Capítulo 5

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- O quê?-eu disse sussurrando, embora o que desejava mesmo era gritar, porque minha mente não era nem um pouco capaz de acreditar no que Ana acabara de dizer.

Como assim um corpo? Ela me disse que não havia matado ninguém, e por mais que eu tenha brincado com isso, nunca tinha chegado perto de acreditar de verdade que a morena pudesse cometer um assassinato.

Eu estava tão assustada com a sua confissão, que apenas me abaixei ao seu lado, sentindo meu corpo inteiro tremer e um zumbido forte percorrer meus ouvidos. Não sei por quanto tempo fiquei observando a polícia passar devagar pela rua até que eu me libertasse do meu torpor com aquele som irritante. 

O som da risada de Ana Clara.

-Você tinha que ver sua cara. Sério.-ela gargalhava,dobrando o corpo pra frente enquanto se levantava, e eu a olhava sem entender nada-Tu realmente acreditou nisso?

Ela continuou rindo até que seus olhos se enchessem de lágrimas, mas eu não estava achando a menor graça. Me levantando e respirando o mais devagar que podia, para que eu não acabasse batendo naquela maluca.

-Isso não é brincadeira que se faça.

-Desculpa, eu não resisti-ela ainda tentava conter o riso, o que só me deixou mais irritada ainda, esquentando o meu rosto só de olhar para a cara dela.-Tu é muito ingênua Vi.

-Eu vou te matar- consegui dizer já indo na direção da mais baixa. Odiava que as brincadeiras e provocações estúpidas e infantis dela me deixassem brava, mas era exatamente isso que me causavam.

Ana desviou de mim e, ainda rindo, saiu correndo rua abaixo. Ótimo. De novo uma perseguição.

Fui atrás dela, com várias pessoas olhando para  nós da calçada, como se fossemos duas doidas. Alguns olhavam preocupados, vendo se não estávamos fugindo de algo ou de alguém.

E eu apenas corria, tentando alcançar a morena com os cabelos balançando ao vento, dando olhadas por cima do ombro para verificar se eu continuava em seu encalço.

Apertei o passo quando chegamos em uma rua estreita, com várias árvores de ambos os lados, formando uma espécie de túnel que deixava o lugar bastante acolhedor e fresco.

Minhas pernas já doíam pela corrida, mas eu me recusava a parar. Ana passou o trajeto inteiro rindo, o que servia de combustível para que eu continuasse.

Queria tirar aquele sorrisinho da sua cara.

Ainda que aquilo tudo não fizesse o menor sentido, e eu sinceramente não entendesse a sua resistência em me contar o que de fato havia acontecido na escola. Porém, também não queria deixar barato os sustos que Ana me dava sempre que podia.

Ela continuou a correr, até que passou por um grupo de crianças que brincavam e no impulso, eu gritei para que a segurassem. Assim eles fizeram, e mesmo que a situação fosse inusitada, Ana continuava rindo enquanto duas meninas a seguravam de um lado e um menino do outro.

Me aproximei lentamente, e a raiva até parecia estar se esvaindo do meu corpo com aquela cena totalmente cômica. Estava me convencendo de que tudo de mais esquisito no mundo aconteceria enquanto eu estivesse com aquela morena.

-Sem violência Vivi, olha o mau exemplo.-ela me observava com aqueles grandes olhos negros brilhando. Do jeito como estava, o cabelo bagunçado e ofegante, poderia facilmente ser confundida por uma daquelas crianças.

-Não escuta ela não! Pode dar uma surra na Ninha que a gente deixa!-uma das meninas disse, sacudindo o braço de Ana Clara.

Então eles a conheciam.

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