PREFÁCIO

110 2 0
                                    

Por Tammy Rosas, do blog Circo Literário.


Por vezes, quando pensamos sobre a morte, a colocamos em um lugar triste, isolado, escuro, de dor e medo. Creio que isso se deve muito mais à nossa apreensão do desconhecido do que pelo fato de deixarmos "este plano", ou "perdermos" pessoas queridas. Tratamos de personificar a Morte como um ser macabro, sempre a espreita, uma inimiga invisível que tentamos combater a todo custo, como se ao evitarmos falar e pensar sobre, ela não nos alcançará. O que não percebemos é que estamos em uma corrida apenas conosco e com Tempo.

E, na verdade, não há problema nenhum em temer a morte, instinto natural talvez. Mas existem outros meios de transformar a noite em dia além do nascer do sol, ainda mais quando essa noite é interna. Pra mim, essa noite se chama saudade & memórias. Como trabalhá-las e aceitá-las sem dor? Nossa vida é feita de retalhos, de fragmentos de tempo que nos agarramos tão piamente com a ansiedade do amanhã. É tão comum ouvir "o tempo cura tudo", mas será mesmo? Talvez a saudade e as memórias curem tudo. Quando penso no tempo, no futuro, logo penso em quando morrerei, é inevitável, mas as saudades do ontem e as memórias que fiz hoje me acalentam... Assim como as palavras desses contos que aqui apresento. Posso, com total firmeza, lhes afirmar que gostaria de lê-los em meus momentos finais. São contos breves, mas que me transformaram depois de cada ponto final. Ironicamente me mostraram que mesmo no último ponto final (perdão a redundância) nunca será realmente... um ponto final.

A literatura, dando ênfase aqui a escrita e sensibilidade de Jan, tem a capacidade de nos confortar e nos mostrar que nem tudo é dor e preto e branco quando falamos sobre fim de vidas, ou de ciclos. Quando penso nos escritos de Jan, no que foi idealizado e objetivado por ele, sempre acredito que não poderia me surpreender mais, que não poderia mais sentir com tanta intensidade as palavras de modo a fazer o coração pulsar de um jeito peculiar. Ele me conta histórias de uma maneira diferente, próprias de sua ligação com a natureza, acredito. E aqui faço um pedido ao autor: nunca deixe de me surpreender, por favor.

Com "A valsa do meio-dia" entendi a morte como um tipo de arte. Pude de fato transformar o preto e as nuances de cinza que sempre carreguei sobre ela nos girassóis de Van Gogh, que também relatam uma história triste, mas em cores, carregando assim a possibilidade de sentimentos bons. Por meio das palavras de Jan, fui capaz de perceber que mesmo no fim ainda existirá a arte da vida.

"Franca" me tocou de outra maneira... De uma maneira mais terrena. O conto faz a gente refletir com cuidado sobre como estamos levando nosso curto tempo neste plano. E até me fez acreditar que talvez exista sim outro plano e o tal do amor genuíno, vocês creem?! Criamos elos poderosos aqui, mas não basta isso, temos que entender que esses elos precisam ser alimentados mesmo depois que a matéria se vai, talvez possamos ser cobrados quando chegar nossa hora, não é mesmo?

O último conto, "A vontade de sábado", me arrancou lágrimas como uma criança. Tratei de correr para os braços de minha mãe quando acabei de ler. Em partes ainda pelo medo da morte, mas em um sentimento maior de gratidão e de certeza que o Jan é capaz de transpor em palavras o que todos sentimos e que através dos contos aqui presentes posso encarar meu medo de maneira diferente. Nunca estaremos sozinhos, neste plano ou em outro.

O brinde de Todos os SantosWhere stories live. Discover now