AS LUZES da casa haviam iniciado um anormal cintilar e uma torrente chuvosa fuzilava o vidro das portas da varanda, produzindo um som que se assemelhavam a tiros.
“Se aquele moleque estiver pregando uma peça em mim ele vai se ver comigo.”, pensou tolamente a jovem.
"Harry! Harry isso não tem graça!", Vociferou a órfã, mas não houve resposta, as luzes se apagaram subitamente devolvendo-a para o breu anterior.
Assustada, a jovem castanha olhou ao redor, mas não havia sinal do garoto de loiras madeixas, um nó formou-se em sua garganta e uma pungente insegurança alojou-se em seu peito.
Uma brisa anormalmente gélida tocava a pele alva da castanha. Ela respirava dificultosamente, enquanto seus orbes castanhos observavam seu hálito condensar-se em uma pequena névoa esfumada. Unindo as sobrancelhas, Aurora reparou na silhueta pálida contra a escuridão que a rodeava, a coruja a encarava intensamente pousada no resguardo. Notar aquilo a fez estremecer ligeiramente.
Vagarosamente, Aurora caminhou até a beira da cama onde outrora estivera seu irmão. Bruscamente, algo se moveu sob os lençóis e um ruído tenebroso ecoou pelo quarto em meio às batidas ritmadas da chuva no vidro. Levando a mão trêmula ao lençol enroscado, Aurora agarrou-o, puxou-o e soltou-o no chão rapidamente. Seus orbes se arregalaram para o vazio sobre o colchão, pois jurava que havia visto algo se mover.
A coruja a encarava com os olhos sombrios tão profundamente que a jovem era capaz de senti-los queimar em suas costas. Abruptamente, uma forte ventania escancarou as portas de vidro com tanta violência que a vidraça estilhaçou-se em uma chuva cintilante de fragmentos.
Aurora virou-se para a fonte de seu assombro. Uma rajada álgida de ar assolou seu corpo e instintivamente a jovem ergueu os antebraços na altura do rosto para proteger-se dos estilhaços que a ventania levava a atingi-la. Em meio à confusão de seus sentidos, Aurora observou uma sombra disforme metamorfosear-se na figura alta e esguia do que parecia ser um homem.
Recuando, a jovem sentia as lufadas de ar retrocederem, enquanto cuidadosamente retirava os braços da frente do rosto. Ao levantar o olhar desencorajado, Aurora avistou uma figura que — para dizer o mínimo — era pouco comum.
A sua frente estava um homem pouco mais alto que ela, seus cabelos loiros eram estranhamente repicados e longos, curiosamente alguns fios possuíam um tom azulado ou verde. Mas, o que mais chamara a atenção da jovem, — além das pesadas roupas de couro que aparentavam ser algum tipo de traje real —, eram os curiosos olhos azuis que adornavam o rosto angular, junto às excêntricas sobrancelhas pontiagudas.
Apesar do negrume que os envolvia, um estilhaço de vidro refletia as luzes advindas da rua nos olhos dardejantes do homem, esse fato a fez notar uma peculiaridade em tais olhos. A pupila esquerda do homem loiro parecia dilata, mas de alguma forma parecia completamente adversa à pupila direita que, por conta da luz, estava contraída.
"Quem é você?", Indagou a jovem, dando alguns passos para trás em recuo.
Com a respiração ofegante, ela estava muito assustada e percebera uma aura medonha emanando dele.
"Ora, Aurora, sabe muito bem quem sou.", Proferiu, sua voz era calma e forte, aveludada.
Solenemente ele ajeitou a luva de couro preta em sua mão direita.
"Você é Jareth, o rei dos Goblins, não é?", Ele riu, um sorriso bizarramente largo como o do gato da Alice.
A órfã Alford sentia-se impelida a dar aquela resposta, quase como se não controlasse as próprias ações.
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The Magic Of Time [Em Rescrita]
FantasyAurora sempre foi uma jovem solitária e imaginativa, sempre lendo sobre reinos longínquos, criaturas fantásticas e reis cruéis e sem coração. Após uma discussão com Harry, seu irmão caçula a jovem pede aos Goblins; criaturas mágicas que sequestram...