não ouvir o que quer que a morena diga.
—Vitória! Será que dá pra você parar e vir conversar comigo?
— Tem nada pra conversar não. Eu não vou ficar e ponto.
Pego as minhas sacolas e procuro na bancada pelas chaves do Uno. Onde será que Ana as enfiou? Olho na mesa, no chão e até mesmo na pia, mas não obtenho sucesso.
—Procurando por isso?— ela está parada na porta, balançando as chaves na minha direção, com a sobrancelha erguida—Vem pegar.
Ela se vira na direção da sala e saí correndo. Fico um tempo parada, com a boca aberta, tentando entender que porra está acontecendo. Ana Clara consegue ser ainda mais infantil do que eu achava, inventando uma brincadeira estúpida de pega-pega só para me irritar.
E a filha da puta conseguiu.
—ANA ME DEVOLVE ISSO!
—Terá que me alcançar primeiro!
Começo a correr na direção que ela foi e a vejo subindo as escadas. Vou pulando os degraus de dois em dois, possessa com Ana Clara. Ela chega ao corredor e olha pra trás, rindo da minha cara. Vira à esquerda quando eu chego no penúltimo degrau.
Vejo que ela entrou no primeiro quarto e vou na mesma direção. Ela está parada do outro lado da cama, com os braços cruzados e um sorriso vitorioso nos lábios. Avanço por um lado mas ela corre pelo outro.
—Não seria mais fácil se você largasse de teimosia e conversasse comigo?
A morena está me encarando, ainda sorrindo. Não a respondo, mas subo na cama e a agarro antes que consiga fugir. Caímos no colchão, e eu consigo tirar as chaves do seu bolso. Quase dou um grito de comemoração, mas então Ana me pega de surpresa. Ela usa o seu corpo para me girar e ficar sobre mim. Segura meus pulsos em cima da minha cabeça e eu não consigo me mexer.
Mantenho minha visão fixa naqueles olhos escuros, num misto de raiva e curiosidade.
Suas sobrancelhas se erguem e ela sorri. Seu rosto está tão perto do meu que posso sentir sua respiração. E eu até poderia me soltar se quisesse, mas estou em choque demais para pensar em qualquer coisa além de que ela está sentada na minha barriga.Eu nem percebo quando ela retira as chaves da minha mão e sai do quarto em disparada, dando gargalhadas. Digo um palavrão e vou atrás dela. A encontro na cozinha, parada do outro lado da mesa.
—Bom, agora que tenho sua atenção...—ela usa uma de suas mãos para jogar o cabelo para trás. Meus olhos acompanham esse ato com tanta atenção que tenho vontade de bater em mim mesma. —A sua amiga disse que a peça foi adiada. E ainda não tem uma data certa para acontecer.
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Encurraladas
FanfictionO que parecia ser o pior pesadelo de Vitória pode se tornar um grande amor.